fracassos

  • Vendedor de sacolé fracassado, ajudante de pedreiro fracassado, jogador de futebol fracassado, animador de festa infantil fracassado , paranormal fracassado ,oficce boy fracassado , autor de revista em quadrinhos fracassado ,auxiliar de eletricista fracassado, letrista de rock fracassado, auxiliar administrativo fracassado, adolescente rebelde fracassado, produtor musical fracassado, cantor fracassado, diretor de filmes fracassado, rapper fracassado, punk da periferia fracassado, autor de livro infantil fracassado, mochileiro fracassado, ator fracassado, fanzineiro fracassado ,dono de sebo de livros usados fracassado ,funkeiro fracassado, produtor de funk fracassado, produtor de rock fracassado, rocker psychobilly fracassado, metaleiro headbanger fracassado, pagodeiro romântico fracassado, skynhead neonazista fracassado, playboy fracassado, satanista adorador do diabo fracassado, jornalista gonzo fracassado, maconheiro fracassado , pervertido sadomasoquista fracassado, alcoólatra fracassado, hippie fracassado, stend up comedy fracassado, barman fracassado, músico fracassado , dono de bar fracassado, empresário rastaman fracassado, católico fracassado, kardecista fracassado, umbandista fracassado, budista fracassado, maçon frasassado, rosa cruz fracassado, seicho-no-iê fracassado, evangélico neo-pentecostal fracassado, ateu fracassado, trabalhador clandestino nos estado unidos fracassado, simpatizante gls fracassado, artista plástico fracassado, letrista de forró fracassado, forrozeiro fracassado, operário de manutenção de linha férrea fracassado, seresteiro fracassado, lutador de mway tay fracassado, metalúrgico fracassado, vendedor de cd pirata fracassado, candidato a vereador fracassado, redator publicitário fracassado, promoter de festas rave fracassado, cartunista fracassado, cartunista outsider fracassado, dono de site fracassado, cineasta documentarista fracassado, blogueiro fracassado, dono de comunidade no orkut fracassado, acadêmico fracassado, fotógrafo fracassado, cordelista fracassado, metrossexual fracassado, intelectual de direita fracassado, intelectual de esquerda fracassado, ateu fracassado, vendedor da herba life fracassado, vendedor da anyway fracassado, vendedor do baú da felicidade fracassado, participante de pirâmide de enquecimento fracassado, dono de vídeo-locadora fracassado, jipeiro off road fracassado, pesquisador científico fracassado, ufólogo fracassado, roteirista de tv fracassado ...

quinta-feira, 30 de julho de 2009

AUTOR DE LIVRO DE AUTO-AJUDA FRACASSADO (II)

No dia 05 de janeiro de 2009 foi postado aqui o tópico “AUTOR DE LIVRO DE AUTO-AJUDA FRACASSADO” , relatando meu fracasso no mundo da autoria desse tipo de publicações.

Se tiver saco, leia:

http://autobiografiadeummerda.blogspot.com/2009/01/autor-de-livro-de-auto-ajuda-fracassado.html

Imbecil que sou, depois dessa data ainda teimei em mandar pra mais algumas editoras o original do nefando livro. É óbvio que a rejeição foi total.

Por conta disso, resolvi publicar capítulo por capítulo dessa joça aqui, a fim de ter o que colocar nessa merda desse blog e de, também, demonstrar o bom senso das editoras em não publicá-lo.

Eis um dos capítulos do livro COMO FICAR RICO ESCREVENDO LIVROS QUE ENSINAM COMO FICAR RICO

###################

CAPÍTULO VII - OUTRAS MANEIRAS DE FICAR RICO SEM TER QUE ESCREVER UM LIVRO DE AUTO-AJUDA QUE ENSINA AS PESSOAS A FICAREM RICAS ESCREVENDO LIVROS DE AUTO AJUDA



Leu a metade desse tosco livro e está achando difícil tornar-se rico escrevendo livros? Também concordo.

