fracassos

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quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

REVEILLON FRACASSADO

Virada do ano de 1999 para 2000. Congestionamento monstro pra chegar em Copacabana. Gente se empurrando a pé no túnel engarrafado. 2 milhões de pessoas. 2 milhões de pessoas?! Gente pra caralho! Prum misantropo semi-hermitão isso é a imagem do inferno. E eu estava lá. O inferno são os outros ( 1.999.999). Calor, muvuca, barulho. Só com muita cerveja (quente pra cacete, por sinal!) pra tentar aturar essa merda. Inferno. No máximo uns cem banheiros químicos para atender essas 2 milhões de pessoas. Mijar na areia atrai instantanemante dezenas de viados manja-rola reguladores de manjuba. Trava o mijo na hora. Bixiga doendo. Dor de cabeça. Perna cansada.

“Mil passou, dois mil não passarás”.

Já pensou? Um mega-tsunami afogando aquela multidão ultra-feliz com uma felicidade forçadamente irritante. Uma catástrofe que, isso sim, me deixaria feliz.

"Ai de ti Copacabana! "

Um saco essa gente. “Um ano de dificuldades ano passou e o que virá será cheio de esperanças e oportunidades!”- eu ouvia. Putaquepariu! Se o reveillon fosse, por exemplo, no dia 17 de abril, dia 18 eu ficaria mais rico e cheio de oportunidades?

Obrigação de ser feliz, abraçar desconhecidos, beber cidra vagabunda, pular no mar. Bêbado pra caralho, pulei. Areia na cueca, água salgada ardendo mais na assadura das dobras das pernas do gordo mau humorado. “Quê que eu tô fazendo aqui??”. Atenção máxima no alto, pras fagulhas de bombas que falham dos idiotas soltando rojões e fogos o tempo inteiro. Tocha na cabeça da gente, queimadura de terceiro grau. Tem que ficar esperto. Tentativa de atenção redobrada quebrada pelo excesso de conhaque ( o dinheiro pra cerveja tava acabando). Caganeira decorrente do bolinho de camarão estragado comido às pressas numa barraquinha em frente ao Meridien.

2 milhões de pessoas é gente pra caralho! Pensei nisso e fiquei bolado: Porra, nas estatísticas sempre tem aquelas conclusões:

-a cada 10 mil pessoas, uma nasce com síndrome de down;
-a cada 2.000 mil nascimentos, um é de gêmeos univitelinos;
-a cada 500 mil nascimentos há, pelo menos, uma criança xipófaga;
-uma em cada 200 pessoas já traiu ou foi traído pelo(a) parceiro(a);
-um em cada 200 pessoas pode ser psicopata em potencial;

Pirei!

Porra, ali então, em Copacabana, no meio daquelas 2 MILHÕES DE PESSOAS havia, com certeza,segundo as estatísticas: 200 mongolóides, 200 pares de gêmeos; 4 xipófagos, 100.000 cornos e, consequentemente,100.000 adúlteras ( e cem mil ricardões, é claro!) e – sinistro – 10.000 psicopatas!

Bebi mais conhaque.

Assim, as 1.789.936 pessoas restantes dividem-se em bêbados chatos, viados incorporando pomba-gira, incovenientes jogando Cidra Cereser no meio da nossa cara, viados manja-vara esperando a rapaziada mijar na areia, trombadinhas roubando carteira, putas fedorentas, assaltantes à mão armada, jiu-jiteiros com pitbul sem focinheira, patricinhas em grupos, madames com poodles que são tratados com nome de gente, clubbers, metaleiros vomitando no nosso pé, skin heads putaços da silva, criança chata chorando, morrinha enjoadiça de sovaco de crioulo pagodeiro e, principalmente, as mais irritantes: pessoas que exigem que você esteja extremamente feliz. Tem que estar feliz! É obrigatório estar feliz!

Mas, peraí: 210.062 + 1.789.936 somam 1.999.998 pessoas. E as duas que restam? Aí é que tá a parada realmente sinistra da coisa. Pensei, convicto e estupefato que, diante de todas essas estatísticas, deve haver alguma que comprove que a cada dois milhões de pessoas, duas serão parecidíssimas e idênticas.

Me deu terror. Passei horrorizado a olhar no meio da multidão procurando meu outro eu. Um cara com a cara igual a minha. Vou matá-lo, pensei. Vou estrangular esse filho da puta que se parece comigo. Pior se ele também estiver atrás de mim com a mesma intenção! Um jogo de gato e rato. Caco de garrafa de champanhe na mão, comecei a correr desesperadamente pela multidão - extrema euforicamente feliz - a fim de encontrá-lo antes que ele me encontrasse.

