fracassos

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quarta-feira, 17 de março de 2010

SUPER FRACASSADO



Desde quando criei este blog, minha intenção, sabendo que poderia reunir vários relatos alusivos às minhas tentativas fracassadas de sucesso, era expor o que eu achasse que valeria a pena estar aqui, na minha autobiografia, como um retrato de alguém que é um merda.

Mas nunca pensei que um dia eu chegaria a ser tão merda assim. Explico: Esta postagem justifica, com certeza, a existência deste blog. Lembremos, “Autobiografia de um Merda ou o Manual do Fracassado”.

Não é esse o nome desta nefasta coleção de insussessos?

Li agora uma notícia que aconteceu nesse último mês me chamou muito a atenção: a morte do bibliófilo-mor José Mindlin.

Li também outra notícia que me deixou estarrecido, estupefato, perpexo. Dessa eu falo daqui a pouco. Tem a ver com o fato de eu ser colecionador também. Uma espécie de José Mindlin fracassado. Comecemos com a do José Mindlin e sua coleção, aí eu falo da minha coleção e por final escrevo sobre o meu tal super fracasso monumental.


José Mindlin foi um notório amante da leitura e o maior colecionador de livros do Brasil. Uma coleção de livros raríssimos que, ainda em vida, Mindlin comprometeu-se a disponibizá-la ao público doando-a à USP. Centenas de milhares de livros que , juntos, valiam uma fortuna. Mindlin abriu mão de vendê-los ( muitos colecionadores do Brasil e do mundo inteiro estavam interessadíssimos em adquiri-los) para, num gesto nobre, digno de uma alma caridosa para com a cultura brasileira, doá-la sem bônus nenhum.

Um grande homem. Morreu entre os justos. Fez o bem sem pensar a quem. Um homem que teve uma vida de sucesso.

Ainda sobre coleções e colecionadores, falemos agora de fracasso.

Eu sempre fui um comprador compulsivo. Com os meus salários, com o dinheiro que pingava ganhado de parentes, e biscates ( carregava compras para madames na feira, já aos 8 anos) sempre “investi” minha grana que sobrava em quinquilharias de leitura. Até os 33 anos ( há 3 anos atrás), nunca havia me desfeito da minha vastíssima coleção de gibis. Me lembro que aos onze já tinha mais de dois mil. Marvel, DC, Gibi dos Trapalhões , Turma da Mônica, Riquinho, Brucutu, Popeye, Família Buscapé, Johnny Hex, Luluzinha, etc. Aos doze, comecei a colecionar os gibis do TEX, Conan, o Bárbaro, Spirit, Kripta...

Uma pequena cronologia demonstrativa da coisa:

1988: Comecei a trabalhar aos 13. Ajudante de pedreiro, boy, animador de festa infantil ( acho que já postei aqui sobre isso), balconista de padaria... Já tinha, até então, acrescentada à minha coleção, quase todas as publicações de humor em quadrinhos do Brasil. As que já tinham saído das bancas, eu comprava em sebos. Coleções completas da Mad, Chiclete com Banana, Piratas do Tietê, Circo, Animal, Heavy Metal, Casseta Popular, Mil Perigos, Bunda, Níquel Náusea, Geraldão, Dumdum, Kriptóris, Fráuzio, Planeta Diário, etc. Ah, fanzines também! Centenas fanzines do Brasil inteiro.

1989: Com 14, comprei meu primeiro livro: “A verdadeira história do paraíso” do Millôr Fernandes. Daí em diante, nunca mais parei de comprar livros. Uma média de cinco por mês, no mínimo.

1990: Com 15, adquiri de um colecionador TODOS os números do jornal O Pasquim.

Do primeiro gibi que comprei aos 8 anos e o primeiro livro aos 14, sempre guardei o que ia compulsivamente comprando.

Minhas aquisições ganhavam uma quantidade assustadora. Freneticamente, passei a comprar, ainda na década de oitenta, vinis, cassetes, VHS... Centenas e centenas de tranqueiras enfurnadas no meu quartinho.

Nos 90’s, lançamento do disquinho de música digital, comprava cds quase que semanalmente, mas sempre continuando com a obsessão de juntar mais gibis e livros e vinis e ...

...me lembro que no final do ano de 1991, minha tia vindo de uma viagem da Inglaterra, um mês antes de voltar para o Brasil, me ligou e perguntou se eu queria algo de lembrança, um presente. “Até trezentos dólares”, ela disse. Prontamente pesquisei numa revista importada sobre quadrinhos e descobri que existia uma loja de comic books em Londres chamada Forbidden Planet. Um sebão que vendia tudo quanto era raridade em quadrinhos. Pedi que ela procurasse lá a edição número 1 da Action Comics, de 1938 ( em que o meu herói preferido, o Superman, surge pela primeira vez). E não é que ela achou? Me ligou assustada perguntando porque um gibi custava tanto: “Caralho! 550 dólares uma merda um gibi velho! Tem certeza que quer isso mesmo? Eu te levo um walkman maneirão, um casaco de frio...” Nem ouvi as outras propostas dela. Feliz da silva e nervoso falei pra ela comprar o gibi de qualquer maneira. Expliquei o preço porque era um gibi era antigão e raro e que comprasse assim mesmo. Eu esgoelei que até restituiria os duzentos dólares que ela interaria na cota estabelecida para o presente.

