fracassos

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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A TRAJETÓRIA DE UM CARTUNISTA FRACASSADO

Mexendo na minha gaveta de guardados, percebi hoje que reunindo cartuns que eu mandei para revistas de humor, tenho vinte anos de fracassos nessa área.

Mais cinco e eu me aposento ( fracasso atrás de fracassos é uma profissão deveras insalubre - mentalmente).


Enviado - e recusado - para o jornal O Pasquim, em 1988.





Enviado - e recusado - para a revista Mad, em 1993.






Esse eu tive um trabalho do caralho pra concluí-lo: rascunhei e mandei o esboço para um amigo meu, o Kiko, que manja do riscado, pra fazer a arte final. Ficou uma lindeza! Foi enviado – e também recusado – para o jornal O Pasquim 21 em 2004. O foda é que devolveram só um ano depois, pelo correio, com uma assinatura do Ziraldo borrocando a metade do desenho. Devem ter achado que eu queria uma porra de um autógrafo!

Esse eu mandei pra revista de humor F. em 2006. Nem responderam.

CHARGISTA DE JORNAL SINDICAL FRACASSADO

Consegui mandar uma charge para um jornal sindical que foi aceita. Saiu publicada. O pessoal da CUT e da FORÇA SINDICAL gostou.

O personagem era um proletário de indústria, pai de família, que vivia na pindaíba que apesar de ter do que reclamar, não tinha como: era mudo.

Chamava-se "O mudinho ranzinza".

Quando mandei a segunda charge me boicotaram e ainda me chamaram de "pelego capitalista".

Não entendi!

Abaixo a primeira e a segunda charge:


A PRIMEIRA CHARGE. A GALERA SINDICALISTA ADOROU E ATÉ PUBLICOU.



A segunda charge: além de não tê-la publicado a galera do sindicato fez greve e piquete na frente da fábrica dizendo que os patrões tinham me comprado pra fazer essa charge tão "porco capitalista". Quem me dera!

AUTOR DE GIBI FRACASSADO

Em 1989, com treze anos, entusiasmado pela leitura intensa de revistas em quadrinhos ( Turma da Mônica, Disney, Turma do Bolinha, Sobrinhos do Capitão, Marvel, DC, etc.), criei um herói que, para mim, seria uma revolução no mundo dos gibis infantis.

Esse meu herói dos quadrinhos, o Beto, era um cara comum, sem super-poderes, um cara trabalhador, de vida prosaica, que vivia atrás de trampo para sustentar a família.

Beto tinha uma peculiaridade.

Por ser fruto de uma relação incestuosa entre seu pai e sua avó ( e sua mãe também, né? ), Beto (sobre)vive com uma deformidade congênita: um feto ( seu irmãozinho) agarrado na sua nuca.

Diante das dificuldades e preconceitos que sofria por ser uma aberração, Beto sempre estava atrás de emprego para comprar mantimentos pra sua família: papinha para o seu irmão agarrado na nuca, roupas sob medida para suas irmãs ( que eram siamesas) e várias camisinhas para que o seu pai pudesse transar com a sua mãe ( e sua avó também, né?) sem o risco de que ela engravidasse novamente.

Vida dura a do Beto.

Os gibis chamavam-se “AS AVENTURAS DE BETO, O HERÓI QUE É METADE HOMEM, METADE FETO”

Fiz uns três gibis à mão, quadro por quadro, capinha colorida com canetinha, xeroquei e mandei cópias pra todas as editoras de quadrinhos. Rejeição geral.

Até hoje eu não sei o porquê da recusa. O personagem era fofinho pra caramba. Um pouco inusitado, mas isso é que era o ponto forte dele.


Empolgadaço com o possível sucesso do personagem, criei até umas camisas para vender para os futuros fãs.


No número um das suas aventuras, Beto vira hippie maconheiro e apronta poucas e boas numa sociedade alternativa em Visconde de Mauá.

No segundo número do gibi , Beto vira tri-atleta e se mete em várias confusões e travessuras engraçadíssimas no mundo dos esportes radicais.


No terceiro e último gibi o Beto consegue trabalho num circo e as trapalhadas são gerais. Tombo de bunda no chão, torta na cara, muitas diversões pros leitores infantis.










quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

COOL FRACASSADO


“As modas vão e vêm, mudam sempre; o ridículo é que é permanente.”
( frase de Yves Saint Laurent - conhecido popularmente como Falcão)
*************
Década de oitenta. Na rua, nas salas de aula e nos clubes, quem usasse tênis Redley, camisa K&K, calça jeans Villejack e mochila da Company estava no topo da na moda. Mas, por isso mesmo, não era pra qualquer um, qualquer pobretão. Cada peça dessas custava um fortuna ( só o tênis Redley, eu me lembro muito bem, o par custava quase um salário mínimo). Pros adolescentes como eu que quisessem estar bem com as meninas, na moda, bastava somente usar esse uniforme juvenil. Eu invejava essa playboyzada. Não que, nessa época, eu quisesse estar na moda, não entendia dessa porra, mas vestir essa panagem era quase que um ritual certeiro de pegar várias menininhas. Eu, que não tinha um puto no bolso pra vestir-me com essas grifes, não tirava da cabeça que quando eu tivesse trabalhando com um salário maneiro ia comprar essas porras dessas roupas e ia passar o rodo geral na meninada. Mas nessa época eu só podia comprar roupa tosca e barata. Só grife vagabunda de pobre, que era motivo de piada geral entre a galera e as gatinhas.

Trabalhei.

Trabalhei como um cão a vida inteira e continuei sem um centavo sobrando pra entra na moda.

Vinte anos se passaram. Pleno século XXI, fevereiro de 2008, e eu – apesar de continuar paupérrimo como quando adolescente – botei na cabeça que ia entrar na moda.

“Vou à desforra!”

Me esforcei, separei uma grana e parti para um shopping bem “mudernoso”. Lá, comecei a rodar nas lojas e procurar as grifes que tanto me humilharam quando moleque.

Estranhei! Por mais incrível que pudesse parecer, essas peças tavam uma mixaria. Devia ser ponta de estoque, pensei. Puta sortudo que eu sou! Só marca estilo e tudo baratinho. Claro que eu aproveitei e comprei. Lá no próprio banheiro do shopping eu me troquei. Coloquei o tal tênis Redley, vesti a camisa K&K, meti um jeans Villejack e coloquei nas costas a mochila da Company.

Imediatamente eu voltei num dos locais em que me esculachavam na minha época de moleque, uma lanchonete no centro da minha cidade. Sentei lá, pedi um chopp e fiquei na espreita, esperando neguinho babar no meu visual e as gatas, hoje balzaquianas, me paquerarem modernão e na moda.

O que eu achei muito esquisito era que as mesmas patricinhas e playboys da minha época, hoje com a minha idade, que estavam naquele momento lá na lanchonete, continuavam olhando com aquele igualzinho ar de deboche e sarcasmo pra mim e pra minha roupa. Os mesmos olhares de desprezo daquele longínquo anos oitenta. Não entendi porra nenhuma! Eu tava na estica! Na marca!

Até que um camarada que estudara comigo até o segundo grau, o Odil, passou, parou e ficou me regulando todo, dos pés à cabeça e fez um rizinho de puro deboche. Parrudão de bomba, o cara tava me desafiando com aquela cara escrota porque sabia que eu não ia encrespar. Cena igual à da minha infância. Eu com cara de bunda azeda me senti uma bosta como antes, mas agora uma bosta de quase quarenta anos e cento e vinte quilos.

Não amarelei com a intimidação. Levantei-me , cheio de moral e coragem, e mandei na lata do playboy-bombado-otário:

- Coé Odil ? (...) Comequiéquicetá cara? Beleza? Saudades...

E estiquei a mão para cumprimentá-lo. A mão ficou parada no ar. Ele olhou pra mim e, rindo, me disse:

- Cê continua cafona né cara? O mesmo ridículo de quando a gente era moleque. Um cafona, um deselegante, sem gosto refinado, na verdade um grosso socialmente...

Comecei a rir também. Ele só podia estar de sacanagem com a minha cara. Talvez todos esses anos tivessem feito com que ele se tornasse um cara bacana, brincalhão.

- Cê é mó maior sacana Odil. Tá de onda aê com a minha panagem de grife porque tá é com inveja...

- Coé maluco? Cê endoidou? Essas marcas aê que você tá vestindo já saíram de moda há um tempaço. Hoje é roupa de pobretão. Cê não deve ter gastado nem uns duzentos reais nessa roupa toda né? Porra, um tênis Redley deve tá uns cinquenta reais, essa camisa da K&K uns vinte, esse jeans breguíssimo da Villejack uns trinta e essa mochila pequenininha e ridícula da Company uns quarenta, cinquenta no máximo....Não dá nem cento e cinquenta reais essa porcariada toda. Na verdade você nunca vai ter grana pra ser um cool...