...10... Putamerda, vou matar esse desgraçado! ...9... Cadê o desgraçado? ...8... Pegar na trairagem, caco de vidro na garganta do eu ...7... Uma estatística a menos ...6... Cadê o desgraçado?...5... Porra, tô bebaço, tenho que ficar esperto, porque o cara é esperto como eu e pode ser que ele não tenha bebido nada...4...Cadê o desgraçado? ...3... outro gole no conhaque ...2...Daqui de cima desse andaime deve dar pra ver melhor. ...1... Cadê o desgraçado?

FELIZ 2000!

Parei, e, de cima do andaime, olhando no mar da multidão, vi, impressionantemente, o espocar uníssono de milhões champanhes formando uma onda turva de espuma e rolhas. Um mar de felicidade. 2 milhões de pessoas! Ao mesmo tempo. Parecia combinada a sincronia.

Impressionante pra caralho!

Chorei.

sábado, 27 de dezembro de 2008

CARTA A UM JOVEM MERDA

(escrito num botequim da Lapa, no Rio de Janeiro, em 2004)

Por que eu odeio? Porque sim, porra! Odeio! Odeio essa gentinha com talco no suvaco que freqüenta hoje a Lapa. Vêm com as suas camisas do Che Guevara, encher o saco sobre Madame Satã, sobre a “diversidade de tribos da Lapa”, sobre Nietzche. Tão achando que aqui é o Baixo Leblon. Essa corja que vem pra cá, freqüentadora daqueles botequins-butique tipo aquele Jobi que é o ponto de encontro da turminha pós-praia ou dos autodenominados boêmios zona sul. Banalizaram o termo. Qualquer bundinha pode ser boêmio hoje, e saem lá desse caralho desse ambiente e vêm encher o saco aqui. Odeio a turminha do chorinho. Odeio a turminha do “samba de raiz”. Odeio.

Lapa no fim dos oitenta e começo dos noventa é que era uma boa. Só birosca bagaceira sem palyboy nenhum pra encher o saco. Tinha um ou outro show no, então decadente, Circo Voador. Tava bom assim. Mas tudo mudou quando o João Gordo xingou o então prefeito Luis Paulo Conde em pleno show do Ratos de Porão em 96, que em retaliação fechou o Circo Voador. Eu tava lá. Todo mundo achou do caralho a atitude punk do gordo e eu pensei:

“ Porra, já até sei o que que vão fazer com a Lapa, vão, num sensacionalismo do caralho, usar esse episódio, o do fechamento do Circo, como pretexto pra fazer manifestos e tentar revitalizar o dito “reduto boêmio carioca”, e vai vir uma playboyzada do caralho pra cá!”

Dito e feito! Reformaram o Circo, abriram uma porrada de bares de “ Samba e Chorinho”. Acabaram com as biroscas dos travecos. Visual “clean” pra grigo ver. Ce acredita que tem até moleque de terno branco e chapéu panamá passeando estilo “malandro da lapa dos anos trinta”? Vai pro caralho. Se der uma navalha na mão desses almofadinhas ele tremem de medo.

Tá uma merda isso aqui hoje.Não se pode ficar tranqüilo tomando um gelo sem ter alguém que me irrite profundamente. Tem sempre algum peça querendo dar uma de malandragem sambista. Passaram a adolescência inteira ouvindo U2 e Legião Urbana, essas merdas, e agora querem dar uma de velha guarda da Portela. Pau no cu.

Odeio os zona sul que comem o Angu do Gomes e lambem os beiços na frente do amigos, se mostrando por um momento “ um suburbano legítimo”, pra depois vomitar escondido. Já vi essa parada acontecer. Escroto. Não é?

Tripa Lombeira com bastante pimenta no rabo deles pra ver o que é bom pra tosse. Não é? E rabo-de-galo pra abrir o apetite. Angu do Gomes no prato sujo. Churrasquinho cheio de nervo comprado ali do lado da Rodoviária Novo Rio, num pratinho com farofa, pra testar o estômago sensível da corja da “intelligentsia carioquinha”.

Se fuder!

Não é?

Odeio camaradinha “cabeça” que distribui livretinho de poema feito à mão e se diz poeta. Poeta marginal em pleno século vinte e um tinha era que estar na cadeia. Parada datada. Lugar de marginal hoje é no xilindró. Odeio os descendentes da turma do Cazuza no Baixo Gávea. Aquela chatice de desbunde já era escrota lá pros anos oitenta, imagina agora. Baixo Gávea, Baixo Leblon. Baixo isso, baixo aquilo, mas quando pinta uma baixaria à vera por aqui, eles correm pra barra da saia da mãe.