Há, portanto, outras formas mais fáceis de tornar-se rico sem precisar escrever livros para isso:


COMO FICAR RICO VENDENDO A ALMA PRO CAPETA

Vá a uma encruzilhada á meia noite e chame o nome do capeta ( é “Capeta”, mesmo) 3 vezes. Quando começar a sentir um cheiro de enchofre, podescrer que é ele que tá chegando na área ( a não ser que você tenha comido repolho no dia anterior).

Converse amigavelmente com ele, proponha a venda da sua alma deixando bem claras as cláusulas contratuais. Negocie o preço da sua alma em euro ou dólar, não aceite outra moeda. Calculando a relação custo-benefício e pressupondo que, com a venda da sua alma você passará o resto da eternidade queimando no inferno, cobre um valor que vá tornar o resto de vida que ainda te resta aqui na terra um paraíso.

Negocie por 10 milhões de dólares. Nem mais nem menos. É pegar ou largar.Preço de mercado.

Tá, eu sei, lá na França tão vendendo por 20 até 30 milhões, mas convenhamos, sendo brasileiro quem garante que com as merdas que você fez durante a sua vida até agora, você já não ia pro inferno mesmo?

Não dê tempo para ele pensar, diga que está com pressa, que tem outros interessados na compra da sua alma. Confunda-o. Deixe-o queimando os chifres.

Fechou negócio? Beleza. Agora é só passar a minha comissão !!

Mas...peraí !!! Suponhamos , que todos que estão lendo isso, que, devido ao sucesso desse livro que calculo por baixo umas 10 milhões de pessoas, propuserem-se a vender a alma pro capeta? Pô, onde o capeta vai arrumar tanta grana? Será que ele deve ter uma casa da moeda lá no inferno? A não ser que ele , plagiando seu opositor, (isso é bem característico dele ) faça o milagre da multiplicação nas notas. É isso mesmo !! Ele deve materializar do nada a grana. Puf! E aparece uma mala lotada de notas de dólar.

Pára ! Pára! Pára! Outra dúvida; se ele comprar a alma dessas 10 milhões de pessoas, oferecendo 10 milhões de dólares para cada um, ele desembolsará exatamente 10 trilhões de dólares !!! Pô, vai acontecer um colapso na economia mundial . Com tanto dólar correndo no mundo, o dólar não não vai valer mais porra nenhuma e você vai ficar mais fudido ainda !!!

É melhor deixar esse negócio de vender a alma pro capeta de lado, venda pro capitalismo mesmo. O retorno é mais garantido.


SIMPATIA PARA TORNA-SE RICO

Pegue uma meia de seda preta que tenha pertencido a uma prostituta de 70 anos e enfie na cabeça. Em seguida segure com a mão direita um revólver carregado com 7 balas e que já tenha assasinado 7 pessoas, e com a mão esquerda um saco de pano vazio com um cifrão pintado. Vá até um banco numa encruzilhada às 13:07 e repita 7 vezes batendo o pé no chão :-“ Isto é um assalto !”

Esta simpatia também é válida pra quem quer pegar 7 anos de cadeia.