E continuei a pedir pra conhecidos que viajavam pro exterior que trouxessem mais gibis raros pra mim. Essa era a minha nova mania.

1994, dezenove anos, quis morar sozinho. Ter meu próprio apê. Consegui. Aluguei um com dois quartos: um só pra tranqueirada e outro pra eu dormir ( que ainda ficava a metade entupido de livros).

Anos 00, consumo irrefreável de dvd’s...

Putamerda!

Reuni, acredito ( nunca consegui contabilizar com calma), mais de cinco mil livros, três mil revistas, centenas de jornais, uns quinhentos VHS’s, milhares de cd’s e dvd’s.

Fiz as contas: entre os 13 anos ( quando recebia um salário mínimo) e os 33 anos, gastei, em média, metade de um salário mínimo por mês consumindo todas essas tranqueiras ( isso sem contar quando pingava uma grana extra tipo 13º, férias, que gastava integralmente com essas coisas).

2007: Aos 33 anos me bateu uma neura: “Quanto eu gasto ( gastei) reunindo toda essa bagulhada durante esses anos todos?”

Numa conta fácil, calculei: meio salário mínimo ( mais ou menos uns duzentos e cinquenta reais – ou uns cem dólares ) por mês, por baixo, em média, gasto.

R$ 250,00 x 12 = R$ 3.000. (ano) / R$ 3.000 x 20 (anos) = R$ 60.000.

Se eu for contar os gastos excessivos nos 13ºs de fim de ano e férias e indenizações de empresas que tinha trabalhado, poderia aumentar aí mais uns 30%.


R$ 60.000 + 30% = R$ 80.000, no mínimo!

R$ 80.000, se colocados numa poupança, por todos esses anos, poderia chegar a quase duplicar esse valor.

Pois bem. ( bem porra nenhuma! mals pra caralho!)

Eu, em 2007, ganhando ainda uma mixaria, solteiro, sem família, sem filhos, sem carro, sem casa própria, sem patrimônio nenhum ( nem uma bicicleta), respirei fundo aquele cheiro de mofo e me senti um merda. Um fracassado. Um homem com 33 anos vivendo um mundo fictício, adolescente.

Via meus amigos de infância e adolescência com as suas vidas realizadas. Carro, casa própria, filhos, vida de adulto.

Eu cheio de dívidas com os bancos ( justamente por estourar os cartões comprando mais bugigangas) e fudido.

No dia da véspera desse meu aniversário de 33 anos, sentei no meio da minha biblioteca-depósito de cds e dvds e vhs e revistas e comtemplei-as. Aquilo não valia porra nenhuma! Minha, então, namorada até tirou umas fotos minhas enquanto eu olhava os livros manguaçadaço.

A vida real havia me chamado. Síndrome de Peter Pan: Out!

Tomei uma decisão. Uma decisão adulta pra caralho. Uma decisão que iria mudar a minha vida.

33 anos! Mato esse passado funesto. Essa vai ser a minha ressurreição!

Bati no peito cabeludo:

“Vou me desfazer de TUDO. Tudo isso! Essa merdaiada toda não me trouxe benefício nenhum, não sou mais inteligente do que ninguém, não me tornei um intelectual, não sou bem sucedido nem no meio em que me propus investigar durante todo esse tempo.”

Vou me desfazer de TUDO. Vender a quilo. Nada de procurar sebos e ficar barganhando mixaria e me humilhando por uns trocados.

Vida nova.

“Vou na apara de papel que tem perto da minha casa e perguntar quanto eles pagam por quilo.”

Aquilo era, não há de se negar, papel. Com palavras escritas que não me ajudaram porra nenhuma a vencer na vida.

“Em busca do tempo perdido”? : papel! ; “Livros autografados?” : papel! ; “Coleção completa dos tomos de Ruy Barbosa? : papel! ; “Todos os clássicos da literatura nacional?” : papel! ; “Primeiras edições ( arduamente garimpadas em sebos) de Machado de Assis, Lima Barreto, Euclides da Cunha, Érico Veríssimo, Augusto dos Anjos, Lima Barreto”? : papel! ; “Milhares de revistas, coleções completas de revistas e jornais de humor desde Ângelo Agostini até a Bundas?” : papel!

Papel! Papel! Papel! Papel mofado, inútil.