Cool? Que que significava aquilo? Será que ele tava me chamando de cuzão? Cuzão o caralho! Eu sou é malandragem pura! – pensei. E tirei onda:

- Isso mesmo! Era ponta de estoque. Comprei num shopping estilosão. Só grife maneira, né? Na verdade tudo saiu por cento e trinta e dois...

- Pô, pobre vai ser sempre pobre. Sempre procurando promoçõezinhas de roupa. Cento e trinta.... Cento e trinta não dá nem a metade do preço desse casaco vintage que eu tô usando.

- Vintage? Que porra é essa?

- Cê é um cafona mesmo. Vintage é um termo que foi acolhido pelo mundo da moda para designar peças que marcam uma época, como roupas ou acessórios. Olha esse visual que eu tâ usando. Vintage puro. Gastei mais de dois mil reais. Só uso roupa estilo vintage. Caríssimas! Os pobre invejam a as gatas adoram...

Ele me mostrou. Tava usando um par de chinelo havaianas, uma camisa branca Hering, óculos Ray Ban tipo aviador e calça jeans Levi’s...

E continuou a falar:

- E na minha mochila tem mais uns mil e trezentos em roupas vintage: duas camisas estilo polo da Lacoste, e o mais foda e caro: um conjunto Adidas totally vintage! Um conjunto daqueles azul-marinho com casaco e a calça com uma tirinha de tecido pra prender na sola dos pés! Isso é que é a última moda, seu brega pobre! Sai de perto de mim que tá queimando meu filme com esse seu visual. Já te falei: você nunca vai ser um cool. Nunca!

Cool eu imaginava que eu nunca ia ser, mas sabia que, naquele momento, eu me sentia um cuzão.

AQUELAS ROUPAS QUE ELE TAVA USANDO ERAM JUSTAMENTE DAS MARCAS DE POBRE QUE EU USAVA QUANDO MOLEQUE !!!

Camisas polo da Lacoste, chinelo Havaianas, camisa branca da Hering, óculos Ray Ban tipo aviador, calça Levi’s.
Só faltava ele me dizer que tênis All Star, a coisa mais pobre e bizarra na época que eu era moleque, tinha se tornado cool também! Nem quis perguntar com medo da resposta.

Exatamente as roupas toscas e baratas que eu podia comprar na época. Só grife vagabunda de pobre que era motivo de piada geral entre a playboyzada!

Só o conjuntinho Adidas azul-marinho, com casaco e a calça com uma tirinha de tecido pra prender na sola dos pés, eu tinha uns cinco no armário ! Era uma mixaria aquela merda!

Vintage? Cool? Continuei confuso. Será que eu era uma espécie de visionário da moda incompreendido, um vintage vinte anos antes de vintage ser vantagem ?

Porra nenhuma! Saí dali totalmente cafona e me sentindo, como sempre, um merda. Um merda em termos de moda.

Na dúvida, vou guardar aquela roupa que eu tava vestindo naquele dia pra usar daqui a vinte anos , caso no futuro ela se torne quarentage.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

DONO DE SÍTIO / SITE FRACASSADO

Moro numa pequena cidade do interior do estado do Rio de Janeiro chamada Barra do Piraí. Uma cidade cu-do-mundo como qualquer outra cu-do-mundo. Com as características que toda cidade pequena tem: compadrio, coronelismo, falta de perspectivas profissionais, babação de ovo para os “milionários donos da cidade” ( e seus respectivos rebentos), gentinha que cultiva o falso status só porque tem uma mixariazinha a mais pra gastar ( e ostentar) com roupa de grife e carros zero, clubes que só frequantam os playboys ( os rebentos dos quais já falei) - onde os demais são sempre barrados. Festanças nos seus sítios, em que o preço alto da entrada já serve de repulsa aos desvalidos como eu.

Eu queria ter um sítio também, nem que fosse um sítio virtual ( “sítio”, em bom Português, é o mesmo que site - para os débeis mentais que não entenderam o trocadilho).

Em 2006, pensei nisso e tentei matar dois paulos-coelhos com uma cajadada só: ter um sítio e enveredar-me na seara da grana fácil advinda da internet. Criei um. Feito aqui em Barra do Piraí exclusivamente para os barrados barrenses toscos como eu. O sítio chamou-se, então, BARRADO POR AÍ.

Ficou no ar somente uns dois meses. Não consegui porra de patrocínio nenhum. Ninguém acessou a porra. Gastei uma grana do caralho ( domínio, webdesigner, publicidade...) e me fudi. Agora é que eu penso: por que eu não peguei essa puta grana que eu joguei fora e não comprei um sítio ( com horta e bananeira ) de verdade?

Local da festa de inauguração do site.

Cara-de-pedra, meu amigo do peito, o hostess contratado pra festa no botequim.

O logo do site. Paguei o designer mais careiro da cidade para elaborá-lo.




A tela do dito. Mais grana com webdesigner.




O convite pra festa de inauguração do site. Dois mil desses impressos e distribuídos. Grana que foi embora na gráfica.









Dia da festa de inauguração no referido bar mencionado no convite. Oito pessoas ( na foto, um camarada, totalmente bêbado, incorporando o tal do preto-velho-barreiro).

PROMOTER DE FESTA FRACASSADO

Em 2005, andei tentando ganhar uma graninha como promoter de festas. Como os ambientes que eu ia eram sempre frequentados somente pela ralé, tentei promover uma festa em que só pudessem entrar os que frequentemente eram postos pra fora nas outras festas. Mendigos, bêbados, chatos, fracassados, cachaceiros, os inconvenientes em geral. Botei fé no negócio. A festa de inauguração quase bombou: antes do dono do botequim, revoltado, acender o pavio da bomba caseira, nós, os frequentadores do rega-bosta, rapamos fora rapidinho.


O convite da festa de inauguração: ditribuído em todos os pés-sujos da cidade.




A carteirinha de sócio: Inacesso total!


Ffoto do primeiro e último evento promovido. Comidas e bebidas à vontade ( ovos coloridos, rabo-de-galo, cigarro Derby e cerveja Krill).



A foto acima flagra o ponto alto da animação da festa.



















domingo, 11 de janeiro de 2009

CARTUNISTA FRACASSADO


Descobrindo que pipocavam vários concursos de humor gráfico pelo Brasil afora ( com prêmios altíssimos), cismei que is ser cartunista. Mas havia um problema: eu não sei desenhar nada e não tenho o mínimo senso de humor. Para tentar maquiar essas deficiências, criei um personagem de tirinhas ( daquele modelo clássico de três quadrinhos) que fosse um “cartunista iniciante que não sabia desenhar nada e sem um mínimo senso de humor”: KABAÇO O CARTUNISTA SEM GRAÇA E SEM TRAÇO. Metalinguagem das mais rastaqueras, admito. Empolguei-me tanto com o lance que fiz ( juro!) mais de 400 tirinhas. Mandei o calhamaço para tudo quanto é jornal, revista, cartunistas consagrados e enviei-os para mais de 30 salões de humor. Rejeição total.





























sábado, 10 de janeiro de 2009

FRACASSADO FRACASSADO


Meu mestre, Agonia, despedindo-se de mim depois de deixar-me atormentado com as suas sábias palavras.

Dia desses eu me encontrei com um amigo e sentamos pra tomar umas brejas num botequim daqui de Barra do Piraí.

Pedi o gelo. E, antes de nos sentarmos, ele já foi disparando:

-Qual que é rapá? Cê tá pensando o quê? Que é o único fracassado do mundo? O maior fracassado do mundo? Li o seu blog ontem, achei uma merda!

- Mas a idéia é justamente essa! Que o blog seja uma merda, assim como o seu autor. Nessa você não me pegou não!

- Tá, mas pra que fazer essa merda de blog?

- Fiz porque quis fazer, porra ! Só quis reunir meus fracassos em textos e fotos nesse blog pra ter alguma coisa pra fazer, pra ficar menos à toa, já que, como um merda depressivo, quase nunca tenho alguma coisa de interessante pra fazer. – respondi puto.

- É mermão, mas lendo o que você postou até hoje, percebo que você nem é tão merda assim.

- Como assim, porra? Tá lá, tudo comprovado com foto: decepções, fracassos, derrotas, a biografia de um verdadeiro merda! Um bosta!

- Só que o seu grau de “merdice” nem chega perto dos fracassos de um amigo meu, o Agonia. Ele é o “rei do fracasso”. Ele é que é um verdadeiro bostão! Você perto dele é um Eike Batista!

- Agonia? Quem é esse cara? Ninguém me tira trono de “o cara mais merdão e fracassado do mundo”! Quem é esse cara?