COMO SE TORNAR RICO SE HUMILHANDO

Era um domingo. Eu estava em casa, lendo um livro de auto-ajuda (desses que tentam nos ensinar a ficar ricos) quando, ao ouvir um barulho estranho do lado de fora da minha casa, espiei pelo olho-mágico e vi parar na frente do meu portão um carrão importado, todo preto, fodão. De dentro dele saíram dois grandalhões, de ternos pretos e óculos escuros, que ajudaram um senhor corcunda, gordo e baixinho a sair. O senhor, num terno todo amarrotado, igualzinho ao pinguim do batman cambaleava, sendo escorado pelos grandalhões que caminhavam a seu lado. Vieram direto pra minha porta e bateram.
Fui atender.
- Lembra-se de mim? – perguntou o senhor, com um horrível bafo de vômito,ou ressaca de uísque, sei lá...
Eu apenas lhe disse que seu rosto me era vagamente familiar. Ele me encarou.
- Olha bem pra minha cara seu desgraçado!. Preste bem atenção. Me diga de onde você me conhece!!
Olhei bem, e a cada segundo sentia aumentar uma desagradável sensação de reconhecimento, mas ainda não podia dizer de onde é que o conhecia. Finalmente ele disse:
- Fui seu chefe há uns anos atrás.
Olhei de novo, e desta vez o reconheci. Era verdade. Diante de mim estava o “sêo” Manfredini, um dos chefes que mais odiei na minha vida. Era o terror da fábrica. Arrogante, prepotente e totalmente ignorante com os funcionários. Características essas, que me motivaram a mandá-lo tomar bem no buraco-do-centro-do-c...e ter sido mandado embora da empresa.Dei uma de bem educado. Minha religião diz:- nada de guardar mágoas.
- Opa, “sêo” Manfredini, tudo bem?
Ele riu sarcasticamente. Era típico dele. Cara escroto !!!
- Nós nos odiávamos. Nós quebrávamos altos paus, lembra seu merdinha?
Eu lembrava. Mas continuei no meu papel de bom rapaz, mas pensava:- “acho que tenho que mudar de religião”!
- É verdade, tivemos alguns atritos, mas nada que o tempo não possa...
- Eu agora sou o presidente da fábrica, seu merdinha. – cortou ele.
- Presidente? – eu disse. – Ora, meus para...
- Corta essa merdinha. Vim aqui propor um negócio.
E tirou do bolso amarrotado do paletó um cheque todo amassado, num valor que, na época, calculei em dez mil dólares.
- Esse dinheiro pode ser seu, ô seu merdinha – disse ele, - desde que...
Desde quê? – perguntei, ansioso e já puto e pensando:- Porra ! Por que que eu tô aturando esse babaca me esculachar?
- Desde que você deixe eu quebrar os seus dentes. Os da frente. Todos.
Achei que era piada e ameacei rir. Bastou olhar pros olhos frios e gelados dele pra ver que a coisa era séria, e admirei imensamente aquele homem. ... ô cara determinado !!
- Todos os da frente?
- Todos – ele repetiu.
Fiz um rápido cálculo mental.
- Pague também uma ponte móvel – pedi.
- Pago – ele respondeu.
Eu sorri, arreganhando os dentes. Ele pegou da mão de um dos seguranças um paralelepípedo, levantou com um pouco de dificuldade e deu a primeira porrada bem no meio da minha cara.Veio meio fraca e sem direção, mas depois seguiram-se outras, mais fortes, mais convictas e mais poderosas. A dor foi grande, mas suportei corajosamente, com o cheque de dez mil no bolso. Uma ponta do peralelepípedo pegou no meu nariz e o quebrou, correu muito sangue e os dentes não ficaram perfeitamente quebrados; os cacos e raízes ainda deram muito trabalho depois ao meu dentista, o competentíssimo Dr. Leonardo Villa Verde. Um mês depois eu ainda sentia dores de cabeça intensas. O rosto todo latejava. Até que após de um longo tempo ( uns dois meses) cessaram as dores.