“Vão todos virar picadinho na apara de papel, que é o lugar de vocês!”

Arrumei um caminhão e levei tudo para a apara de papel. Uma que tem na Rua Assis Ribeiro. Quem mora aqui em Barra do Piraí/RJ, sabe onde é.

Três toneladas e meia de papel, foi o que deu.

O cara me pagou mais ou menos uns seiscentos reais por todo aquele papel inútil. ( R$ 0,20 pago por quilo)

Pedi ao cara do depósito de reciclagem de papel que pudesse ver tudo aquilo virando uma massa disforme de papel picado.

Eu gargalhei aplaudindo vendo aquilo tudo sendo triturado.

Matei meu passado. Ia começar do zero. No meu apê só havia sobrado a poltrona, a geladeira, minha cama e o fogão.


Até meu aparelho de dvd, meu som e o home theater eu vendi por uma bagatela.

Não queria contato com nada que se relacionasse a “cultura”.

Tive a sensação de que tinha renascido das sombras. Ressucitado aos 33 anos.

Isso faz três anos.

Agora a segunda notícia estarrecedora. Neste momento, são exatamente 02:30 da madrugada do dia 18 de março de 2010 e eu sem sono, há meia hora atrás, estava fuçando na internet de bobeira.

Vi uma parada que me deu vertigem e uma palpitação.

Abri correndo o meu arquivo de fotos no computador. As fotos que a minha ex-namorada havia tirado no dia anterior à desova de todos os livros e gibis, em meio ao amarfanhado de papelada. Dizia ela que era pra que eu pudesse me lembrar, caso me desse saudade, dos livros, revistas e da vida que eu vivia.

Achei as fotos.

Olhei bem uma das fotos.


(Repare na revista que eu destaquei. Lembra da tal 1ª revista do Superman que a minha tia trouxe em 1991 pra mim? É esta. Olha eu, lá no fundinho, já meio manguaçado, lendo dos raros gibis...)


( Aqui, eu tô felizão comemorando em grande estilo etílico - essa pinga tava guardada para uma ocasião super especial - o fato de eu estar me desfazendo da papelada toda)


(Relendo pela última vez alguns livros que em breve iriam pro bebeléu)

( A última foto tirada nesse dia, 12 de junho de 2007, horas antes de mandar tudo pro cacha-prego. A besta aí achava que era infeliz e não sabia que iria ser muito mais!)

Então. Deu pra dar uma sacada nas fotos?
Olhe novamente ali em cima, na primeira foto e perceba, com atenção, qual é o gibi estava no meio dos que eu levei pra apara de papel.
Era justamente o que a minha tia havia trazido há vinte anos atrás de Londres pra mim e que eu tinha guardado intacta até então:

(Essa capa do gibi eu tirei do Google Imagem, o que eu tinha tava num estado de conservação bem menos detonado.)

Mas, voltando ao assunto, qual era a notícia que eu tinha visto na televisão que fez com que eu desencavasse essas fotos?

http://www.youtube.com/watch?v=ZyufqGVSQPk

Li na internet também...

http://noticias.uol.com.br/bbc/2010/02/23/1-gibi-do-super-homem-e-leiloado-por-us-1-mi.jhtm


Porra! Olhe novamente para essa foto e pras imagens no you tube!



A porcaria do gibi ultra-mega-blaster-raro, em 2007 virou picadinho no galpão de moagem de papel. Se virou papel reciclado,hoje alguém deve estar limpando a bunda com 1 milhão de dólares

Enfim...
Tem até outras dessas saudosas fotos no álbum de fotos do orkut que a minha ex-namorada tirou pra mim.
Olhei com calma e vi nas fotos o 1º Flash Gordon; A coleção completa da primeira versão da revista de humor brasileira, a "Careta"; o primeiro gibi do Donald Fauntleroy Duck ...; Primeiras edições do Drummond, Bandeira, Guimarães Rosa e até Rubem Fonseca, que eu garimpava a comprava pelo antigo jornal O Balcão. Alguns deles até autografados!
Tudo isso virou papel picadinho.

Mas a porra do gibi do Super-Homem foi foda...
...aumentei até a dosagem do tarja-preta que eu tomo.
Falando sério! Acho que a ficha ainda não caiu.
Talvez a próxima postagem seja "SUICIDA FRACASSADO".

FRACASSADO BEM HUMORADO FRACASSADO





Recebi ontem um e-mail de uma moça que se diz fã (!?) do meu blog e ela insistiu para que eu lesse um texto anexo ao e-mail.

Senti que o e-mail era pra tentar levantar a minha moral, ver com outros olhos os meus fracassos. A mina que me mandou o e-mail, coitada, tava até que bem-intencionada. Queria me tirar do baixo-astral.
O texto chama-se "Como fracassar com bom humor".