- Porra o Agonia é o cara mais derrubado que já vi ! Sei pouco dele, mas o que sei já dá uma dó danada. Só se dá mal: é mais feio do que você, mais pobre, tem menos estudo e, pior - pra aumentar o azar dele - ainda é mais ambicioso, o que faz com que ele se meta em mais furadas e fracassos ainda. O cara fracassou em todas as profissões que se meteu, até como ator pornô em filmes de travesti ele se fudeu. Nos dois sentidos da palavra. Ah! Ah! Ah!

- Até como ator pornô em filmes de travesti?

Porra, o cara devia ser bom mesmo! Ator pornô em filmes de travesti eu nunca tinha tentado ser. Nem tentaria. Pra ser ator pornô em filmes de travesti fracassado tem que ser um merda de verdade. O cara era profissional no ramo. Era fodão! Eu comecei a ficar com inveja do tal Agonia.

- Quero conhecer esse cara! Duvido que, botando na mesa - vá lá, ainda que ele tenha sido ator pornô em filme de travesti fracassado - ele ganhe de mim em quantidade de fracassos. Eu é que sou o merda! Eu é que sou o merda!

- Não sou muito entendedor dessas coisas, mas me parece que em tratando-se de fracassos, o que vale mais é a qualidade e não a quantidade.

De certa forma, concordei com ele. Mas eu tinha que tirar a prova!

- Me apresenta esse cara!

- Tá, porra! Pára de encher o saco. Amanhã eu falo pra ele vir aqui nesse mesmo horário procês se degladiarem. Mas acho que cê vai se fuder! Vai por mim...

Saí dali atormentado pela idéia de poder ser destronado. Ninguém tinha o direito de ser mais merda do que eu!

No dia seguinte estava eu, novamente, lá no tal botequim. Ansioso. Olhando para baixo, tenso, perna direita quicando de ansiedade. Esperando o meu poderoso adversário.

Eu tava quase desistindo quando de repente chega um cara no balcão, com cara de choro, e pede um copo cheio de rabo-de-galo. O cara era feio pra caralho. Exalava depressão, baixo-astral. Vi que, pela cara,que o camarada tava agonizando mesmo. Caralho! Agonizando! Só podia ser o tal Agonia!

- Agonia? – perguntei firme.

- Não!

- Você não é o Agonia? O famoso Agonia?

- Famoso eu? Um bosta como eu nunca ia ser famoso...

Era o Agonia mesmo, só podia ser.Tinha me desarmado. Golpe baixo.

E pediu mais uma dose de rabo-de-galo. E, cara de choro, pediu fiado! O cara era bom mesmo. Me desarmou. Veio bem preparado.

- Agonia, cê sabe por que tá aqui e eu também. Vamos tirar nossas diferenças logo!

- Que diferenças ? Você é muito melhor do eu, admito. Já pode se considerar vencedor.

Porra! O cara era um estrategista nato. Ali era um jogo de xadrez. Me considerar, antecipadamente, um vencedor, fazia com que ele é que fosse o vencedor, já que o perdedor, no caso ele, é que venceria. No xadrez, aquela situação ali seria como um xeque em mim. Mandei na lata:

- É verdade que você já foi ator pornô em filmes de travesti fracassado ?

- É que por ter um pau de 8 centímetros, mesmo sendo heterossexual, só fiz cenas em que eu era passivo. Só travesti pirocudo! E eu não agüentei o rojão e pedi arrego. Saí no meio das filmagens.


Porra, meu pau era maior do que o dele. Muito maior por sinal. Ponto pra ele. E ele foi um heterossexual estuprado por travestis pirocudos num filme, sem ganhar nem um centavo pra isso, já que havia desistido de terminar as filmagens. Mais cinco pontos pra ele.

- Qual que é mermão? Você foi porque quis. Sabia muito bem onde tava se metendo. Ou se metido – eu me arrependi imediatamente da piada, já que dava mais pontos pra ele. Isso foi conseqüência da sua escolha!

- Quem me dera fosse por diversão! Eu me inscrevi como ator desse filme pra levantar uma grana pro tratamento de aids que eu peguei quando me fizeram uma tatuagem à força na prisão, coma agulha contaminada.

Um jeb no meu queixo. Ex-prisioneiro. Aidético. O cara era um mestre. Levantou o braço e me mostrou a tal tatuagem. Era um desenho escuro, comprido, meio turvo que eu não consegui distinguir direito.

- Que porra de desenho é esse ?

- Um tolete...

- Um toalete? Não tô entendendo. Um banheiro?

- Um tolete! Um tolete de merda! Me tatuaram um tolete de merda no braço porque meu apelido na prisão era o Bostão.

Porra, Bostão soava mais forte do que O Merda. Mais três pontos pra ele. Bostão era bom. Dei-me por vencido. O cara nem ia precisar de contar o resto dos fracassos dele, já tinha dado xeque-mate. Quase que eu contrariei a regra do mundo dos merdas que é ter pena de outro merda. Meu coração apertou, mas resisti. Não tive pena. Se tivesse, definitivamente daria-me por vencido. Um merda nunca pode ter pena de outro merda. Mas, ao menos tentei ajudá-lo.

- Cara, você é um mestre! Você tem que contar a sua história pro mundo. Todos os merdas do planeta vão te venerar! Por que você não faz um blog como eu cara?


- Ninguém nunca veneraria um merda como eu... E eu não tenho internet, não sei mexer em computador, nem grana pra pagar lan house eu tenho.

Meu mestre. Paguei mais um rabo-de-galo pra ele. Ele me agradeceu humilhando-se de cabeça baixa.

Eu disse, reconhecendo a minha derrota:

- Você definitivamente é muito pior do que eu. Dou-me por vencido. O meu camarada ontem tinha razão. Eu sou muito melhor, mais bonito, mais rico, tenho acesso à internet, não tenho tatuagem de um tolete de cocô, nunca fui estuprado nem preso, não tenho aids e ainda tenho o pau muito maior do que o seu!

Agonia ouviu o que eu disse. Tomou o rabo-de-galo numa talagada só. Com os olhos esbugalhados, deu uma golfada e vomitou o rabo-de-galo no meu pé. Pediu desculpas.

Saiu dali de cabeça baixa. Limpando o vômito na barra da camisa. Agradeceu novamente pelo rabo-de-galo. Pediu desculpas pelo vômito. Eu resignado pela derrota, despedi-me do meu mestre que saiu cambaleando.

Do meio do caminho, ele voltou e, com a mão nos meus ombros, sem olhar nos meus olhos, disse-me.

- Esquenta não rapá! Continua lá com o seu blog. E outra coisa: se você foi derrotado por mim em questão de fracassos, você é quem foi o perdedor. Portanto o ganhador. Você que é um verdadeiro fracassado.

Saiu deixando ecoando suas palavras na minha cabeça. Fiquei confuso. O cara teve pena de mim. O cara teve pena de mim !


Me senti, orgulhoso, um verdadeiro merda.




quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

CARECA FRACASSADO


Meu irmão, o Adolfo, com seu bigodinho, triste pela distância dos recém-amigos.


Eu, olhos rasos d'água, lembrando a saudação dos nossos amigos.



Em 2006,as lêndeas e os piolhos tinham infestado novamente o meu cabelo [ ver ROTEIRISTA FRACASSADO] e tive que raspá-lo com máquina zero. Estava num baixo-astral danado. Careca e sem ninguém pra conversar. Às vezes conversava com o meu irmão, o Adolfo, quando ele tinha tempo ( mulher, filho e tal). Como não sou de muitos amigos, os poucos que me restaram acabaram se afastando por conta das próprias obrigações de suas vidas. Desabafando isso com o meu irmão, ele me disse:

- Porra cara! Arruma alguma coisa pra fazer, pra distrair a cabeça! Vai num lugar onde você possa fazer novas amizades! Já sei: começa a malhar, cara! Assim você mata dois coelhos com uma cajadada só: cuida da saúde, perdendo essa banha cultivada em anos de sedentarismo, e quem sabe você não faz umas amizades lá?

- Sei não...Nunca me meti nesse negócio de malhar em academia e, nas poucas vezes que passei em frente de uma, tive a impressão de que os caras marombados são meio marrentões, antipáticos. Neguinho vai rir da minha pança gorda quando eu entrar numa academia dessas.

- Qual é rapá? Desencana! Eu já malhei em duas academias daqui da cidade e sempre fui bem recebido. Eu não esquento com esse lance do que pensam sobre mim não. Sou totalmente calvo e foda-se! Uma porrada de gente acha estranho esse bigodinho que eu deixo, mas eu tô cagando e andando. Cê você quiser, eu vou contigo e a gente malha juntos. Eu soube que inaugurou uma academia semana passada e a mensalidade é baratinha. Vamo lá ver qual é porra!