Eu já ostentava a reluzente ponte móvel, apesar do meu maxilar inferior ter ficado um pouco imóvel, quando ele voltou. Vinha com outros dois seguranças do lado, e um pé de cabra na mão esquerda. Estendeu um cheque de um valor que era perto de cinqüenta mil dólares.
- Quero bater nos seus dois joelhos com este pé de cabra.
Deixei. A primeira pancada foi no joelho esquerdo; desabei urrando de dor, me descabelando, fraqueza pela qual me envergonho até hoje. Mas a dor foi uma coisa difícil de descrever, intensa e abrasante, quase santificadora. Eu ainda estava no chão quando a pancada desceu sobre o joelho direito; o grito foi inaudível, e as lágrimas correram. Caguei nas calças na hora. Ele me pagou as duas artroscopias.
A terceira aparição dele foi quase um ano depois. Eu já havia abandonado a fisioterapia e caminhava pelas ruas, com lentidão, mas caminhava. Só de vê-lo soltei um barro, ali mesmo, na fralda geriátrica. ( há, ia me esquecendo; devido ao trauma anterior, passei a cagar somente nas calças, passando a usar constantemente fraldas geriátricas. ) Ele veio com um terceiro par de seguranças e um cheque de duzentos mil dólares. Os seguranças traziam uma espécie de criado-mudo, desses pequenos, com uma gaveta só. Seu Manfredini ao aproximar-se, não tirava o olho do meu saco. Logo pensei;- Pô, será que esse cara é viado?
Quando, sem emitir uma palavra sequer, ele colocou o criado mudo no cão , abriu a geveta e olhou pra mim . Não tivemos contato verbal, só nos olhávamos.Logo entendi o que ele queria e já com o checão no meu bolso, fiz o que eu sabia que tinha que fazer; arriei a calça, e agachei de forma que meu saco ficasse bem no meio da gaveta aberta. Só deu tempo de ouvir o som da gaveta se fechando velozmente...não lembro de mais nada, desmaiei na hora. As pessoas que me encontraram ali desmaiado, com o saco totalmente inflamado pra fora da braguilha, disseram que eu delirava , rindo, um sorriso sinistro , semi-inconsciente , falando coisas desconexas como:- “ ...dólares são dores...dólares doem, doem...”
Encontrei-o 6 meses depois sentado na porta da minha casa, e olhando bem no fundo dos meu olho esquerdo ( o direito já estava vazado devido a uma fagulha da paralepipada) disse:-
- Esta vai ser mais complexa. Quero que você extraia um dos seus rins e me dê. Pago a cirurgia, a internação, tudo.
Fui pro hospital. Ele fez questão de acompanhar a cirurgia. Eu estava no meu quarto, com o rim num pote ao meu lado, quando ele entrou. Um dos seguranças (era o quarto par) trazia uma espiriteira; outro vinha com uma frigideira. Ele fritou o meu rim e o comeu na minha frente. Pensei, enquanto a anestesia acabava, que ele me amava.
Na quarta vez em que ele veio, o cheque era de um milhão de dólares, e junto vinha um testamento, legando sua herança a mim. Não me pediu nada, apenas ajoelhou-se no pé da cama no quarto da UTI ( eu estava internado devido devido as várias complicações pós-operatórias) e disse que eu era o único merecedor da sua herança, e que eu era o único em quem ele pôde confiar . Naquele momento eu percebi que éramos verdadeiros amigos. Antes de ir embora, ele me disse uma frase que nunca mais irei me esquecer e foi-se.
Soube que dois meses depois ele morreu.
Essa foi a maneira pela qual obtive minha independência financeira.Arrivistas sustentam que foi uma forma indigna de enriquecer; eu nego. Ganhei dinheiro e aprendi muito sobre a arte de humilhar, achincalhar e desprezar as pessoas em torno.
Fiquei 6 meses internado na UTI, a infecção generalizada espalhou-se, e morri logo após ter ficado em coma induzido. Morri milionário.
Ahh!! Ia me esquecendo ! Sabe o que seu Manfredini me disse quando eu estava de cama na UTI?

