fracassos

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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

COOL FRACASSADO


“As modas vão e vêm, mudam sempre; o ridículo é que é permanente.”
( frase de Yves Saint Laurent - conhecido popularmente como Falcão)
*************
Década de oitenta. Na rua, nas salas de aula e nos clubes, quem usasse tênis Redley, camisa K&K, calça jeans Villejack e mochila da Company estava no topo da na moda. Mas, por isso mesmo, não era pra qualquer um, qualquer pobretão. Cada peça dessas custava um fortuna ( só o tênis Redley, eu me lembro muito bem, o par custava quase um salário mínimo). Pros adolescentes como eu que quisessem estar bem com as meninas, na moda, bastava somente usar esse uniforme juvenil. Eu invejava essa playboyzada. Não que, nessa época, eu quisesse estar na moda, não entendia dessa porra, mas vestir essa panagem era quase que um ritual certeiro de pegar várias menininhas. Eu, que não tinha um puto no bolso pra vestir-me com essas grifes, não tirava da cabeça que quando eu tivesse trabalhando com um salário maneiro ia comprar essas porras dessas roupas e ia passar o rodo geral na meninada. Mas nessa época eu só podia comprar roupa tosca e barata. Só grife vagabunda de pobre, que era motivo de piada geral entre a galera e as gatinhas.

Trabalhei.

Trabalhei como um cão a vida inteira e continuei sem um centavo sobrando pra entra na moda.

Vinte anos se passaram. Pleno século XXI, fevereiro de 2008, e eu – apesar de continuar paupérrimo como quando adolescente – botei na cabeça que ia entrar na moda.

“Vou à desforra!”

Me esforcei, separei uma grana e parti para um shopping bem “mudernoso”. Lá, comecei a rodar nas lojas e procurar as grifes que tanto me humilharam quando moleque.

Estranhei! Por mais incrível que pudesse parecer, essas peças tavam uma mixaria. Devia ser ponta de estoque, pensei. Puta sortudo que eu sou! Só marca estilo e tudo baratinho. Claro que eu aproveitei e comprei. Lá no próprio banheiro do shopping eu me troquei. Coloquei o tal tênis Redley, vesti a camisa K&K, meti um jeans Villejack e coloquei nas costas a mochila da Company.

Imediatamente eu voltei num dos locais em que me esculachavam na minha época de moleque, uma lanchonete no centro da minha cidade. Sentei lá, pedi um chopp e fiquei na espreita, esperando neguinho babar no meu visual e as gatas, hoje balzaquianas, me paquerarem modernão e na moda.

O que eu achei muito esquisito era que as mesmas patricinhas e playboys da minha época, hoje com a minha idade, que estavam naquele momento lá na lanchonete, continuavam olhando com aquele igualzinho ar de deboche e sarcasmo pra mim e pra minha roupa. Os mesmos olhares de desprezo daquele longínquo anos oitenta. Não entendi porra nenhuma! Eu tava na estica! Na marca!

Até que um camarada que estudara comigo até o segundo grau, o Odil, passou, parou e ficou me regulando todo, dos pés à cabeça e fez um rizinho de puro deboche. Parrudão de bomba, o cara tava me desafiando com aquela cara escrota porque sabia que eu não ia encrespar. Cena igual à da minha infância. Eu com cara de bunda azeda me senti uma bosta como antes, mas agora uma bosta de quase quarenta anos e cento e vinte quilos.

Não amarelei com a intimidação. Levantei-me , cheio de moral e coragem, e mandei na lata do playboy-bombado-otário:

- Coé Odil ? (...) Comequiéquicetá cara? Beleza? Saudades...

E estiquei a mão para cumprimentá-lo. A mão ficou parada no ar. Ele olhou pra mim e, rindo, me disse:

- Cê continua cafona né cara? O mesmo ridículo de quando a gente era moleque. Um cafona, um deselegante, sem gosto refinado, na verdade um grosso socialmente...

Comecei a rir também. Ele só podia estar de sacanagem com a minha cara. Talvez todos esses anos tivessem feito com que ele se tornasse um cara bacana, brincalhão.

- Cê é mó maior sacana Odil. Tá de onda aê com a minha panagem de grife porque tá é com inveja...

