fracassos

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sábado, 3 de janeiro de 2009

MOCHILEIRO FRACASSADO

o MERDA, aos 32 anos, conhecendo o mundo do morro mais alto da sua cidade ( Barra do Piraí- RJ)

A tecnologia às vezes nos traz grandes decepções. As vantagens, não vou enumerá-las, pois já estamos carecas de saber. Aliás, falando em carecas, até hoje não inventaram uma tecnologia eficaz que Resolvesse o problema da cavície, né? Mas, voltando às vacas frias ( nunca entendi o porquê desse termo!), minha grande decepção tecnológica vem do tal “mundo virtual”. Mundo esse que não podemos apalpá-lo, mas sabemos que está lá, nesse universo paralelo chamado Internet. E o meu mundo veio abaixo justamente pelo fato desse mundo ( o virtual) tê-lo desmascarado ( o meu mundo).

Tentarei explicar.

O tal mundo virtual, como eu já disse, obviamente sabemos que não é palpável. Por enquanto, a internet não tem cheiro, não tem gosto e comparada ao mundo real, não tem graça nenhuma. Justamente porque não é real. E o mundo real é real porque é real.

“Porque é real? Como assim? Que porra de explicação tosca é essa? É porque é? É só isso?” Você me pergunta.

Aí é que tá o “x” da questão, e a explicação pra minha insatisfação.

Nas aulas de geografia, lá pelos meus quatorze, quinze anos, eu aprendi que a Torre Eiffel ficava em paris, que as Cataratas no Niágara ficavam localizadas no Rio Niágara, no Leste da América do Norte, entre os lagos Erie e Ontário, na fronteira entre o estado americano de Nova Iorque e da província canadense de Ontário ( decorei essa porra toda até hoje). Aprendi que a Muralha da China tava lá, na China é lógico, desde 220 a.C. Entre outras coisas. Usando um lugar comum, nessas aulas eu viajava muito além das fronteiras da minha imaginação.

Mas eu, nessa idade, me intrigava com várias coisas e, entre elas , as aulas de Geografia e História ( ver ESTUDANTE FRACASSADO) eram as que mais parafuseavam minha pequena cabeça ( nem tão pequena assim: ver CABEÇÃO FRACASSADO) . Eu sabia que Colombo havia provado que o mundo era redondo, que a terra era real. Já tinha visto naquele atlas verdão do MEC ( alguém lembra?) os continentes, seus países e cidades e decorado os nomes das principais capitais. Tinha visto fotos na National Geografic, filmes, documentários que retratavam pessoas, lugares, monumentos milenares, enfim que o mundo realmente existia.

Existia? Eu me indagava.

Aí é que entravam as minhas dúvidas: Por que eu deveria acreditar que o mundo realmente existia se eu não o tinha visto pessoalmente? Eu nunca havia apalpado a Torre de Piza pra ter certeza de que ele realmente existia. Eu nunca tinha pisado no solo na Praça da Paz Celestial . Por que eu deveria acreditar que isso tudo realmente existia? Existia porque existia? Porque eu tinha National Geografic e Atlas verdão do MEC pra provar? Divagava minha pequena-grande cabeça atormentada.

Hoje vejo que o maldito Atlas do MEC representava pra mim o que a fogueira representava para Platão e seus habitantes da caverna ( pode-se perceber nessa frase que acabei de escrever, que a minha mania de filosofar cresceu proporcionalmente ao tamanho do cabeção).

O mundo real pra mim não podia ser virtual, tinha que ser palpável, olfativo, degustativo, pisável, auditivo, visual, realmente visual.

Então, eu determinara nessa idade que quanto mais longe eu distanciasse do meu mundo, mais perto eu chegaria do mundo real. Mas como eu faria isso? Como eu iria constatar a realidade de cada milímetro da terra, se eu não tinha dinheiro nem pra pegar um ônibus pra andar vinte quilômetros de distância da minha casa? Como é que eu iria pessoalmente na, então, União Soviética ver se o tal Kremlin de Moscovo tava lá? Ou melhor: se a União soviética tava lá?

“Quando eu for adulto vou viajar o mundo inteiro! Vou ter dinheiro e vou virar mochileiro e atravessar a Europa de trem. Vou sim! Isso é fácil prum adulto!”