“- Meu filho, conquistastes dignamente tua fortuna. Tens agora que achar teu herdeiro, e ensiná-lo tudo o que te ensinei.”

******

Você, meu leitor do livro COMO FICAR RICO ESCREVENDO LIVROS QUE ENSINAM COMO FICAR RICO, se habilita a receber esses ensinamentos?

terça-feira, 7 de julho de 2009

HUMORISTA FRACASSADO




Parecia pra mim que tinha ficado claro que este blog tem como propósito ( contradição em termos: blog / propósito), único e exclusivo, de apenas relatar, tal como num divã, meus fracassos ao longo dessa minha depressiva vida.

O nome é auto-explicativo: AUTOBIOGRAFIA DE UM MERDA ou o MANUAL DO FRACASSADO.

Mas há sempre quem veja chifres em cabeça de cavalo ou piolho na cabeça de careca: ver coisas onde não existem.

Explico.

Há mais ou menos um mês atrás, um amigo meu, católico praticante e professor de filosofia, me mandou um e-mail dizendo que achava o blog muito engraçado. Que era um dos melhores blogs de humor que tinha lido. Mandei ( pelo e-mail) ele tomar no olho do cu!

Está claro que é deliberada a minha intenção de compartilhar com quer que leia essa merda de blog os momentos mais tristes da minha vida. Tão só isso! Nada mais do que isso. Portanto, não é engraçado, é triste, porra!

Ele não sossegou. Respondeu que o site é de humor. Eu neguei e fiquei sem saco pra argumentar. Ele, por hábito da profissão, quis provar-me através de critérios filosóficos (?!) que meu blog era humorístico. E saco pra argumentar é o que ele mais tem. E me mandou o seguinte e-mail, que não entendi porra nenhuma. Segue um trecho do que ele escreveu:


“ Querido amigo Merda Fracassado:

Teu blog Autobiografia de um merda é de humor, sim! Hilário e ao mesmo tempo triste – bittersweet, desemboca na metalinguagem, bem arrumado, mordaz, engraçado e sem intelectualismos.

É de humor. Sobretudo de uma fina auto-ironia.

Merda Fracassado, apesar de o humor ser largamente estudado, teorizado e discutido por filósofos e outros, permanece extraordinariamente difícil de definir. Para Sócrates, a ironia é uma espécie de "docta ignorantia", ou seja, "ignorância fingida" que questiona sabendo a resposta e orientando-a para o que quer que esta seja. Em Aristóteles e S. Tomás de Aquino, a ironia não passa de uma forma de obtenção de benevolência alheia pelo fingimento de falta de méritos próprios. A partir de Kant, assentando na ideia idealista, a ironia passa a ser considerada alguma coisa aparente, que como tal se impõe ao homem vulgar ou distraído. Corrosiva e implacável, a sátira é utilizada por aqueles que demonstram a sua capacidade de indignação, de forma divertida, para fulminar abusos, castigar, rir, os costumes, denunciar determinados defeitos, melhorar situações aberrantes, vingar injustiças… Umas vezes é brutal, outras mais sutil.

Já o humor é determinado essencialmente pela personalidade de quem ri. Por isso, pode-se pensar que o humor não ultrapassa o campo do jogo ou os limites imediatos da sanção moral ou social, mas este pode subir mais alto e atingir os domínios da compreensão filosófica, logo que o emissor penetre em regiões mais profundas, no que há de íntimo na natureza humana, no mistério do psíquico, na complexidade da consciência, no significado espiritual do mundo que o rodeia. Pode-se, assim, concluir que o humor é a mais subjectiva categoria do cômico e a mais individual, pela coragem e elevação que pressupõe. Logo, o que o distingue das restantes formas do cômico é a sua independência em relação à dialética e a ausência de qualquer função social. Trata-se, portanto, de uma categoria intrinsecamente enraizada na personalidade, fazendo parte dela e definindo-a até. É por isso que se diz “Há tantos humores como humoristas.”.

E há os que não sabem que o são...

“Ludus est necessarius ad conversationem humanae vitae.” – “O humor é necessário para a vida humana.” (S. Tomás de Aquino) Através desta afirmação, percebe-se que, da mesma maneira que o sono está para o repouso corporal, também o humor está para o repouso da alma. Esta analogia entre o sono e o humor é bastante explícita, no que diz respeito à importância do humor na vida do Homem. É por isto que o humor é considerado por S. Tomás de Aquino um "bem útil", e prossegue, considerando ainda que o humor pode ser um vício por excesso, ou seja, por falta de controle e medianiedade no uso deste. Aqueles que exageram no brincar tornam-se inoportunos, por querer fazer rir constantemente, ao invés tentar não dizer algo imoral e mesmo agressivo para com aqueles a quem a “brincadeira” é dirigida. O humor pode também ser um vício por ausência deste. Aqueles que carecem de humor, irritam-se com os que o usam e tornam-se “frios” e distantes, não deixando a sua alma repousar pelo uso do humor. Como no meio é que está a virtude, aqueles que usam convenientemente o humor, têm a capacidade de converter as coisas que se dizem ou fazem em riso.