Meu irmão havia me convecido. Apesar de ser mais novo, tinha experiência no ramo, já que malhava desde os dezoito anos. É um camarada gordão, mas parrudo pra caralho. Deve ter uns cento e vinte quilos. Estilo lutador de luta-livre. Me espelhei nele e decidi começar a malhar. Marcamos pro dia seguinte e, no horário combinado, chegamos na frente da tal academia. Estava lotada. Só camarada parrudão de cabeça raspada. Deve ser uma investação coletiva de piolhos, pensei. Todos de cara amarrada. Ao entrarmos, imediatamente pararam de puxar peso e olharam pra nós.

- Tá vendo! Já tão olhando pra gente de cara feia. – respondi tremendo na base.

- Esquenta não cupadi. – respondeu meu irmão cheio de segurança.

- Vou tentar dar uma descontraída e cumprimentar os caras.

- Oi! – eu disse alto, olhando para todos.

Todos imediatamente se entreolharam e se levantaram juntos, como numa disciplina militar, eretos, de pé, braços direitos esticados para mim e para o meu irmão:

- Oi! Oi! Oi! – gritaram aproximando-se, todos, ao mesmo tempo, de nós.

- Galera simpática, né? - eu disse pro meu irmão - Nem riram nem debocharam do seu bigodinho. E nem poderiam rir da nossa careca, já que todos aqui também tiveram piolhos. Tudo careca como a gente.

- Vocês são carecas como a gente! – disse para eles já rindo pra caralho da coincidência. Piolho é foda! – pensei.

Todos começaram a rir e nos abraçaram. Achei aquilo maneiro. Simpatia total dessa moçada.

O mais parrudo deles olhou pra careca e pro bigodinho do meu irmão e perguntou:

- Qual é o seu nome?

- Adolfo – meu irmão respondeu em alto em bom som.

O cara com uma cara de incrédulo, duvidou. Meu irmão pegou a identidade e mostrou pra ele.

- Meu nome é Adolfo! Taqui ó!

A academia inteira nos cercou. Esticaram, novamente, o braço direito na nossa direção. Devia ser uma espécie de saudação de caras gentis, pensei. Recebemos calorosos abraços. Disseram que éramos muito bem-vindos, que era uma honra nos receber. Começaram a gritar Oi! Oi! Oi! Oi! Oi! Oi! Oi! Oi! Oi!.

Essa gente gosta mesmo de cumprimentar, pensei.

Em seguida, nos chamaram prum barzinho perto dali e começaram a pagar cerveja pra gente. Disseram que era por conta deles. Adoraram o meu irmão. Gritavam com copos na mão esquerda: Adolfo, Adolfo, Adolfo! Toda hora vinha um esticar o braço na direção dele e dizer Oi!, e ele não entendendo porra nenhuma, respondia e correspondia com o sinal.

Saímos dali totalmente bêbados e felizes com os nossos novos amigos de academia. Exigiram a nossa presença no dia seguinte. Disseram que o meu irmão era o ídolo deles. Ficamos extasiados com a receptividade dessa galera marombeira. Fiquei envergonhado por ter sido preconceituoso e tê-los julgado sem conhecê-los, sem conhecer seus corações e atitudes puras e cordiais.

No dia seguinte partimos saltitantes para a academia da rapaziada gente boa. Chegamos lá e estava fechada. Perguntamos pro cara do restaurante vizinho o que tinha acontecido e ele nos disse que todos tinham sido presos.

- Presos?? Como assim presos? Aqueles caras eram um doce de pessoas, não seriam capazes de fazer um mal nem a uma mosca!

O cara do restaurante disse que corria um boato de que os caras da academia tinham saído de um bar bêbados no dia anterior gritando Oi! Oi! Oi! Oi! Oi!., e que haviam se metido em brigas com alguns travestis e uns nordestinos de um barzinho perto dali, e que a briga se estendera pra perto da sinagoga que tem lá na rua Franklin Jarbas e uns judeus haviam entrado também. A pancadaria tinha sido geral!

Porra! Cidadezinha do interior é foda! É só aparecerem uns caras maneiros, a fim de fazer novas amizades, dizendo Oi! pras pessoas que são mal interpretados. Acabam apanhando, justamente por quererem um mundo mais amigável e mais justo. Infelizmente tem gente que ainda é preconceituosa pra caralho!

Meu Deus, esse mundo tá uma violência só!

Galera meneira. Saudades.

MUSO INSPIRADOR FRACASSADO


A banda Zé Oito no exato momento em que prestava-me a homenagem ( nesta foto acima, quem está carinhosamente cantando é o backing-vocal Lucio Punkão).





Três da tarde do dia 12 de maio de 2005. Em casa numa deprê danada, o telefone toca. Do outro lado da linha:

-E aí rapá, comequicetá? Beleza?

Era o Léo Murunga, amigo de infância, que eu já não mantinha contato já há um tempinho - desde quando tínhamos uma banda de pagode romântico o Plebeus do Samba ( ver PAGODEIRO ROMÂNTICO FRACASSADO) – e que, sabiamente, ao afastar-se da minha aura fracassada, desligara-se do samba e acabara tornando-se um ortodontista bem sucedido e cantor e guitarrista de uma promissora banda de rock chamada Zé Oito.

http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewProfile&friendID=90229190



http://tramavirtual.uol.com.br/galeriaArtista.jsp?id=761489


Excelente banda que faz uma mistura de ska, hardcore, surf e reggae. Ótimos músicos, som do caralho, letras autênticas. Muitos shows e respeito do meio do rock. Ouvindo alguns dias antes algumas gravações, tornara-me um fã da banda.

- Beleza brother, tá sumido véio! Quê que anda fazendo ? – respondi feliz, mas intrigado com a inesperada ligação.

- Vou dizer sem rodeios meu chapa. Hoje à noite faremos um show em Volta Redonda, num festival de rock ducacete chamado Freakshow, e compus uma música nova que tocaremos pela primeira vez nesse evento. A letra dessa música é em sua homenagem. Como eu te conheço desde molequinho, tentei resumir nessa composição tudo o que eu e a galera chegada sabe e acha de você. Nosso muso inspirador. Faço questão da sua presença velho. Vai ser ducaralho! Se liga! Vai ser hoje, às vinte horas em ponto, no Memorial Getúlio Vargas em Volta Redonda. Esteja lá, sem falta!

Fiquei parado ali mesmo, pasmo. Mudo. Estupefato. Minhas pernas tremiam. Coração aos pulos, sentia que, enfim, algo em mim tinha ou teve valor. Coloquei o telefone no gancho sem me despedir, tamanho o nervosismo. Uma letra em minha homenagem!

Sentei-me ali, ao lado do telefone. Delirava de orgulho. Uma homenagem em vida! Pelo conjunto da obra. A glória! Lembrei-me de uma parte da letra da canção "Quando eu me chamar saudade" de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito:

Sei que amanhã Quando eu morrer


Os meus amigos vão dizer


Que eu tinha um bom coração


Alguns até hão de chorar


E querer me homenagear


Fazendo de ouro um violão


Mas depois que o tempo passar


Sei que ninguém vai se lembrar


Que eu fui embora


Por isso é que eu penso assim


Se alguém quiser fazer por mim


Que faça agora.


E esse amigo fez! Uma letra em minha homenagem! Caí aos prantos. Porra, uma letra em minha homenagem! Poucos foram os que receberam homenagens musicais. Só gente legal, importante. Só personalidades que haviam contribuído com algo relevante para a humanidade tiveram esse privilégio. Romário era um que tinha recebido homenagem em letra de música. Renato Russo, Cazuza, Roberto Carlos, Machado de Assis, Tião Carreiro, Enio Morricone, Paulo da Portela, Madre Tereza de Calcutá, Tim Maia, Chaplin, Gandhi, Hermeto Pascoal, Betinho. Essas celebridades, como eu, tinham sido homenageadas em letras de canções. Carlinhos Brown prestara homenagem a Gilberto Gil. A banda de rock Dr. Sin ao Rogério Ceni. Beethoven, quando fora professor de piano do arquiduque Rudolf, havia escrito em sua homenagem Concerto triplo em dó maior opus 56, para violino, violoncelo, piano e orquestra. Eu também havia recebido uma homenagem. Eu era um deles. Um duque. Um vencedor. Um homenageado. Um muso inspirador.

Olhei no relógio. Havia me perdido nas minhas divagações. A hora tinha passado. Já era seis da tarde.

Peguei o meu melhor terno, o marrom-claro. Gravata preta. Cinto cor de baunilha combinando com o sapato. Gel no cabelo. Olhei no espelho, tava na estica! Um duque prestes a ser homenageado!

Ônibus lotado. Quarenta minutos de viagem.

- Paz do senhor! – falou um camarada evangélico dentro do ônibus, olhando pro meu terno e pro meu cabelo brilhosão de gel. Deve ter achado que eu era pastor. Não me deixei abalar. Eu era um duque.