Aqui era o lugar dos meus pares: puta, vagabundo, viciado em carteado, viadada se punhetando no banheiro, pivete vendendo amendoim, cachaceiro com cirrose implorando dose de pinga. Minha gente. Gente sincera que vive de verdade e não fica cagando regras. Por isso odeio quem odeia a minha gente.

Odeio artista plástico contemporâneo. Odeio bandinha recifense que faz sucesso. Odeio essa merda de Afroreggae Odeio quem carrega violão, pra aqui pra birosca e fica tocando sempre o mesmo repertório. Cartola, Noel Rosa, Pixinguinha, Heitor dos Prazeres. E pensa que merece aplauso, porque acha que é músico só porque toca essas porras das antigas e que merece silêncio e atenção solene, e ainda faz carinha feia quando a gente não tá prestando atenção. Vai tomar no cu!

Vai tomar no cu mais ainda a turma da poesia e do cinema.

Se tivesse realmente alguém talentoso não tava aqui, produzindo poesia a toque de caixa. A troco de caixa de cerveja, melhor dizendo.

Eu sei, sou fudido, segundo grau completo. Técnico em controle de qualidade de uma fábrica de papel higiênico na baixada. Leio relativamente pouco, só li três livros: Nossa Senhora das Flores do Jean Genet; Trópico de Câncer do Henry Miller e Malagueta, Perus e Bacanaços do João Antônio. Uma coroa que eu tava comendo ano passado, professora da UFRJ, que deus esses livros pra mim e disser que eu ia adorar, e acertou, eu não quis ler mais nada. Só esses me bastam. Fico relendo. Não conheço muito de literatura, nem de política, nem de sociologia e muito menos de filosofia, mas arvoro-me o direito de teorizar sobre essa turminha de intelectuais, poetas e filósofos que vem atrapalhar a gente a tomar a nossa Brama em paz.

A teoria é a seguinte, vê se você concorda comigo:

Um jovem médico pode ter as suas filosofices. Não é?
Um jovem pedreiro pode ser dado a especulações intelectuais, quando quiser, em uma mesa de bar. Não é?
Um jovem técnico de informática pode escrever um poema, de vez em quando, pra a sua esposa. É ou não é?
Porém, peça para um jovem intelectual levantar um muro ( não de palavras, mas de tijolos!) firme, reto, que não caia. Diga para um jovem poeta desses que ele terá que suturar um corte, com agulha, linha. É provável que, num chilique, ele desmaie em cima da pessoa ferida machucando-a mais ainda. Veja se um jovem filósofo é capaz de descobrir e resolver um problema de hardware no seu computador.

Cê sabe, como eu, que é impossível. Não é?

Agora, raciocina comigo: para que um jovem possa tornar-se um pedreiro, um médico ou um técnico de informática é necessário rigor. Rigor teórico ( formação técnica, no caso do da informática e acadêmica no caso do médico) e prática para essas três profissões ( muita prática no caso do pedreiro). Acerto e erro. Apuração e depuração dos métodos. Alguém, ou alguma instituição específica, que possa certificar-lhes se estão ou não aptos para exercerem tais profissões. Se eles serão maus, bons ou excelentes profissionais, só o tempo e os seus possíveis sucessivos erros lhes dirão e, mesmo assim, no caso hipotético de tornarem-se péssimos nos seus ofícios, ao menos foram submetidos a um pressuposto obrigatório: só puderam ser ruins porque tinham autonomia para sê-lo. Arcarão ( dependendo do caso, até judicialmente) com a responsabilidade de não fazerem juz ao reconhecimento profissional que lhes foi imputado. Não é? Tal como fiz, me fudendo pra cacete, para me tornar um técnico em Controle de Qualidade.

Então, mermão, diga-me uma coisa: o que faz com que uma pessoa, quando é, por exemplo, apresentada a outras numa mesa duma birosca, tenha a cara-de-pau de autodenominar-se como poeta, filósofo ou intelectual ?

- Prazer, Paulo O Poeta!

ou inda

- Oi, sou Afonso. Filósofo!