Immanuel Kant alegava que o humor surge da "trasformação repentina de uma grande expectativa para o nada". O humor é tido como a dissolução violenta de uma atitude emoção, que e produzida pela associação de duas idéias inicialmente distantes. Segundo estes preceitos a piada de boa qualidade deverá necessariamente mesclar dois elementos altamente contrastantes de forma que se estabeleça forte relação entres ambos.”


Li o e-mail e não entendi porra nenhuma. Parada chata pra cacete. Respondi, pra finalizar a conversa, não tinha veia cômica ou humorística nenhuma. Que o que ele havia dito ( escrito pelo e-mail) não provava o que ele queria dizer e que, com a absoluta certeza, eu sabia que não tinha (tenho) o mínimo senso de humor: sou ranzinza,misantropo, tomo tarja-preta sob orientação psiquiátrica (dois Rivotril 2 mg por dia - um ansiolítico indicado para fobia social – o que me fez ter que parar de beber [ pela óbvia imcompatibilidade - deixando-me mais puto ainda! ] ), semi-hermitão, ereutófobo ( tenho pavor obsessivo de chamar a atenção em público). Um anti-humorista nato.

Eu respondi o e-mail e disse que sou mau humorado, que odeio ouvir piadas e que tenho pouquíssimos amigos - algo impossível para um cara engraçado.

Mandou outro e-mail de volta, dizendo que talvez minha veia humorística fosse involuntária e, por final, citou Millôr Fernades, sabendo que é o escritor que mais admiro:

“ O humor compreende também o mau humor. O mau humor é que não compreende nada”

Mandei a réplica mencionado uma frase do Millôr também:

“Caro Amigo,

Na verdade, enxergo só a sarjeta humana. Odeio a raça. Parafraseando, como ti, o Millôr, considero-me um humanista, isso não significa ser bonzinho ou acreditar que o homem é bonzão . Significa que aceito o homem como é – medroso, primário, perverso, escroto, invejoso, incapaz, acertando por acaso e errando por vaidade e ignorância.”


Ele não se contentou. Me propôs uma aposta. Pediu que eu assistisse a todos os programas brasileiros de humor que estivessem passando na televisão e tentasse elaborar roteiros e quadros para esses programas. E disse que, assim que eu os fizesse, ele, através de sua influência no meio, contactaria alguns roteiristas e os submeteria ao crivo desses profissionais da área.

Porra! Odeio televisão! Nunca fui de assistir essa merda. A minha só serve pra conectar meu dvd e ver, solitariamente, minha deprê coleção de filmes iranianos. Mas aceitei a bizarra aposta só pra provar que ele estava errado, e que parasse de me encher a porra do saco.

Passei uma maratona de seis meses ( janeiro a junho de 2009) ligando a televisão só para ver esses tipos de programas humorísticos. Achei tudo uma bosta. Vi os seguintes:

“Turma do Didi” ( Globo) e “Dedé e o Comando Maluco” (SBT ) - Vendo essas porcarias, percebi uma espécie tosca da velha pantomima, predominando cenas de tropelias, explorando-se motivos de riso fácil e de gosto discutível, implicando, muitas vezes, grande parte de violência física gratuita. Muito distante da genialidade do Charles Chaplin, do O Gordo e o Magro e de Os Três Patetas, onde havia um teatro gestual que fazia o menor uso possível de palavras e o maior uso de gestos, usando magistralmente a arte de narrar com o corpo. Felizes dos que eram crianças na época desses mestres, coitadas das crianças de hoje. Não consegui pensar em nada para roteiro nesse estilo. Desisti.

“Uma Escolinha Muito Louca” (SBT) – Totalmente desorganizado e com atores e atrizes (?!) extremanete canastrões, o formato do humoristico é plágio do antigo programa Escolinha do Professor Raimundo da Rede Globo. Nessa versão, o professor é o cantor Sidney Magal (?!), que deve estar ganhando bem, porque, nesse caso, a única diferença do programa plagiado, o salário do professor não é comentado. Não pensei em nada que coubesse naquele formato de humor (!?).