-Vai se fuder! – respondi do alto do meu garbo de futuro homenageado!

Dezenove e quarenta. O local fervilhando de gente. Zé Oito ia ser a primeira banda a tocar. "E a me homenagear" ( pensei orgulhosão). Decidi não beber nada pra não perder nenhum segundo da emoção. Tava - raríssimo isso – de cara limpa. Fiquei na beira do palco. Olhei em volta. Olhei pra mim, o Duque. Conferi o vinco da calça do terno. Gravata alinhada. Cinto cor de baunilha combinando com o sapato nos trinques.

Vinte horas em ponto. Anunciam a banda. Frio na barriga. Pernas bambeando. Em poucos segundos todos ali saberiam que eu não era um merda. Olhei pra trás e vi uma multidão eufórica esperando pela entrada da banda.

Zé Oito! Zé oito! Zé Oito! Zé oito! Zé Oito! Zé oito!

Apagam-se as luzes.

Minhas pernas ameaçam vacilar de nervoso. O calor dentro do terno era insuportável. Coração quase na boca. Vontade de cagar. Nervoso. Começo a ter vertigens. Tento me controlar. Duque homenageado! Pensava nisso pra me dar resistência e forças pra não desmaiar de emoção.

No palco aparece meu amigo de fé e irmão camarada Murunga, empunhando sua guitarra e ajustando o microfone. A banda se posiciona. Um altíssimo acorde distorcido da guitarra chama a atenção de todos. As luzes todas se acendem ao mesmo tempo. Murunga no microfone anuncia a banda.

A multidão tomada de êxtase responde: Zé Oito! Zé oito! Zé Oito! Zé oito! Zé Oito! Zé oito!

Sua voz, alta pra caralho, nas caixas gigantescas pede uma pausa para os músicos. Antes de dar mais um acorde, Murunga aponta pra mim no meio da multidão e fala:

- Vamos tocar uma música nova em homenagem a um amigo nosso que, por seus notáveis feitos, e por sua ilibada vida, mereceria muito mais do que isso. É aquele cara ali. O nome dele é Alexandre, mas na época do nosso grupo de pagode romântico, ele atendia por Xerôso. Nosso muso inspirador!

Todos na multidão olham pra mim. Vão se afastando aos poucos e o canhão de luz me destaca. Uma câmera joga a minha imagem nos telões gigantes.

É agora! Minhas façanhas, minha arte, meu talento,minhas glórias e meus méritos cantados em vários decibéis para todos ouvirem. Ameaço desmaiar, me seguro. Cara encharcada de suor. Calor! O terno abafando. Determinação e resist~encia para resistir ao forno dentro do terno. Orgulho de ser famoso, importante, glorioso.

Murunga deda a guitarra e grita aos berros em plenos pulmões:

- Agora com vocês, a nosso nova música, em homenagem ao Xerôso: DEUS TÁ VENDO!

E guitarra, baixo, bateria, saxofone, trompete explodem num som gigantesco, redondo, perfeito, acompanhando a letra que eu estava conhecendo ali, junto de todos:


Deus tá vendooooooooo!

Faz pipoca em molho de picanha
Como arame liso,só cerca e não arranha
Planta bananeira em shows de pagode
Qualé,cumpádi,desse jeito não pode

O problema é o espaço entre a ID e o alter ego
Bronha demais pode até te deixar cego
Tá achando que o mundo acaba em cachaça
Nome é Xeroso,sobrenome manguaça

Deus tá vendooooooooo!...




Nem consegui terminar de ouvir o resto da canção. Desmaiei ali mesmo.


quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

ATEU FRACASSADO

Eu, ateísticamente, blasfemando contra a data suprema do catolicismo: a Páscoa.

Eu, na minha infinita ignorância, sempre achei que tinha resposta pra tudo. Presunção e arrogância que, acredito, levarei para o caixão.

Já participei de quase todas as religiões [ ver CATÓLICO FRACASSADO, ISLAMISTA FRACASSADO , KARDECISTA FRACASSADO, UMBANDISTA FRACASSADO, BUDISTA FRACASSADO, JUDEU FRACASSADO, MAÇON FRASASSADO, ROSA CRUZ FRACASSADO, MÓRMOM FRACASSADO, SEICHO-NO-IÊ FRACASSADO, EVANGÉLICO NEO-PENTECOSTAL FRACASSADO ], e entusiasmado com um livro de Richard Dawkins ( “Deus Um Delírio”) comecei a ler textos anti-católicos a fim de me tornar um ateu. Tornei-me. De carteirinha. Enchendo o saco de todo mundo. Não aturava as crenças alheias Quando vinham falar de Deus, eu praguejava. Era ateu, e não agüentava mais aquilo de religião.

Minha avó é evangélica fervorosa; minha mãe seicho-no-iê; meu irmão kardecista. Meus amigos, todos, professando de uma fé. Só eu, ateu.

Intolerante, tornei-me um ateu militante, radical. Anti-religioso fanático, chegando ao ponto de freqüentar diariamente um site na internet que tratava do assunto. Nessa época eu considerava que a ciência poderia ser usada na produção de coisas ruins como a bomba atômica, mas por si mesma não levava a ações malignas, e argumentava que, entretanto, fazer coisas horríveis era uma parte lógica do processo de acreditar em Deus. Bradava furioso, aos quatro ventos, que os dezenove homens que perpetraram os ataques de 11 de setembro de 2001 talvez não fossem naturalmente malignos, mas eram profundamente religiosos. E eu dizia que esses terroristas achavam que o que estavam fazendo era correto segundo o que acreditavam, chegando a essa conclusão de uma forma lógica a partir de seus textos religiosos. Considerava que para um ateu, seria impossível realizar um ato similar a partir de uma racionalização lógica. Euo, nessa época, chegara a perder várias amizades para defender essa tese.

Até que, um dia, deixei de ser tão radical. Continuava ateu, mas tolerava a religião alheia. Explico o motivo dessa mudança: cheguei a essa conclusão da tolerância, do respeito, no dia em que, ao despedir-me, saindo da casa de minha avó, flagrei-me num “Bença, fica com Deus vó”. E vi que tinha sido sincera essa despedida. Não que eu quisesse que ela ficasse mesmo “com Deus”, mas que ela ficasse bem, e a maneira mais adequada que eu encontrara para dizer isso pra minha avózinha fora nessa frase “Bença, fica com Deus vó”.

Passei, então, a me considerar meio-ateu porque não acreditava em Deus, mas acreditava na fé dos que acreditavam. Respeitava aquilo que eles chamavam de fé, que eles tinham, mas que eu não tinha e nunca havia pensado na possibilidade de ter. Respeitava, mas cada um na sua né? Sem me encher o saco com fanatismo. E os meus parentes perceberam isso, porque eles passaram, também, a me respeitar, não me aporrinhando com essa chatice de religião.


O “Bença, fica com Deus vó” servira como uma espécie de epifania na minha vida. Passei a me dar melhor com as outras pessoas ( no bom sentido, é claro) e até comigo mesmo. Tornei-me muito mais paciente com as crenças alheias. Continuava “meio ateu” , disso eu tinha certeza. Continuava flertando as com teorias anti-religiosas de Nietzsche e permanecia participando de discussões acaloradas sobre o tema. Já que sempre fui darwiniano convicto.

Depois do “Bença, fica com Deus vó”, elaborei uma teoria que havia batizado de “ Não rogai Teu semântico nome em vão”. Escrevera até uma artigo defendendo a necessidade inescapável de ter que usar o nome de Deus para melhor expressão em algumas situações.


Esse artigo “ Não rogai Teu semântico nome em vão” começa dizendo:

“Regozija-se por alguém que inesperadamente consiga propiciar uma solução para a difícil situação: haveria como melhor expressar as circunstâncias mais relevantes da vida, se não proferindo o Santo nome?”

E, a seguir, relacionava várias frases:

“Quando desfalecia em mim a minha alma, da dor da solidão, sem nem um irmão ao ombro, só pude pensar: “ Sozinho e Deus” ;

“Filho pecaste? Não o faça mais. Deus está vendo.”;

“Então não dirias tu, com teus olhos rasos d`água, se acaso estiverdes a despedires do teu rebento de asas prontas para ganhar o mundo, apenas “Deus te ajude” ?”;

“E lhe responderia o filho pródigo, de coração apertado, afastando-se: “Deus te ouça”, pai.”.

Entre outras frases usando o Santo Nome, como: Deus à ventura, Levar Deus para si,Vá com Deus,Deus lhe pague,Ela se dá com Deus e o mundo, Deus queira que, Graças a Deus, Deus-me-livre, Deus nos acuda, Louvado seja Deus,Ao Deus-dará,Pelo amor de Deus,Ver a Deus pelos pés,Fiquem com Deus e Meu Deus do céu.