Isso é profissão? Ele vive disso? Tem certificado ? Vai tomar no buraco do cu! Tá bom. Pra não dizer que é implicância nem inveja minha, consideremos que ( por mais remoto que seja) algum desses “profissionais” viva da sua profissão. Poxa, eu sei que você não conhece e nunca soube de um filósofo ou poeta que vivam disso, de poetizar ou filosofar, mas é só uma hipótese. Então, continuando; vamos supor, por exemplo, que o tal “poeta” faça as suas poesias e descole um troco com elas. Consiga viver vendendo-as. Passou a ser uma profissão, não é? Dá lucro, portanto consideremos como profissão. Se é uma profissão, onde ele produz, divulga e vende um produto, então podemos compará-la a uma indústria. O produto ( o poema) sai da linha de montagem ( a “criatividade” e “peculiar visão de mundo” do poeta) e submete-se a estratégias de marketing e publicidade para que possa ser conhecido pelo grande público ( a leitura em praça pública e nos barzinhos de fragmentos dos poemas) e finalmente ser consumido ( a venda de mão em mão dos poemas em redutos boêmios, portas de teatro, posto 9, etc..). Beleza! Tudo certinho né? Calou a minha boca. Se o poema passa a obedecer as regras de um produto como outro qualquer que seja industrializado, então o autor do mesmo pode ser considerado como um profissional. “Um industrial das palavras” diria o próprio poeta, poetizando, todo orgulhoso de si. Mas nesse porém há um outro importantíssimo porém: deixei de mencionar, propositalmente, é claro, uma etapa do processo industrial de seminal importância para o produtor, para o produto e para o consumidor : o CONTROLE DE QUALIDADE DO PRODUTO. E dessa parada eu conheço. Toda indústria que queira solidificar-se no mercado deve submeter-se ao rigoroso Controle de Qualidade do Produto. Testes e mais testes, repetitivos processos de aferições de qualidade, incessantes medições, teste de eficiência, potencial de durabilidade, cotejamento com a qualidade de outros produtos similares, mas já respeitados no mercado ( e a busca incessante - após análises dos melhores produtos concorrentes - de superação, de uma fórmula inovadora ou de uma fórmula, até clássica, mas mais eficiente ) e submetimento do produto a órgãos idôneos e respeitadíssimos que, após a constatação de todos esses métodos, que credenciam-no com “QUALIDADE COMPROVADA”. Será que o tal poeta passou por isso também? Ou o pensamento do auto-proclamado filósofo, ou os questionamentos do dito intelectual?

Porra nenhuma!

Te garanto, porra nenhuma.

E tem mais: se, por acaso, um industrial chega à nossa mesa em um bar e nos é apresentado:

- Esse é o Flávio, industrial .

Nós ouvimos a informação de que ele é um industrial, mas não nos interessa ou nos passa despercebido qualquer especulação da qualidade da sua profissão. Não pensamos: “Será ele um bom ou mau industrial?” Apenas ouvimos “Esse é o Flávio, industrial ” ( ou o que quer que seja: professor, jornalista, engenheiro, advogado...) e pronto! Continuamos o assunto sem fazer qualquer julgamento de qualidade e de valor de sua profissão.Agora, perceba quando alguém apresenta outrem como “poeta” ( ou filósofo, ou intelectual...)

- Conhece Narciso o poeta?

Não é estranho? A palavra poeta traz uma carga semântica que, quase sempre, é entendida com adjetivo. Ainda que seja um substantivo. Mesmo se a “profissão” for a de poeta, poetizar, escrever e vender poesias. Confunde-se com o “poeta” adjetivado :

“Narciso é um verdadeiro poeta!”

ou seja; Narciso tem a imaginação inspirada, Narciso é dado a devaneios líricos e idealistas.

Quando alguém diz “ Conhece Narciso o poeta?” , imediatamente vem a mensagem subliminar “ Conhece Narciso o BOM poeta?”. E as menininhas, patricinhas, lindinhas, arreganham as pernas pra esses escrotos. Vão ao delírio quando ouvem:-

-Esse é o Nicão filósofo.

- Azuil, intelectual, ao seu dispor.

Vai pra casa do caralho todos esses poetas, intelectuais e filósofos babacas. Não é inveja não. Eu sei das minhas limitações e nunca me meteria em participar desse time. Eu só sei que eu sou um merda de um Técnico de Controle de Qualidade que trabalha pra caralho, quarenta horas semanais, faço três turnos na fábrica e ralo pra cacete pra conseguir, raramente, levar uma baranga prum hotel fuleiro daqui da Lapa. Sou um merda, eu sei. Um fracassado. Então, jovem leitor dessas preciosas linhas, se vier aqui pra Lapa, nunca queira se autodenominar um poeta , ou um filósofo, ou um intelectual.

Tô lançando um manifesto:

CARTA A UM JOVEM MERDA

Artigo 1 - Chame-se de Merda com “M” maúsculo. Apresente-se, peito estufado, sempre, como “O Merda”:

-Oi, eu sou o Zé, O Merda.

