Meu irmão, o Adolfo, com seu bigodinho, triste pela distância dos recém-amigos.
Em 2006,as lêndeas e os piolhos tinham infestado novamente o meu cabelo [ ver ROTEIRISTA FRACASSADO] e tive que raspá-lo com máquina zero. Estava num baixo-astral danado. Careca e sem ninguém pra conversar. Às vezes conversava com o meu irmão, o Adolfo, quando ele tinha tempo ( mulher, filho e tal). Como não sou de muitos amigos, os poucos que me restaram acabaram se afastando por conta das próprias obrigações de suas vidas. Desabafando isso com o meu irmão, ele me disse:
- Porra cara! Arruma alguma coisa pra fazer, pra distrair a cabeça! Vai num lugar onde você possa fazer novas amizades! Já sei: começa a malhar, cara! Assim você mata dois coelhos com uma cajadada só: cuida da saúde, perdendo essa banha cultivada em anos de sedentarismo, e quem sabe você não faz umas amizades lá?
- Sei não...Nunca me meti nesse negócio de malhar em academia e, nas poucas vezes que passei em frente de uma, tive a impressão de que os caras marombados são meio marrentões, antipáticos. Neguinho vai rir da minha pança gorda quando eu entrar numa academia dessas.
- Qual é rapá? Desencana! Eu já malhei em duas academias daqui da cidade e sempre fui bem recebido. Eu não esquento com esse lance do que pensam sobre mim não. Sou totalmente calvo e foda-se! Uma porrada de gente acha estranho esse bigodinho que eu deixo, mas eu tô cagando e andando. Cê você quiser, eu vou contigo e a gente malha juntos. Eu soube que inaugurou uma academia semana passada e a mensalidade é baratinha. Vamo lá ver qual é porra!
Meu irmão havia me convecido. Apesar de ser mais novo, tinha experiência no ramo, já que malhava desde os dezoito anos. É um camarada gordão, mas parrudo pra caralho. Deve ter uns cento e vinte quilos. Estilo lutador de luta-livre. Me espelhei nele e decidi começar a malhar. Marcamos pro dia seguinte e, no horário combinado, chegamos na frente da tal academia. Estava lotada. Só camarada parrudão de cabeça raspada. Deve ser uma investação coletiva de piolhos, pensei. Todos de cara amarrada. Ao entrarmos, imediatamente pararam de puxar peso e olharam pra nós.
- Tá vendo! Já tão olhando pra gente de cara feia. – respondi tremendo na base.
- Esquenta não cupadi. – respondeu meu irmão cheio de segurança.
- Vou tentar dar uma descontraída e cumprimentar os caras.
- Oi! – eu disse alto, olhando para todos.
Todos imediatamente se entreolharam e se levantaram juntos, como numa disciplina militar, eretos, de pé, braços direitos esticados para mim e para o meu irmão:
- Oi! Oi! Oi! – gritaram aproximando-se, todos, ao mesmo tempo, de nós.
- Galera simpática, né? - eu disse pro meu irmão - Nem riram nem debocharam do seu bigodinho. E nem poderiam rir da nossa careca, já que todos aqui também tiveram piolhos. Tudo careca como a gente.
- Vocês são carecas como a gente! – disse para eles já rindo pra caralho da coincidência. Piolho é foda! – pensei.
Todos começaram a rir e nos abraçaram. Achei aquilo maneiro. Simpatia total dessa moçada.
O mais parrudo deles olhou pra careca e pro bigodinho do meu irmão e perguntou:
- Qual é o seu nome?
- Adolfo – meu irmão respondeu em alto em bom som.
O cara com uma cara de incrédulo, duvidou. Meu irmão pegou a identidade e mostrou pra ele.
- Meu nome é Adolfo! Taqui ó!
A academia inteira nos cercou. Esticaram, novamente, o braço direito na nossa direção. Devia ser uma espécie de saudação de caras gentis, pensei. Recebemos calorosos abraços. Disseram que éramos muito bem-vindos, que era uma honra nos receber. Começaram a gritar Oi! Oi! Oi! Oi! Oi! Oi! Oi! Oi! Oi!.
Essa gente gosta mesmo de cumprimentar, pensei.
Em seguida, nos chamaram prum barzinho perto dali e começaram a pagar cerveja pra gente. Disseram que era por conta deles. Adoraram o meu irmão. Gritavam com copos na mão esquerda: Adolfo, Adolfo, Adolfo! Toda hora vinha um esticar o braço na direção dele e dizer Oi!, e ele não entendendo porra nenhuma, respondia e correspondia com o sinal.
Saímos dali totalmente bêbados e felizes com os nossos novos amigos de academia. Exigiram a nossa presença no dia seguinte. Disseram que o meu irmão era o ídolo deles. Ficamos extasiados com a receptividade dessa galera marombeira. Fiquei envergonhado por ter sido preconceituoso e tê-los julgado sem conhecê-los, sem conhecer seus corações e atitudes puras e cordiais.
No dia seguinte partimos saltitantes para a academia da rapaziada gente boa. Chegamos lá e estava fechada. Perguntamos pro cara do restaurante vizinho o que tinha acontecido e ele nos disse que todos tinham sido presos.
- Presos?? Como assim presos? Aqueles caras eram um doce de pessoas, não seriam capazes de fazer um mal nem a uma mosca!
O cara do restaurante disse que corria um boato de que os caras da academia tinham saído de um bar bêbados no dia anterior gritando Oi! Oi! Oi! Oi! Oi!., e que haviam se metido em brigas com alguns travestis e uns nordestinos de um barzinho perto dali, e que a briga se estendera pra perto da sinagoga que tem lá na rua Franklin Jarbas e uns judeus haviam entrado também. A pancadaria tinha sido geral!
Porra! Cidadezinha do interior é foda! É só aparecerem uns caras maneiros, a fim de fazer novas amizades, dizendo Oi! pras pessoas que são mal interpretados. Acabam apanhando, justamente por quererem um mundo mais amigável e mais justo. Infelizmente tem gente que ainda é preconceituosa pra caralho!
Meu Deus, esse mundo tá uma violência só!
Galera meneira. Saudades.
2 comentários:
Os seus textos são muito bons. Poucas coisas escritas por escritores "anônimos" fazem rir, assim, naturalmente. Só espero que nunca chegue a ser escrito o "blogueiro fracassado".
Abraços.
Um porra de um mala-sem-alça, um tal de Alceu, me mandou um emeiou pagando sugesta:
Mandou isso:
Alexandre, o seu texto realmente é bom pra caralho, mas você se distraiu e grafou erradamente uma palavra:
" Cê você quiser..."
Seria "Se você quiser..."
Só um toque.
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Tomar no cu! Optei por escrever esses posts nessa porra direto no blog sem ter que ficar usando o corretor de textos do word. Não tô justificando não, só tô dizendo pro camarada, e pra quem quiser encher o saco, já que, provavelmente, irão perceber - se estiverem atentos - erros de ortografia, regência, concordância e colocação de vírgulas em todos os textos, que eu tô realmente cagando e andando pra isso!
( quem quiser, que procure erros no que eu acabei de escrever acima, também)
E olha que eu vivo de ensinar a escrita!
Daí, em breve, PROFESSOR DE PORTUGUÊS FRACASSADO.
Pau no cu!
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