“Zorra total”, “A praça é nossa” - além do pré-histórico sistema de risadas ( dado fúnebre: são gravações de risos gente morta ), fiquei com dor-de-cabeça de tanto ficar ouvindo aqueles bordões ( acho que é a estratégia que surpreendentemente sustenta a longevidade do programa ) centenas de vezes. Na verdade, até contabilizei alguns: “Tô doido!”- uns tais de Jajá da Juju ( ouvi 137 vezes); “Tô pagaaaaaaaaaaaaaano!!!! ( 154 vezes) - Grana eu já tenho,só me falta-me o glamour.” ( 206 vezes) - “É é boom bom boo bobom nao é né! mas é bom é bom.”( 181 vezes) - Lady Kate; “ Isso é uma bichooooona!” ( 97 vezes) - “Cara crachá! Cara crachá!” ( dezenas, dezenas de vezes) -Paulo Silvino, e uma porrada de outros bordões que, programa a programa, eram repetidas sempre da mesma maneira. Surreal. Sem-graça pra caralho. Nem passou pela minha cabeça criar uma frase bizarra dessas. Não sei como é que neguinho ri daquelas merdas. Vai ver... ( Porra! Acho que isso serviria como bordão!).

“Show do Tom” – Tem Tiririca! Não dá! Vi uma vez só.

“A Praça é nossa” - um sub-Zorra Total, recheado de bordões que preferi nem anotar de tão toscos, só alguns: “Pensa que é bonito sê feioooo?” – Batoré / “Eu gosto das coisas muito bem explicadinhas,nos mííííííínimos detalhes!” ( sei lá de quem dizia essa porra). Sem comentários...

“Pânico na TV” – buscando inovar como uma vertente iconoclasta de humor, uma tentativa de ser uma espécie de anti-Zorra Total, o programa acaba ( quase sempre) extrapolando o linha tênue entre o humor e a grosseria. Sem o “timing” ( principalmente o tal de Vesgo) para piadas rápidas em entrevistas com celebridades, apelam para a ofensa desnecessária e idiota. Coisa pra adolescente imbecil. Caíram na desgraça dos bordões também. Deve ser isso que faz o Brasileiro rir. Alguns que ouvi: “Cadê o chinelo?”, “ Escuta vagabundo”, “Cadê você Adriano? Tá me escutando?” e “Ronaldo!”. O feitiço voltou contra o feiticeiro, tá virando Zorra Total. E já falei, odiei o Zorra Total.


“CQC” - uma versão intectualizada do Pânico na TV. Seus repórteres são bem mais articulados dos que os do Pânico na TV e têm o tal “timing” pra piadas rápidas ao vivo - cara a cara- ( já que todos são também craques do improviso no stand up comedy). Coisa que, como já disse, o Pânico na TV não tem. O problema, ao meu ver, é que, apesar da inegável qualidade, o programa acabou caindo no discurso politicamente correto, sobretudo nos quadros "CQC no Congresso" e “Proteste já”. Este mostra problemas de comunidades como a dengue, o tratamento de esgoto, transporte precário de crianças, as dificuldades de pessoas deficientes a ter acesso a locais, obras inacabadas, crise alimentar entre outros. Após realizar a matéria, Rafinha Bastos cobra soluções e prazos(e impostos) das autoridades para que o problema seja solucionado. Não pensei em nada que se encaixasse no esquema do programa.

Casseta & Planeta - Como eu já disse aqui no blog, sempre fui fã do Almanaque Casseta Popular e do jornal O Planeta Diário. Excelentes textos. Quando eram roteiristas do saudoso programa TV Pirata, com interpretações de comediantes versáteis ( Regina Casé, Luis Fernando Guimarães, Guilherme Karan & tal) , era do caralho. Com o programa próprio inaugurando, o Casseta & Planeta Urgente, acabou caíndo nas graças da estrondosa audiência. Foi considerado por um instituto de pesquisa, ano passado, o programa mais influente da TV brasileira. Essa audiência de milhões fez com que - para adequarem uma linguagem que atingisse “dos oito ao oitenta” - o humor peculiarmente transgressor fosse substituído por uma versão mais infantil e palatável, bem diferente do teor da época impressa. Mas, peneirando, percebe-se coisas de extrema qualidade escondidas, já que ali ( de todos os programas de humor televisivo que vi) tem roteiristas de qualidade. Foi o único em que eu me entusiasmei para mandar para o meu amigo filósofo uma idéia de quadro. Na verdade, não um quadro, mas umas vinte idéias para produtos das “Organizações Tabajara”. Uma delas:

****************************

Para quem conhece os “produtos” Tabajara, considere a parafernália e os spots que acompanham os anúncios da “empresa”.