Enquanto esse dia não chegava, eu , aos quatorze anos, chegara a uma conclusão: enquanto eu não virasse adulto com grana pra dar a volta ao planeta, eu consideraria que meu mundo iria existir até que a minha vista alcançasse. Eu, assim, passei a subir no topo dos morros da minha cidade ( que é cercada deles) e determinei que o meu campo de visão seria a delimitação do meu mundo. Assim, eu cabeçudinho lá de cima do morro, via os outros morros e morros e via pequeninos os carros, as casas, as pessoas. As pessoas iguais as formigas, mas que não eram formigas, eram pessoas de verdade. E, lá em cima do morro, certa vez, quando eu tropecei num formigueiro de formigas cabeçudas, vi que o mundo das formigas era muito pequeno e pensei que quando as formigas subissem no morro das formigas iam pensar igual à mim, em relação às pessoas, quando olhassem os microorganismos, as bactérias, e, com isso eu percebi a insignificância das formigas e eu fiquei com medo porque eu pensei em mim. Formiga cabeçuda insignificante e eu semelhante na insignificância e na cabeça avantajada. E no meu mundo, eu torcia pra que eu crescesse logo e parasse de ficar pensando nessas coisas. E quando eu crescesse, eu poderia, enfim, como qualquer pessoa adulta normal, viajar pelo mundo e conhecê-lo.

E cresci.

E quis conhecer o mundo. Na verdade eu, aos 32 anos, já evoluíra bastante em relação ao cabeçudinho de 14: conhecia mais de 10 lugares no mundo. Todos no estado do Rio de Janeiro, perto de Barra do Piraí, a cidade onde moro. A profecia do cabeçudinho não se concretizou. Nunca tive nem uma porra de um centavo pra ir pra lugar nenhum. Sem grana, sem carteira de motorista, sem nunca ter viajado de avião. Meu conhecimento real do mundo não passava de um raio de 300 quilômetros de distância da minha cidade ( a mesma dos morros). Viagem internacional, só quando eu tinha ido até o Paraguai pra trazer muamba quando eu era camelô ( ver CONTRABANDISTA FRACASSADO) e aos estados circunvizinhos ao meu. Não havia passado de Guarapari e Juiz de Fora. Praia, só as do litoral fluminense. Avião, nem pensar. Só ônibus. E dureza. E decepção. Cabeção (crescera bastante, boné só tamanho GG ) latejando, continuava com as minhas elucubrações infantis.

Até que, em março de 2007 ( e ainda sem conhecer o mundo), curiosamente mexendo na Internet, descobri um site chamado Google Earth.

http://earth.google.com/intl/pt/


Fiquei intrigado. O quê seria isso?

Perplexidade!

O mundo já poderia ser assustadoramente visível. O mundo todo, metro a metro, à cores. Bastava digitar uma cidade qualquer e zzooooooooommmmmmm!, tava lá, eu de pertinho vendo, pra minha incredulidade, o virtual se tornando real. Ou o real se tornando virtual, sei lá. Podia ver o Kremilin, As Cataratas do Niágara, a Muralha da China...

Meus devaneios de menino desfizeram-se, meu coração partiu-se em pedaços ( parece até letra de samba...) , já não tinha graça subir no morro mais lato da minha cidade, até porque, eu vira, agora via Google Earth por satélite, pra minha decepção, que o tal morrão que eu sempre subia na infância nem era o maior morro da região, como eu pensava. Eu, na verdade, naquele momento, não via nada. Nesse momento eu estava me sentido uma formiga. Na verdade, uma bactéria. Eu sou uma bactéria inerte.

Um comentário:

o dr. A. Noel disse...

Porra, faltou relatar a excursão a pé até a cachoeira de Ipiabas, onde, a cada carro que passava, a gente fingia correr só pros caras pensarem que estávamos correndo 15 Km. No meio do caminho a brincadeira perdeu a graça, não tínhamos 1 centavo no bolso e, graças a Oxalá, rolou uma carona na volta depois de chegarmos à cachoeira no fim do dia já sem sol e com uma água fria pra caralho.