Artigo 2 - Se você for sentar-se na mesa onde estejam alguém como o Narciso o poeta, Nicão o filósofo e Azuil o intelectual, tire proveito disso. Apresente-se já anunciando “Oi, eu sou o Zé, O Merda”. Os três ficarão imediatamente com pena de você, pagarão muita cerveja para você, e os mais dados a especulações psicanalíticas ( Todos, no caso. Bem próprio dessa raça! ) acharão que você sofre de algum distúrbio de auto-estima e farão de tudo para tentar agradá-lo. A aporrinhação vale as cervejas e o papo bizarro ainda lhe proporcionará umas gargalhadas internas.

Artigo 3 - Meu caro jovem merda, tenha em mente uma coisa importantíssima: o poeta, o filósofo e o intelectual pertencem a uma espécie desagradável, mas até risível e ingênua de certa forma. Dá até para aturá-los. Mas fuja , de qualquer maneira, mantenha distância, daquele que se auto-proclama “artista”. Esse é perigosíssimo. Tem delírios de grandeza, é agressivo , julga-se incompreendido. Em um estágio mas acentuado, quando não cabe mais em si de tanta arte, ele ( o artista ) deixa de chamar-se de “ artista” e passa a falar do artista ( ele mesmo) sempre na 3ª pessoa. “O artista sofre”, “O artista é um paria nesse mundo de superficialidades”, diz o artista de si mesmo numa roda de conversa, a todos pulmões. Sinistro.

Artigo 4 - Pior do que isso, só mesmo quem se chama de “Gênio”, o inimigo número 1 do “Merda”. Nem por uma Boemia geladinha dá pra aturar!”

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

LETRISTA DE FUNK FRACASSADO

Na época em que eu estava mais curtindo funk, havia acabado de entrar ( pra agradar uma namorada) como membro de uma igreja pentecostal. Fiz uma letra que reunisse as duas coisas ( funk neurótico e evangelismo), desagradei aos dois. Perdi também a namorada.

Tá amarrado

Quarta feira retrasada
Eu entrei no lotação
Linha 742
Madureira x Conceição

Tava todo empolgado
Com minha nova aquisição
Nike Shox 12 molas
Que comprei à prestação

Bem no meio do caminho
Veja só que insensatez
Eu não vi que o cadarço
Do meu Nike se desfez

Quando repentinamente
Um senhor se levantou
Barba grande e cabeludo
na minha frente ele parou

Um coroa de espinhos
Encravada na cabeça
Ele olhou bem nos meus olhos
Disse “ Filho não se esqueça:

Amarra logo esse pisante
Não dá mole aos marginal
Sabe quanto tá custando
Um Nike Shox original ? “

Eu chorando de emoção
Amarrei rapidamente
Agradecendo ao senhor
Eu lhe disse prontamente

Tá amarrado! Tá amarrado!
Em nome do senhor
Tá amarrado! Tá amarrado!
O senhor é o salvador

Repete refrão 2 vezes

FORROZEIRO FRACASSADO

Letra de forró que enviei para uma porrada de forrozeiros do Brasil, de Targino Gondin a Raiz do Sana. Veementemente recusada. Pena que não exista forró no México ( ou na Venezuela).

Vila(nia) do Chaves

Mulé feia, nó no peito
Dor de corno , dor de dente
Pior que isso?
Ter o Chaves vitalício presidente

Sopa rala e salgada
Pinga aguada, cerva quente
Pior que isso?
Ter o Chaves vitalício presidente

Sogro brabo, sogra chata
Cunhado inconconveniente
Pior que isso?
Ter o Chaves vitalício presidente

Broxar no primeiro encontro
sorrindo amarelamente
Pior que isso?
Ter o Chaves vitalício presidente

Chefe chato no serviço
ressaca de aguardente
Pior que isso?
Ter o Chaves vitalício presidente

Ter a unha encravada
não há doido que aguente
Pior que isso?
Ter o Chaves vitalício presidente

A mulher de TPM
enchendo o saco da gente
Pior que isso?
Ter o Chaves vitalício presidente

Domingo em dia de chuva
ônibus cheio de gente
Pior que isso?
Ter o Chaves vitalício presidente

Quando rei da espanha disse “Cale-se! Inimigo!”
O bolivariano deveria correr, chorando:
Pi-pi-pi-pi-pi...
“Ninguém tem paciência comigo...”