- Coé maluco? Cê endoidou? Essas marcas aê que você tá vestindo já saíram de moda há um tempaço. Hoje é roupa de pobretão. Cê não deve ter gastado nem uns duzentos reais nessa roupa toda né? Porra, um tênis Redley deve tá uns cinquenta reais, essa camisa da K&K uns vinte, esse jeans breguíssimo da Villejack uns trinta e essa mochila pequenininha e ridícula da Company uns quarenta, cinquenta no máximo....Não dá nem cento e cinquenta reais essa porcariada toda. Na verdade você nunca vai ter grana pra ser um cool...

Cool? Que que significava aquilo? Será que ele tava me chamando de cuzão? Cuzão o caralho! Eu sou é malandragem pura! – pensei. E tirei onda:

- Isso mesmo! Era ponta de estoque. Comprei num shopping estilosão. Só grife maneira, né? Na verdade tudo saiu por cento e trinta e dois...

- Pô, pobre vai ser sempre pobre. Sempre procurando promoçõezinhas de roupa. Cento e trinta.... Cento e trinta não dá nem a metade do preço desse casaco vintage que eu tô usando.

- Vintage? Que porra é essa?

- Cê é um cafona mesmo. Vintage é um termo que foi acolhido pelo mundo da moda para designar peças que marcam uma época, como roupas ou acessórios. Olha esse visual que eu tâ usando. Vintage puro. Gastei mais de dois mil reais. Só uso roupa estilo vintage. Caríssimas! Os pobre invejam a as gatas adoram...

Ele me mostrou. Tava usando um par de chinelo havaianas, uma camisa branca Hering, óculos Ray Ban tipo aviador e calça jeans Levi’s...

E continuou a falar:

- E na minha mochila tem mais uns mil e trezentos em roupas vintage: duas camisas estilo polo da Lacoste, e o mais foda e caro: um conjunto Adidas totally vintage! Um conjunto daqueles azul-marinho com casaco e a calça com uma tirinha de tecido pra prender na sola dos pés! Isso é que é a última moda, seu brega pobre! Sai de perto de mim que tá queimando meu filme com esse seu visual. Já te falei: você nunca vai ser um cool. Nunca!

Cool eu imaginava que eu nunca ia ser, mas sabia que, naquele momento, eu me sentia um cuzão.

AQUELAS ROUPAS QUE ELE TAVA USANDO ERAM JUSTAMENTE DAS MARCAS DE POBRE QUE EU USAVA QUANDO MOLEQUE !!!

Camisas polo da Lacoste, chinelo Havaianas, camisa branca da Hering, óculos Ray Ban tipo aviador, calça Levi’s.
Só faltava ele me dizer que tênis All Star, a coisa mais pobre e bizarra na época que eu era moleque, tinha se tornado cool também! Nem quis perguntar com medo da resposta.

Exatamente as roupas toscas e baratas que eu podia comprar na época. Só grife vagabunda de pobre que era motivo de piada geral entre a playboyzada!

Só o conjuntinho Adidas azul-marinho, com casaco e a calça com uma tirinha de tecido pra prender na sola dos pés, eu tinha uns cinco no armário ! Era uma mixaria aquela merda!

Vintage? Cool? Continuei confuso. Será que eu era uma espécie de visionário da moda incompreendido, um vintage vinte anos antes de vintage ser vantagem ?

Porra nenhuma! Saí dali totalmente cafona e me sentindo, como sempre, um merda. Um merda em termos de moda.

Na dúvida, vou guardar aquela roupa que eu tava vestindo naquele dia pra usar daqui a vinte anos , caso no futuro ela se torne quarentage.

2 comentários:

Unknown disse...



Me lembro dessa época. Roupas caras, muito caras. E eu que andava feliz com o meu Kichut (acho que escreve assim). Também tive o conga, mas sempre fora de moda, risos. Quando pude comprar essas marcas que você falou, já não as queria mais. Não é nem por estar fora de moda (pois me acostumei), mas é porque já não via sentido algum. Pegar quem, qual menininha, não fazia parte mais da minha vontade, desiste. Sei perfeitamente o que está falando. Apesar de tudo tenho me macaqueado de outros modos, e por mais que seja assim nada acontece. Acho que a moda que nunca sai de moda é uma gorda conta bancária. Risos...

Unknown disse...

Errata: onde se lê desiste, lê-se desisti.