****************************

“ESTEIRA ULTRA-PRÁTICA TABAJARA”

[ voz anunciando] - “ Você fica de saco cheio quando está na esteira da academia, no meio de um monte de machos musculosos, e anda quilômetros e quilômetros, olhando sempre pra frente, sem nunca sair do lugar?”

[ aparece o Reinado, suado, dentro de uma academia, usando uma roupa de ginástica, toalha no ombro, olhando pra frente com cara de decepção, enquanto ficam uns caras marombados passando na frente dele]

[ Ele ouve a voz e faz que “sim!” com a cabeça]

[ voz anunciando] - “ Meu amigo! Seus problemas acabaram!”

[ voz anunciando] - “ AS ORGANIZAÇÕES TABAJARA criaram a “ESTEIRA ULTRA-PRÁTICA TABAJARA”

[ voz anunciando] - “ Super-prática, a “ESTEIRA ULTRA-PRÁTICA TABAJARA” acaba com aquela sensação monótona e enfadonha de ter que ficar andando sempre no mesmo lugar”

[ aparece a imagem do Reinaldo rindo, fazendo “tudo jóia” com o dedo polegar, em cima da “ESTEIRA ULTRA-PRÁTICA TABAJARA”]

[ voz anunciando] - “A “ESTEIRA ULTRA-PRÁTICA TABAJARA” é a mais alta tecnologia a serviço da sua saúde e do seu bem estar. Você fica malhado e ainda foge da monotonia da esteira convencional”. ]

[ voz anunciando] - “Chega de ficar andando, andando sem sair do lugar! Compre já a A “ESTEIRA ULTRA-PRÁTICA TABAJARA”

Aparece a imagem de uma esteira igual às outras mas com uma diferença: embaixo da esteira há quatro rodinhas e na frente um volante de carro.

[ voz anunciando] - A “ESTEIRA ULTRA-PRÁTICA TABAJARA” te leva onde você quiser! Totalmente versátil, móvel, vem com volante para te guiar para onde você quiser ir, sem ter que ficar preso na academia”

[ aparece a imagem do Reinaldo exageradamente alegre, andando em cima da esteira , fazendo “tudo jóia”, e dirigindo a “ESTEIRA ULTRA-PRÁTICA TABAJARA” ( movida pelo impulso dos passos do atleta) pelo centro da cidade e olhando feliz a bunda das mulheres que passam ]

[ voz anunciando] - “A ESTEIRA ULTRA-PRÁTICA TABAJARA só poderia ser mais um produto genial das ORGANIZAÇÕES TABAJARA”

ORGANIZAÇÕES TABAJARA

****************************

Mandei as oito idéias ( entre as quais a da esteira) para o meu amigo filósofo que, prontamente, conseguiu entrar em contato com a produção do Casseta & Planeta Urgente, enviando-as.

Não demorou nem uma semana para que recusassem as idéias, pra decepção dele ( não minha, já que imaginava a recusa).

Mesmo assim, podendo, através desse fracasso, constatar que realmente não tenho vocação nenhuma para fazer humor ele continua insistindo que essa porra blog é engraçado.

Parei de discutir. Cheguei a seguinte conclusão: depende muito da forma em que cada pessoa faz o humor, e a forma que cada pessoa acha engraçado. Por exemplo, há pessoas ( como esse meu amigo) que acham engraçado tudo o que vêem. Essa são as piores, pois quando queremos falar sério elas não acreditam.

Constatei que há, na verdade,por parte desse meu amigo filósofo, um quê de puro sadismo: rir da desgraça alheia.