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

AMIGO OCULTO FRACASSADO

Treze anos, mas aparentando onze. Franzino, curvado, sentava na última carteira do canto. Ninguém percebia sua presença. Insignificante, era invisível até para os professores. Timidez patológica, quando remotamente ocorria de ser solicitado para ir ao quadro-negro ou ter que responder de pé alguma questão, as pernas tremiam, a garganta salivava, a voz fina, ainda de menino, engasgava. Considerava injustiça cruel da natureza e da genética que, a puberdade e adolescência, dava precocemente pra alguns tônus muscular, barba, voz grossa, cabelo na perna e cara de homem. Enquanto ele meio-menino-meio-moça, liso, voz fina, resignava-se na esperança de em breve abrir repentino em flor de cactus, cara barbuda de xuxu velho, homem enfim. E esse dia não chegava nunca. Trapaceava. Na aula de Educação Física, dentro do short apertado de lycra ele enfiava duas meias enroladas. Olhos curiosos das meninas e da professora pro volume desproporcional. “Caralhudo”, chegou a captar um sussurro da Tatiana para a Patrícia. A única vantagem que via nisso era a de ser “respeitado” pela protuberância da “mala”. Ainda que houvesse a possibilidade de finalmente perder a virgindade, diante da curiosidade das mais assanhadas que vinham descaradamente perguntá-lo da centimetragem do suposto descomunal pênis, ele ponderava e esquivava-se das investidas: preferia a atual situação a ter que, indo pra cama com alguma delas,acabar sendo desmascarado. Ou “desmembrado”, melhor dizendo. E recusava. Agonizando ansioso, aguardava a natureza trazer, enfim, o cabelo no suvaco, a barba, os músculos, que nunca apareciam. Ele, o estranho na turma, refugiava-se sempre lá no cantinho da sala nas revistas de humor que comprava semanalmente. Durante as aulas, enfiava entre o caderno e lia e relia as revistas e jornais que mais gostava: Circo, Chiclete com Banana, Casseta Popular, Planeta Diário, O Pasquim, Heavy Metal, Revista Animal e todos os tipos de quadrinhos. Eram seus únicos amigos. Sua transgressão preferida, se é que isso poderia se chamar assim, era, enquanto ia ao banheiro em horário de aula, minutos antes do intervalo, às escondidas, colar páginas da revista Casseta Popular nas peredes do corredor da escola. Pro deleite e risos de todos na hora do recreio que nunca desconfiaram que era ele. Até que, numa das vezes, arrancou da revista uma foto em close de uma mulher de quatro, cu e buceta arreganhados, com uma maçã equilibrada em cima e uma piada tipo “acerte o alvo” ou coisa assim, e colou perto do banheiro das meninas. A diretora foi de sala em sala tentar descobrir o autor. Dizia ser um pervertido e desequilibrado que precisava urgentemente de tratamento e que ia ser imediatamente expulso. Nunca descobriram que fora ele, mas o autor desconhecido tornara-se uma espécie de herói na escola. Teve que amargar o anonimato. Mas nesse dezembro de 1987, 8ª série, é que ele, enfim, ia ficar conhecido e famoso por todos na escola. Explico. Fim do primeiro ciclo dos ensinos, término da 8ª série. Despedidas de fim-de-ano na escola, formatura e o temível amigo oculto, que ele tinha pavor. Na turma que formou-se junto, apesar de ser de escola pública, era repleta de filhos de figurões da cidade, advogados, médicos, comerciantes. Os alunos eram patricinhas e playboyzinhos com suas coleções de tênis Redley, bermudões da Ciclone e camisas da K&K que ele nunca teria dinheiro pra comprar, se quisesse.

No amigo oculto, ele tirara a Patrícia, a menina por quem ele era apaixonado, que por sua vez era apaixonada pelo troglodita do Odil, ele sabia. O cara, já marmanjo, apesar dos quinze, ostentava um invejável cavanhaque que humilhava os garotos e apaixonava as meninas. Ele, juntando moedas o ano inteiro, comprara um perfume da Cashmere Bouquet pra presentear a amada. Dia da entrega dos presentes. Ele, pernas bambas, garganta seca, esperando a sua vez para na sua voz fina de criança, entregar o carinhoso presente e finalmente se declarar pra Patrícia. Odil, o ogro, o tirara, foi lá na frente e com o único propósito de humilhá-lo, como fazia quase todos os dias desde a quarta série, disse que havia tirado uma menina sensível. Chama-lhe pelo nome e entrega-lhe uma caixinha. Ele abre e pra sua surpresa é um perfume feminino, idêntico ao que ele havia comprado pra presentear a sua amada Patrícia. Odil gritando sarcástico : perfume vagabundo pra uma menininha vagabunda. Deboche geral. Gargalhadas na sala. Ele tonto, humilhado, anuncia a sua amiga oculta. Ela, ao saber, faz cara de decepção, mas pega curiosa o embrulho. Ao abrir constata a coincidência dos perfumes: o que ele recebera de sacanagem do Odil e o que ela recebera dele. A mesma marca, a mesma fragrância. Grita nervosa:

- Perfume vagabundo pra uma menininha vagabunda também? Seu imbecil!