Modéstia à parte, ficou do caralho o tal artigo.

Mandei-o pruma porrada de revistas e jornais. Recusa total. Não consegui publicar o artigo até hoje [ ver ARTICULISTA FRACASSADO].


Mas, se Deus quiser, alguém há de publicá-lo





PAGODEIRO ROMÂNTICO FRACASSADO

O único show da banda de pagode romântico em que eu participava tocando para uma platéia de quatro pessoas ( barbudos).

Primeira metade dos anos noventa vários grupos de pagode romântico estavam batendo recordes de vendas de cds, aparições constantes na TV e lotação em shows. Era a febre do momento. Grupos como Raça Negra, Katinguelê , Negritude Junior, Exaltasamba , Molejo , Gera Samba , Soweto , Sem Compromisso , Os Morenos, KaraMetade , Sensação ,Cravo e Canela , Só Pra Contrariar, Pique Novo, Boka Loka ,Sorriso Maroto ,Só preto sem preconceito , Swing & Simpatia, Os Travessos, Art Popular, Irradia Samba e Kaô do Samba, entre vários outros, ocupavam quase que unanimemente os espaços nas rádios e programas de televisão. Participar da Banheira do GUGU era o ápice.

Poucos foram artistas em toda a história da minha cidade que tornaram-se notáveis nacionalmente. Seja em qualquer manifestação artística. Mas um grupo de rapazes daqui de Barra do Piraí, nesse começo da década de 90, foi o mais bem sucedido. Eram os Playboys do Samba. Músicos, também, de pagode romântico. Timidamente começaram a tocar nos pequenos clubes da cidade e , pouco tempo depois, já estavam tocando nos grandes clubes e na Exposição Agropecuária: o maior evento da cidade que chega a reunir milhares de pessoas num só dia.
Músicas lentas e românticas como “Solidão” e mais divertidas como “Apaga a luz” seduziram os ouvidos das gatinhas da cidade.

Sucesso local imediato: fã-clube, gritinhos histéricos de menininhas apaixonadas.
Após o primeiro CD, a coisa começou a tomar uma proporção maior. Shows em vários programas de TV. Até no programa da Xuxa chegaram a tocar.

Como nessa época não havia muitas alternativas de lazer na cidade, era quase que inevitável, pra quem quisesse tirar o saci da toca ( fazer um sexo gostoso) frequentar os shows dos Playboys do Samba, que tava cheio de gatinhas. E eu ia e sempre não pegava ninguém, já que 100% das mulheres que iam, ficavam embasbacadas com o sucesso e o sex-appeal que a banda promovia. Eram, admito, boas-pintas os caras da banda. Figurino estiloso, presença de palco. Faziam o que tinham que fazer, conforme o que o estilo de pagode romântico exigisse. Portanto eu não podia dizer se eram bons ou maus músicos, isso era uma questão de gosto. Tocavam pagode romântico e pronto.

Só me intrigava o nome: Playboys do Samba.

Segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira , Samba é definido da seguinte maneira:

“O samba é um gênero musical e um tipo de dança de raízes africanas surgido no Brasil e é tido como o ritmo nacional por excelência. Considerado uma das principais manifestações culturais populares brasileiras, o samba se transformou em símbolo de identidade nacional, predominantemente tocado e curtido por pessoas humildes. Cantado nos terreiros das escolas de samba ou nos chamados pagodes - habituais reuniões festivas, regadas a música, comida e bebida -, o samba tem suas origens nas umbigadas africanas e é a forma de samba que mais se aproxima da origem do batuque angolano, do Congo e regiões próximas. O samba tem origem entre os desvalidos e miseráveis. O samba, por ser um gênero criado no morro é estilo autenticamente popular, que costuma ser acompanhado por um pandeiro, um tamborim, uma cuíca e um surdo. Suas letras em geral tratam de temas diversos como malandragem, mulheres e o cotidiano nos morros e favelas cariocas.

Depois de surgir nas rodas de samba no bairro do Estácio, o samba-de-morro rapidamente se espalhou pelos morros da capital fluminense e teve no Morro da Mangueira um de seus principais redutos, de onde saíram nomes como Cartola, Carlos Cachaça, geraldo pereira e Nelson Cavaquinho.

Ignorado por quase duas décadas - época em que surgiram vertentes como a Bossa Nova -, o samba foi revalorizado a partir da década de 60, com destaque para os veteranos Zé Kéti, Cartola, Candeia além de Elton Medeiros, Monarco, Monsueto, entre outros.”

E Playboy, segundo o livro “ As tribos juvenis” de Rafaela Gusmão, é definido assim:

“ Playboy é um estilo de vida ou esteriótipo onde o indivíduo não possui classe social determinate, sendo a maioria de classe média,. (Play: jogar, se divertir; Boy: moço, garoto).

O termo foi criado no início da década de 50 quando os Estados Unidos passavam por grande onda de prosperidade. Homens filhos de famílias que haviam enriquecido começaram a dedicar seu tempo integral a festas, relacionamentos e esbanjar dinheiro. Em 1953 uma reportagem do New York Times foi a primeira referência a eles descrevendo como era a vida dos jovens ricos da cidade.

São uma tribo urbana, se interessam por moda (muitos levam o título de metrossexual, utilizam atitudes comportamentais da alta classe, como etiqueta, procuram vínculos com a elite, são estudiosos por se preocuparem com a geração de suas famílias e buscam popularidade e contatos para fins sociais e profissionais. São as versões masculinas das patricinhas. Gosto musical geralmente voltado para o pop, música eletrônica e suas ramificações (excluindo o funk, e o samba, por estarem ligados à pobreza e à periferia). Utilizam sempre trajes de estilos mais clássicos e de grifes famosas. A até mesmo em momentos de discussão e críticas (correlação com a questão comportamental da elite, a qual utiliza o tom cínico durante um envolvimento de discussão). Playboys são mais identificáveis através da personalidade arrogante, do que pela vestimenta. Não poupam repúdio à pobreza e, muitas das vezes, pregam o preconceito racial.

Existem ainda falsos playboys, os quais adotam apenas o estilo da roupa, assemelham-se com a tribo com o que obrigatóriamente deve possuir na personalidade, como caráter elitizado nos gestos e na fala, classe ,status e aparência de boa educação, ainda que seja totalmente falso.”

Playboys do Samba então era uma contradição em termos, eu matutava.

Mas eu não queria implicar com os caras. Que eles fizessem mesmo sucesso nacional e levassem o nome da nossa cidade pro Brasil inteiro, mesmo que tocando pagode romântico.

Não era lá o meu estilo musical. Eu, nessa época, tocava numa banda de Rockpsichobilly chamada Engodo We Trust ( ver ROQUEIRO FRACASSADO). Éramos eu ( com a alcunha de Xerôso) no contrabaixo, Léo Murunga na guitarra, Lucio Punkão no vocal e Rato Mameluco-Power na batera. Fazíamos pouquíssimos shows e a platéia era só de marmanjos roqueirões cachaceiros. Lucio Punkão durante as apresentações, acho que devido à euforia de estar cantando, sempre tinha ataques epiléticos no palco. Os roqueiros iam à loucura. Nossas letras tinham títulos como Colonoscopia, Mortadela com bacon, Suck My Saco, Carne Esponjosa, Caguei no Scargot e Zé do Caixão the God. Além tocarmos de covers de bandas famosas no meio do rock com nomes estranhos como Gangrena Gasosa, Replicantes e Los Bronhas.


Definitivamente não iríamos atrair gatinhas, como os caras do Playboys do Samba, com esse tipo de música que tocávamos ( apesar de ser o tipo de som que curtíamos).

Bateu uma depressão coletiva.

Colocando na balança, chegamos a conclusão, por unanimidade, de que a nossa banda teria que mudar de estilo e passar a tocar pagode romântico. Chega de cachaça e rock pauleira. Precisávamos de buceta.

Mas, antes que começássemos a compor e ensaiar pagodes românticos precisávamos de um nome. Um nome de impacto. Já que declaradamente invejávamos os Playboys do Samba, os bonitões riquinhos da cidade, precisávamos de um nome à altura dos nossos inspiradores. Mas, porra, éramos totalmente o contrário dos caras: éramos feios, sem grana, sem talento musical e odiávamos pagode romântico.

Até que sugeri o nome Plebeus do Samba. Todos gostaram e aprovaram. Começamos a compor pagodes românticos. Em três meses compomos quatro canções: “Teu pai tem terra?” , “ Playbackstreetboysoffsamba”, “ Lamba meus Testículos" ( nessa aí, uma declarada uma versão da antiga canção do Engodo We Trust, “Suck My Saco” ) e “ Papai me empresta a chave do meu rabo ?”.