Li. Até conheço o autor ( a obra, digo), Carlos Gerbase, desde quando ele era dos Replicantes, uma banda punk gaúcha dos anos oitenta bem-humorada pra caralho.

O cara é bom. É um cineasta, músico e professor de sucesso.
Sou só um merda de um fracassado. E ranzinza.

Portanto, minha cara fã (!?), infelizmente, não coaduno com as idéias expressas no texto, já que para mim, fracassar é uma parada deprimente pra caralho.
É um fato. Vivi / vivo isso. Não há como eu ver positivamente um fracasso.
Não sou otimista, nem irônico, nem bem humorado...

Mas, como ando enrolado pra caralho ultimamente e não consigo arrumar tempo pra postar mais fracassos aqui com a regularidade de antes, pra encher linguiça, taí o tal texto:


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Como fracassar com bom humor


por Carlos Gerbase em 04 de agosto de 2009


Há muitas coisas positivas no fracasso: ninguém vem te pedir dinheiro, ninguém te telefona de madrugada pra dar os parabéns, ninguém fica morrendo de inveja e te desejando o mal. O mal já está feito. Depois do mal, quase sempre vem o bem. Ou mais fracassos; não importa. Os fracassados têm um futuro radiante à sua frente: podem se erguer da lama e rastejar outra vez à procura do sucesso. Encontrando um novo fracasso, é claro. Mas, e daí? Fracassar várias vezes, como um sujeito perseverante, que não se deixa abater, é melhor que fracassar uma vez só, coisa de quem não tem força interior. Um fracassado fica com aquele ar abatido, triste, carente, que desperta o instinto maternal das mulheres e facilita novas aventuras amorosas. O homem de sucesso, ao contrário, com aquele sorriso brilhante, rodeado de bajuladoras siliconadas, terá enormes dificuldades para descobrir quem está sinceramente interessado nele e quem está querendo tirar uma casquinha do sucesso alheio. O homem de sucesso está acuado por um bando de chatos que dizem que o admiram, mas, na primeira queda, não hesitarão em chamá-lo de fraude. O fracassado curte a solidão a dois, pois sempre terá alguém disposto a consolá-lo. Como? Você é um fracassado e não tem ninguém que o console? Aí já é incompetência demais. Como em todas as situações da vida, é preciso um pouco de talento e perseverança. Um verdadeiro fracassado não se deixa abater. É preciso colocar o fracasso em seu devido lugar: no fundo. Um fracassado é como uma ação na bolsa que despencou absurdamente e que agora está com um preço muito convidativo. Quem investe num fracassado de hoje pode ter grandes lucros amanhã. Artistas geniais foram grandes fracassados. Van Gogh nunca vendeu um quadro. Mozart morreu miserável e foi enterrado em vala comum. Você prefere a companhia de quem? De Van Gogh e de Mozart, ou do débil mental que ganhou milhões produzindo o filme “O solteirão de 40 anos”? Pense bem, querido fracassado. Você pode se suicidar, como fazem muitos fracassados, mas aí não vai aproveitar o melhor do seu fracasso: a cara dos bem-sucedidos quando perceberem que você está vivo, acompanhado de uma bela mulher (que o consola), bebendo com os amigos do peito (e só amigos muito verdadeiros bebem com um fracassado), sendo comparado a Van Gogh e Mozart, e especulando qual será a sua próxima jogada em busca do sucesso. Que pode vir, ou pode não vir. E daí? O homem de sucesso só conhece o pavor de fracassar e vive numa perpétua ansiedade. Quer coisa pior? Deus te livre. Você é um fracassado e acha que está deprimido? Depressão não existe. Foi inventada pelos psiquiatras bem-sucedidos para encher seus consultórios à procura do sucesso financeiro, que, como eles mesmos proclamam, não vai curá-los da depressão. Não dê esse gostinho pra eles. Muito melhor que se entupir de antidepressivos é desfrutar, sem culpa, o doce sabor do fracasso. E rir dele. Um fracassado bem humorado se lambuza com a vida em toda a sua esplendorosa injustiça.

quarta-feira, 3 de março de 2010

ENTREVISTADO FRACASSADO


Ontem recebi um e-mail de um jornalista que tinha acabado de criar um blog.

Queria me entrevistar.

Um cara recém-formado. Inexperiente. Chato pra caralho. Se dizia meu fã.

Eu mereço...

E parei pra pensar: por que alguém me entrevistaria? Sou uma toupeira em qualquer assunto. Não tenho nada de interessante pra dizer.

O cara insistiu. Dei a “entrevista”. Sabia que ia dar merda. E deu.

Por isso a entrevista foi digna do entrevistado,um fracasso:

http://sensocontraoconsenso.blogspot.com/2010/03/entrevista-com-um-merda.html

Perdi um fã. Talvez o único.