A turma inteira curva-se de rir. Ele mais humilhado ainda pela infeliz coincidência, começa a sentir tonteiras. Percebe que o Odil tenha armado tudo isso, descobrindo de alguma maneira qual era o seu presente para comprar um igual e preparar o ardil. Fica com ódio. Tem uma espécie de vertigem. Cambaleia em direção à primeira cadeira que vê, e na névoa da vista turva de nervoso, ao apoiar-se pra sentar, esbarra com o cotovelo num pacote grande em cima da mesa de presentes ainda não entregues. O pacote cambaleia e ele na ânsia de impedi-lo de cair acaba batendo a unha com força fazendo com que o pacote vá com mais violência em direção ao chão. Estouro. Cheiro forte de álcool ou algo parecido. Patrícia, que reestabelecendo-se do trauma anterior, olha pro chão, cai num grito histérico, tresloucado:

- O Whisky do meu amigo invisível, o Professor Ricardo. Whisky importado, custou uma fortuna, meu pai trouxe de Miami.

E põe-se a gritar com ele aos urros:

- Seu bosta, estabanado, imprestável, fracote, idiota, só pode ter feito de propósito, seu merda. Nem dinheiro pra comprar outra garrafa você tem seu pobre miserável.

Todos na sala, muxoxam em coral, olham com ar de reprovação pra ele, como que concordando com as observações da Patrícia para com o magricela menino-moça estranho.

Até o professor Ricardo, de fininho, sussura no seu ouvido:

-Putaquepariu moleque estabanado filho da puta, mandou meu whisky importado pro caralho, seu bostinha. Vou te reprovar seu filho da puta de uma figa!

O clima na sala é de consternação e silêncio. Ele borra as calças de nervoso, sai da sala com pernas bambas. Logo ao lado da porta da sala de fora está Odil e a sua trupe de trogloditas musculosos. Patrícia aos soluços abraçada na cintura do Odil que a consola. Odil é o primeiro a dar-lhe um murro na cara. Na seqüência dos trogloditas, pontapés, chutes, tapas. A voz fina do menino pedindo socorro.

-Eu pago, porra! Pago outra garrafa! Pelo amor de Deus, parem de me bater!.

Com o barulho, todos os alunos e professores saem da sala. O Odil, tentando dar mostra pra todos da sua masculinidade e supremacia física, segura-lhe com muita força uma das mãos no pescoço, enforcando-lhe no alto, e com a outra mão começa a lhe revistar os bolsos:

- Disse que vai pagar o whisky do professor né moleque? Vai pagar como se você é um pé-rapado? Chovê cê tem alguma mixaria nos seus bolsos. Porra nenhuma! Chovê na cuequinha da franguinha se tem grana escondida!

“Na cueca não!” “Na cueca não!” “Na cueca não!”, ele esperneou e grunhiu desesperado na forca-mão. Preferiria morrer sufocado de uma vez, em vez de ter a sua cueca revistada.

Até que, mão fora da cueca, Odil apalpa algo fofo, estranho. Enfia a mão e num solavanco violento arranca o par de meias simuladoras de pênis que ele punha na cueca desde o começo do ano. Odil o solta e numa estrondosa gargalhada ergue a mão e pra que todos vejam, mostra, tal qual um troféu, o psudo-pênis de pano.

Meninos, meninas, e até professores ressoam uma orquestra de risos estridentes e gargalhadas apontando pra calça arriada dele, pinto de anjo nu, penugem púbere, orgulho ferido ao máximo. Tivesse eu uma metralhadora aqui e agora, tivesse eu uma metralhadora aqui e agora... pensa chorando.

Ele levanta a calça e sai correndo desesperadamente pelos corredores da escola. Toma a rua. Entra no primeiro boteco pé-sujo que encontra e pede uma pinga.

Que toma até hoje, vinte anos depois.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

MALANDRO FRACASSADO

- O bagulho é frenético mermão! Te falei, porra! Televisão de plasma pela metade do preço, até por quinhentos reais ele faz!

Eu sentado no botequim, tomando minha Brahma e ouvindo a conversa dos dois camaradas que estavam em pé, encostados no balcão. No fundo, um toca discos rolando a música “Escola de Malandro” do Noel Rosa e Ismael Silva:

A escola do malandro
É fingir que sabe amar
Sem elas perceberem
Para não estrilar...