Ensaiamos exaustivamente e, cinco meses depois, considerando-nos prontos para partilhar o estrelato no pagode romântico com os nossos conterrâneos, começamos a correr atrás de shows.

Só que não percebemos, nessa eternidade de ensaios para aprender a tocar esse gênero musical ( até então, novo pra nós ) que o pagode romântico estava em plena decadência. Os Playboys, infelizmente, tal como um meteoro, caíram violentamente no ostracismo antes mesmo que conseguissem ficar ricos com a música. Menos mal, já que eram mesmo de famílias ricas e sabiamente correram pra barra da saia das suas mães.

Fudidos mesmos ficamos nós, que, além de perdermos a bocada, acabamos desaprendendo a tocar rock de tanto ouvir e treinar o romantismo pagódico.

Ironia do destino dos invejosos: sabe o que estava fazendo sucesso entre as menininhas nessa época? Bandas de Rockpsichobilly com letras escrotas.

ESCRITOR FRACASSADO IV


Escrevi no ano passado meu quarto livro ( ver ESCRITOR FRACASSADO I, ESCRITOR FRACASSADO II e ESCRITOR FRACASSADO III).

Chama-se DORES (CRÔNICAS) Uma coletânea de crônicas que relatam todos os problemas de saúde que tive até essa data ( muitas das vezes, acometidos simultaneamente), de uma forma bem grosseira, hipocondríaca e mal-humorada. Nesse livro, acompanhando as crônicas, há, também, ilustrações dos respectivos exames comprovando as ditas enfermidades. Bem baixo-astral. Se houvesse uma segunda edição esse ano, seriam acrescentadas bem mais enfermidades.

Ahhh...E no índice onomástico há a relação dos remédios e os seus respectivos genéricos ( bem interessante).

Não agradou muito. Toda a tiragem ( impressão caseira) tá encalhada lá em casa. E o pior é que nem jogar essa merdaiada toda no lixo eu posso, pra não carregar peso, devido à hérnia na coluna - L3 e L4 ( quem leu, sabe o que é isso).

O índice:

DORES
(Crônicas)

I – CABEÇA

-dor de cabeça crônica ( enxaqueca não! enxaqueca é boiolagem pura !)
-dor de dente ( dói menos que barbeiragem de dentista)
-dor de corno ( um dia você vai ter uma )
-dor d’alma ( divagações líricas de um excretor e poeteiro)
-dor de viver ( síndrome do pânico, paranóia e otras cositas mas)

II – TRONCO
-dor no ciático ( colunista empenado)
-dor de barriga ( caganeira constante: cagadas da vida)
-dor de cotovelo ( incrível: resulta sempre em dor no fígado)
-dor de amor ( os roqueiros também amam, sim senhor )
-dor de refluxo gastro-esofágico ( A famosa “hérnia de hiato”. Ainda bem que não era de ditongo)
-dor de hemorróidas ( recomendação: não leia esta crônica em uma só sentada)

III – MEMBROS
-dor de pitiríase versicolor ( uma coisa de pele)
-dor de luxação recidivante do escápulo humeral ( e olha que eu nunca dei de ombros – de maneira nenhuma! Sai pra lá! )
-dor na ressecção da veia safena parva ( cirurgia desautorizada)
-dor de assadura nas dobras ( obesidade: uma coisa muito mórbida )
-dor de unha encravada ou carne esponjosa ( dói pra caralho mermão! )

DONO DE COMUNIDADE NO ORKUT FRACASSADO

Em 28 de junho de 2005 conhececi o tal Orkut, desencantei-me de cara. Achei uma babaquice danada mas, a fim de tentar tornar aquele “big brother de anônimos” mais útil e interessante, criei uma comunidade que tivesse fins educativos. Sob o nome de Vó Irene, tentei tornar-me uma espécie de conselheira sentimental para orkuteiros aflitos. O nome da comunidade era “Vó Irene Responde”. Pouquíssimas pessoas participaram, e as que mandavam perguntas, quase sempre vinham num tom de deboche. Fiquei puto! A parada era séria. Eu ia usar todo o meu conhecimento junguiano, freudiano,lacaniano e holístico pra auxiliar a rapeize do orkut. Neguinho levou na sacanagem e eu deixei a idéia de lado. Até que acabei me esquecendo da porra da senha de acesso do perfil da Vó Irene e a da tal comunidade. Mas ela ainda tá lá no limbo das comunidades nunca visitadas.

Sem as senhas, nem como apagar aquela porra eu posso.



http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=2951162

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

FANZINEIRO FRACASSADO

O exemplar do Peido de 2006, maior tiragem de todas: 9 cópias.


Soltando o Peido nº 0 , em 1990: “Um estrondo na imprensa” ( impresso em dois modelos de capa, essa acima era a alternativa de capa mais comercial). Alguns acharam um cu.



O lema do Peido nº 2 de 1998 : “ Nesse número, O peido é em preto-em-branco, xerocado, mas se fosse em cores, seria totalmente ( imprensa ) marrom”




Pra quem não sabe o que é fanzine, não tenho paciência pra explicar. Leia:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Fanzine

Eu e o meu amigo Lucio Punkão ( hoje colunista de sucesso no blog bachareisembaixaria.blogspot.com ) tivemos a idéia de fazer um fanzine. Camaria-se O Peido. O primeiro número do fanzine ( o zero) saiu em março de 1990. Esse número 0 do Peido causou certa controvérsia e , iclonoclasta que era, deixou pasmas algumas pessoas da sociedade barrense ( minha cidade, Barra do Piraí) com as virulentas matérias: minhas tias e minha vó. Nossas únicas leitoras. Recebemos delas severas e sinceras críticas bem construtivas. Diante dessa repercussão, ficamos entusiasmados e determinamos que, para uma acuidade e atenção maior ao veículo, a sua periodicidade seria de oito em oito anos. O primeiro número ( após o zero) do Peido saiu em 1998. Onze exemplares vendidos. A transgressão buscada não provocou muito alvoroço. Minha vó, Bárbara Queleadora, já, então, com 96 anos, disse que tínhamos caído na mesmice, na pasmaceira. Que esse lance de colocar foto de buçanha arreganhada já estava ultrapassado e letra do Jesse Valadão não colava mais . Mas, mesmo assim, não nos abalamos e continuamos com o projeto e, conforme tínhamos determinado, o segundo exemplar saiu exatamente oito anos depois, em 2006. Minha vó, já falecida, mas querida crítica-mor do nosso periódico, através de uma sessão mediúnica, incorporou-se num espírita amigo nosso e acusou-nos dessa vez de sermos carolas conservadores, e de que O Peido já não fedia nem cheirava, já era peso-morto. A foto-novela erótica e a entrevista com a Incrível Mulher Jamanta do Circo causou-lhe o maior desagrado.

Aprendendo dia a dia ( ou melhor: de oito em oito anos) com essas valiosas críticas tentamos nos aperfeiçoar sempre.

O terceiro número, aguardem, já está sendo preparado pra sair no dia 25 de março de 2014, lá pelas 14:30h, segundo as nossas previsões. Já estou ansioso pra saber o que a velha vai achar ( já que provavelmente já deve estar reencarnada).

Os conhecedores de fanzine poderiam dizer que pela própria proposta do veículo - distribuição precária e underground - o fracasso, de certa maneira, configuraria um sucesso, já que a busca de um fanzine underground é, sempre, pelo anonimato e o hermetismo contracultural e underground. Mas quando esse desconhecimento beira a distribuição para, no máximo, dez interessados ( enquanto os fanzines mais clássicos, por mais undergrounds que proponham ser, alcançam ao menos centenas de leitores), continuo afirmando que como fanzineiro sou um mega-fracassado.

Se algum infeliz leitor desse blog tiver a coragem de querer adquirir cópias dessas bagaceiras, mande-me um e-mail solicitando:

alexandrecoimbragomes@gmail.com




segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

DONO DE GRIFE FRACASSADO

Vendo que o mundo fashion tava infestado de frescos e metrossexuais, tentei criar uma grife que atendesse somente ao público casca-grossa, neguinho que não esquentasse a cabeça pra firulagem, só pra camarada que não se intimidasse em escarrar no chão no meio da rua ou coçar o saco dentro da igreja.

A grife ( que até bolei umas estampas simpáticas - que seguem abaixo) se chamaria ESCRACHO - ROUPA PRA MACHO!

Ia ser uma inovação no mundo da moda. As camisetas t-shirts, além das estampas shocks-de-monstro, vinham com um tecido-toalha nas mangas, pro brother limpar o suor da testa e algumas já vinham sujas de graxa e cimento pra facilitar na desculpa pra reutilizar a camisa futuramente sem ter que lavar de novo.

Algumas já viriam com cheiro azedo de suor e cerveja velha.

Mas como tudo que é bom não é bem compreendido por estas plagas, a grife não colou muito.