- Tudo que cê quiser mané! Som, dvd, compra de supermercado... Ce vai lá na loja, escolhe a mercadoria, mostra pro cara e depois ele te entrega em casa pela metade do preço que tava anunciando. Não sei como é que ele faz isso. Só sei que o bagulho é sinistro, não pode ficar estarrando geral por aí não. O cara só faz o serviço e tchau e bença. Não sei nem onde ele mora nem o nome dele. Toda quarta ele tá aqui jogando sinuca e fazendo uns contatos...

Fingindo é que se leva vantagem
Isso, sim, que é malandragem
(Quá, quá, quá, quá...)
[-Isso é conversa pra doutor?]

Fiquei curioso com a conversa. Eu fudido, véspera de carnaval, precisando de uma grana e ouço uma conversa tão interessante como. Desde semana passada que eu fui mandado embora da firma que eu tô querendo investir a merreca da indenização. Pensei em comprar umas latinhas de Brahma e vender no meio da rua no carnaval, mas com a grana que eu tava, não dava pra comprar nem umas 1000 latinhas quentes lá no Cereais Supermercados. Porra, um real a latinha quente, mó robalheira.

Oi, enquanto existir o samba
Não quero mais trabalhar
A comida vem do céu,Jesus Cristo manda dar!

Ainda de butuca no papo dos dois, tomei coragem, pedi licença e interrompi a conversa:

- Pô, não é por nada não, mas eu tava sem querer ouvindo vocês aí e me interessei pelo lance do tal camarada filantrópico. Cê sabe como é que faz pra entrar em contato com o mestre? – perguntei pro negão que tava dando a ficha da situação.

Tomo vinho, tomo leite,Tomo a grana da mulher,Tomo bonde e automóvel,Só não tomo Itararé(Mas...)

- Porra véio, amanhã é quarta e ele vai tá aqui. Se cê quiser, te boto na fita, mas cê vai ter que pagar uns gelo aí, morou?

- Só se for agora, respondi – Manel,disse pro dono da birosca, tô deixando 10 brahma paga pro gentileza aqui!

- Demorô, disse o crioulo. Amanhã 3 da tarde cê vem aqui que eu te apresento o Papai Noel.

Oi, a nega me deu dinheiro
Pra comprar sapato branco,
A venda estava perto,
Comprei um par de tamanco.

Papai Noel? Pensei eu, rindo por dentro. Papai Noel em plena sexta-feira de carnaval... Jingle Bell, jingle Bell saí assobiando rua afora, empolgadão. Eu me sentia o malandragem pura.

No dia seguinte, na hora marcada, estava eu lá. Grana no bolso, Os 1000 contos que sobraram da rescisão. O crioulão, que atendia por Geladeira me pega pelo braço e me leva lá pra perto da mesa de sinuca.

- Esse aqui é o brother de que te falei, disse o Geladeira colocando-me de frente prum cara de meia-idade, grisalho, de Ray Ban original, num terno preto novinho.

O cara não disse nada. Me regulou de cima em baixo com cara de bunda. Menosprezou mesmo. Eu também dei maior vacilo, porra! Vim de havaiana, bermudão de tactel e sem camisa. Passei impressão de esculachado.

- O que que o senhor deseja? Me disse, ríspido, o coroa, tirando os olhos de mim enquanto dava uma tacada na bola 7.

- É que eu tô a fim de comprar umas cervas aê pra vender lá no bloco. E lá no Cereais Supermercados tá...

Me interrompendo o coroa olhou pra mim e perguntou:

- Quanto você tem meu filho?

- Milzinho na mão.

- E quanto tá a cerveja mais barata da cidade?

- A Brahma em lata que é uma cerva boa de vender tá um real, disse eu.

- Separa 950 reais, e aluga um caminhãozinho por 50. Te faço a lata por 25 centavos.

Já é! – eu disse.

E comprei as latas e levei pra vender no meio da rua no carnaval de Muriqui. Choveu todos os dias. Não vendi nenhuma. E, dois dias depois, a polícia veio atrás de mim, lá em casa, pra verificar se eu fazia parte de uma tal quadrilha que aplicava golpes usando cartões de crédito clonados. Eu disse que não. Eles me “convenceram” a dizer que sim. Disseram que com uma “cervejinha” tudo tava resolvido. Dei todas as cervejas pra eles.

Voltei no buteco, pedi uma latinha de Brahma fiado - tava durinho da silva - e fumei um Derby ( tinha parado de fumar há mais de dois anos).

Na caixa de som a mesma música do Noel.

Pois aconteceu comigo
Perfeitamente o contrário:
Ganhei foi muita pancada
E um diploma de otário.