Além do que, pedreiro, mecânico e caminhoneiro é uma raça duranga pra cacete.

[ ainda tenho algumas no estoque, se alguém se interessar, encomende pelo meu e-mail ]





















JORNALISTA FRACASSADO

Meti na cabeça que ia ser jornalista investigativo e, em fevereiro de 2005, totalmente desempregado, a fim de tentar uma vaga em algum dos jornais que circulam na minha cidade, por conta própria, investiguei sobre uma gangue que havia tocado o horror em Barra do Piraí na década de oitenta. Gangue que realmente existiu quando eu ainda era moleque. Lendo alguns livros sobre técnicas de entrevista, fiz algumas com ex-membros e vítimas dessa gangue e montei, na cara de pau, uma fictícia resenha de uma jornalista carioca a respeito de um suposto livro investigativo que eu escreveria sobre essa gangue, que sairia em breve. Mandei a tal resenha pra todos os jornais da cidade. Além do NÃO de todos como resposta ainda tive que varrer a parada toda pra debaixo do tapete porque, segundo alguns, tinha gente na cidade que não iria gostar de saber sobre o que eu pretenderia escrever.

Sartei de banda. Deixei essa merda pra lá.

A ( fictícia) resenha do ( fictício) livro, com os ( reais) depoimentos:

A Clockwork Orange sul-fluminense

12/12/2004

por Iolanda Greyck ( da sucursal)


Em 1985, na novela Ti Ti Ti ( aquela dos costureiros Victor Valentin e Jacques Léclair) a personagem Eduarda ( Betty Gofman) vira punk / dark e entra para uma gangue, a Turma da Lazinha. Nessa gangue todo mundo era meio punk, meio dark e ninguém tomava banho.

Uma inocente e pueril novela da Rede Globo.

Enquanto isso, um grupo de rapazes, autodenominados também de “Turma da Lazinha” , saía às ruas da pacata cidade de Barra do Piraí, interior do Estado do Rio de Janeiro, com um único propósito: arrumar briga.

Pancadarias, linchamentos, fichas na polícia, prisões, hospitalizações e até mortes marcaram as ações dessa gangue nada global e inocente.

Quem é morador dessa cidadezinha e tem hoje, passados mais de 20 anos, idade acima de 50, 55 anos vai, provavelmente, dizer;

“Nunca houve uma gangue aqui assim! Como é que aconteceu na minha cidade e eu não fiquei sabendo?”

Ledo engano!

A temível Turma da Lazinha existiu sim e aterrorizou quem na época tinha idade entre 15 e 25 anos: a garotada que saía da escola, os freqüentadores do Waldo Dicotheque, do bar calçadão, do extinto Cine Brasília.

De posse dessas preciosas informações, o escritor Alexandre Coimbra passou três meses nesta cidade com o propósito de investigar minunciosamente as ações desse nefasto grupo. Foram colhidos vários depoimentos dos envolvidos, recortes de jornal da época e entrevistas com os parentes dos, então, delinqüentes. Todas essas informações acabaram dando origem ao livro “LAZINHA:QUANDO A BARRA ERA PESADA – histórias de violência e pancadaria de uma gangue que aterrorizou a pacata cidade de Barra do Piraí nos anos 80”.

Ao ler o original do livro ( que está no prelo) , bastante investigatvo e impactante, fiquei imediatamente estarrecida com o poder brutal dessa gangue. Alexandre Coimbra nos deixa tensos durante toda a leitura, com gosto de sangue na boca, onde as porradas no nosso estômago são certeiras.

Relatos de policiais civis e militares envolvidos, registros na polícia, registros nos hospitais, recortes de jornais da época, entrevistas com os ex-membros da gangue e com os pais e mães dos delinqüentes, costurados pela escrita fluida e intensa do autor, resultam num primoroso livro, onde a investigação sobre a violência juvenil é o mote principal.

Alguns depoimentos, como os de “Toninho”, ex-membro de uma gangue rival, a “Turma do Chalet”, nos faz ter idéia do tom do livro:

“ O bicho pegava mermão! Nessa época bicho pegava feio! Só tô vivo hoje, com meus 42 anos, porque dei sorte quando a Lazinha me pegou de porrada. Me detonaram de cacete mas acharam que eu tava morto e me deixaram caído estatelado no chão. Tomei chute de botina de biqueira de aço na cara, chute no saco, paulada na costela, jogavam cachaça nas feridas que iam abrindo no meu rosto e doía mais ainda.Tive meu pé esquerdo quebrado por um paralelepípedo jogado de quina no meu tornozelo. Fiquei detonado. To aleijado até hoje. Os caras eram cruéis. Cruéis mesmo. Quem tivesse no caminho deles ia se dar mal, como eu me dei.”

“Russo”, no capítulo “Vítimas do Ódio”, relata que:

“ Porra! Os caras baixavam o pau a troco de nada! Apanhei, só porque eu tinha uma namorada no bairro que eles se reuniam. Numa noite, vindo da casa dela, dei de cara com a galera da Lazinha. Dei mole. Ao invés de dar meia volta, continuei andando na direção deles e , naquela de não querer botar a viola no saco, entrei numa de bater boca e, ironia do trocadilho, bateram muito, muito mesmo, na minha boca. Socaram uma barra de ferro bem no meio dos meus dentes. Quebrou todos os da frente na hora. E continuaram batendo: pisão na cabeça, pontapé na costela e o caralho. Me viraram do avesso.”

No capítulo “Iniciação”, o ex-membro e um dos fundadores da Lazinha, Sérgio ( nome fictício), hoje um respeitado pai de família de 44 anos, dá em mínimos detalhes preciosas informações sobre o ritual de iniciação aos que quisessem, na época, entrar para a gangue:

“ Não era mole não. Tinha que ter disposição pra passar no teste de iniciação e ser aceito na Lazinha. Assim que o camarada se apresentava dizendo que queria participar do grupo a gente o levava pro QG e começava o que a gente chamava de “A sabatina”. A gente metia no talo um Black Sabbath no toca-fitas, pra abafar os gritos, e tocava a porrada no calouro: surra de toalha molhada, telefone, corredor polonês, afogamento, cigarro aceso na língua, e, com a língua queimada de cigarro, o camarada tinha que limpar os nossos pisantes, A gente escarrava, aquele escarro verde fedorento no nosso tênis e o calouro tinha que lamber tênis por tênis sujo de bosta de cachorro, catarro e lama. Se passasse por isso, tava no grupo.
Motivo? A gente não tinha motivo nenhum. Era a porrada pela porrada. A gente também não tinha fins lucrativos nenhum, não éramos racistas nem anti-racistas, éramos democráticos: baixávamos a porrada em todo mundo, sem distinção de credo, cor, classe social ou partido político. Nossa idéia era botar moral mesmo. Sermos respeitados pela região. E éramos. Nós contabilizamos, na época, que cada um de nós comia mais ou menos umas dez mulheres diferentes por semana. As menininhas ficavam em cima. Era status ser comida por um de nós. E comíamos, é claro. Às vezes umas mais doidas entravam numa de serem comidas por todos. E a gente topava. Se tinha consentimento, a gente topava. Porque estupro nunca rolou não. E essas minas mais ninfomaníacas saíam de lá toda arregaçada e felizes da vida com mais de vinte pirus passados pela buceta e pelo cu. Coisa de doido, né? De doida, melhor dizendo.”

No depoimento de outro ex-membro, o Tuca ( nome fictício), a relação da gangue com as drogas é descrita em detalhes:

“ Não tinha esse lance de droga pesada não. Só um bagulhinho e uma brizolinha de vez em quando. Ahh.. Brizola era o nome que se dava na época pra cocaína. Tinham uns que cheiravam lança perfume e loló, mas não era a minha não, me dava uma puta dor de cabeça. Birita a rapaziava biritava direto, era cinco, dez litros de pinga numa noite só. A gente bebia e saía pra night pra tocar horror. E treta com a polícia rolou algumas vezes, mas nada sério não. Se eu te falar que tinha até meganha na Lazinha, cê não ia acreditar. Na boa. Policial que, nas horas vagas, gostava de uma diversão. Tinha neguinho de tudo quanto era idade e classe social: crioulo do morro misturado com playboy que se misturava com moleque adolescente e com a galera mais cascuda de 25, trinta anos, com trabalhador. Mistureba geral. E doideira geral. E porrada geral.(...)”

Quer saber mais ? bateu uma fome de conhecer o livro? Semana que vem já está nas livrarias o magnífico livro “Lazinha: quando a barra era pesada – histórias de violência e pancadaria de uma gangue que aterrorizou a pacata cidade de Barra do Piraí nos anos 80.”

Tem que ter estômago e estômago forte, permanentemente embrulhado pelas minunciosas histórias de extrema violência, nessa espécie de Laranja Mecânica Tupiniquim.