fracassos

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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

JORNALISTA FRACASSADO

Meti na cabeça que ia ser jornalista investigativo e, em fevereiro de 2005, totalmente desempregado, a fim de tentar uma vaga em algum dos jornais que circulam na minha cidade, por conta própria, investiguei sobre uma gangue que havia tocado o horror em Barra do Piraí na década de oitenta. Gangue que realmente existiu quando eu ainda era moleque. Lendo alguns livros sobre técnicas de entrevista, fiz algumas com ex-membros e vítimas dessa gangue e montei, na cara de pau, uma fictícia resenha de uma jornalista carioca a respeito de um suposto livro investigativo que eu escreveria sobre essa gangue, que sairia em breve. Mandei a tal resenha pra todos os jornais da cidade. Além do NÃO de todos como resposta ainda tive que varrer a parada toda pra debaixo do tapete porque, segundo alguns, tinha gente na cidade que não iria gostar de saber sobre o que eu pretenderia escrever.

Sartei de banda. Deixei essa merda pra lá.

A ( fictícia) resenha do ( fictício) livro, com os ( reais) depoimentos:

A Clockwork Orange sul-fluminense

12/12/2004

por Iolanda Greyck ( da sucursal)


Em 1985, na novela Ti Ti Ti ( aquela dos costureiros Victor Valentin e Jacques Léclair) a personagem Eduarda ( Betty Gofman) vira punk / dark e entra para uma gangue, a Turma da Lazinha. Nessa gangue todo mundo era meio punk, meio dark e ninguém tomava banho.

Uma inocente e pueril novela da Rede Globo.

Enquanto isso, um grupo de rapazes, autodenominados também de “Turma da Lazinha” , saía às ruas da pacata cidade de Barra do Piraí, interior do Estado do Rio de Janeiro, com um único propósito: arrumar briga.

Pancadarias, linchamentos, fichas na polícia, prisões, hospitalizações e até mortes marcaram as ações dessa gangue nada global e inocente.

Quem é morador dessa cidadezinha e tem hoje, passados mais de 20 anos, idade acima de 50, 55 anos vai, provavelmente, dizer;

“Nunca houve uma gangue aqui assim! Como é que aconteceu na minha cidade e eu não fiquei sabendo?”

Ledo engano!

A temível Turma da Lazinha existiu sim e aterrorizou quem na época tinha idade entre 15 e 25 anos: a garotada que saía da escola, os freqüentadores do Waldo Dicotheque, do bar calçadão, do extinto Cine Brasília.

De posse dessas preciosas informações, o escritor Alexandre Coimbra passou três meses nesta cidade com o propósito de investigar minunciosamente as ações desse nefasto grupo. Foram colhidos vários depoimentos dos envolvidos, recortes de jornal da época e entrevistas com os parentes dos, então, delinqüentes. Todas essas informações acabaram dando origem ao livro “LAZINHA:QUANDO A BARRA ERA PESADA – histórias de violência e pancadaria de uma gangue que aterrorizou a pacata cidade de Barra do Piraí nos anos 80”.

Ao ler o original do livro ( que está no prelo) , bastante investigatvo e impactante, fiquei imediatamente estarrecida com o poder brutal dessa gangue. Alexandre Coimbra nos deixa tensos durante toda a leitura, com gosto de sangue na boca, onde as porradas no nosso estômago são certeiras.

Relatos de policiais civis e militares envolvidos, registros na polícia, registros nos hospitais, recortes de jornais da época, entrevistas com os ex-membros da gangue e com os pais e mães dos delinqüentes, costurados pela escrita fluida e intensa do autor, resultam num primoroso livro, onde a investigação sobre a violência juvenil é o mote principal.

Alguns depoimentos, como os de “Toninho”, ex-membro de uma gangue rival, a “Turma do Chalet”, nos faz ter idéia do tom do livro:

“ O bicho pegava mermão! Nessa época bicho pegava feio! Só tô vivo hoje, com meus 42 anos, porque dei sorte quando a Lazinha me pegou de porrada. Me detonaram de cacete mas acharam que eu tava morto e me deixaram caído estatelado no chão. Tomei chute de botina de biqueira de aço na cara, chute no saco, paulada na costela, jogavam cachaça nas feridas que iam abrindo no meu rosto e doía mais ainda.Tive meu pé esquerdo quebrado por um paralelepípedo jogado de quina no meu tornozelo. Fiquei detonado. To aleijado até hoje. Os caras eram cruéis. Cruéis mesmo. Quem tivesse no caminho deles ia se dar mal, como eu me dei.”

“Russo”, no capítulo “Vítimas do Ódio”, relata que:

“ Porra! Os caras baixavam o pau a troco de nada! Apanhei, só porque eu tinha uma namorada no bairro que eles se reuniam. Numa noite, vindo da casa dela, dei de cara com a galera da Lazinha. Dei mole. Ao invés de dar meia volta, continuei andando na direção deles e , naquela de não querer botar a viola no saco, entrei numa de bater boca e, ironia do trocadilho, bateram muito, muito mesmo, na minha boca. Socaram uma barra de ferro bem no meio dos meus dentes. Quebrou todos os da frente na hora. E continuaram batendo: pisão na cabeça, pontapé na costela e o caralho. Me viraram do avesso.”

No capítulo “Iniciação”, o ex-membro e um dos fundadores da Lazinha, Sérgio ( nome fictício), hoje um respeitado pai de família de 44 anos, dá em mínimos detalhes preciosas informações sobre o ritual de iniciação aos que quisessem, na época, entrar para a gangue:

“ Não era mole não. Tinha que ter disposição pra passar no teste de iniciação e ser aceito na Lazinha. Assim que o camarada se apresentava dizendo que queria participar do grupo a gente o levava pro QG e começava o que a gente chamava de “A sabatina”. A gente metia no talo um Black Sabbath no toca-fitas, pra abafar os gritos, e tocava a porrada no calouro: surra de toalha molhada, telefone, corredor polonês, afogamento, cigarro aceso na língua, e, com a língua queimada de cigarro, o camarada tinha que limpar os nossos pisantes, A gente escarrava, aquele escarro verde fedorento no nosso tênis e o calouro tinha que lamber tênis por tênis sujo de bosta de cachorro, catarro e lama. Se passasse por isso, tava no grupo.
Motivo? A gente não tinha motivo nenhum. Era a porrada pela porrada. A gente também não tinha fins lucrativos nenhum, não éramos racistas nem anti-racistas, éramos democráticos: baixávamos a porrada em todo mundo, sem distinção de credo, cor, classe social ou partido político. Nossa idéia era botar moral mesmo. Sermos respeitados pela região. E éramos. Nós contabilizamos, na época, que cada um de nós comia mais ou menos umas dez mulheres diferentes por semana. As menininhas ficavam em cima. Era status ser comida por um de nós. E comíamos, é claro. Às vezes umas mais doidas entravam numa de serem comidas por todos. E a gente topava. Se tinha consentimento, a gente topava. Porque estupro nunca rolou não. E essas minas mais ninfomaníacas saíam de lá toda arregaçada e felizes da vida com mais de vinte pirus passados pela buceta e pelo cu. Coisa de doido, né? De doida, melhor dizendo.”

No depoimento de outro ex-membro, o Tuca ( nome fictício), a relação da gangue com as drogas é descrita em detalhes:

“ Não tinha esse lance de droga pesada não. Só um bagulhinho e uma brizolinha de vez em quando. Ahh.. Brizola era o nome que se dava na época pra cocaína. Tinham uns que cheiravam lança perfume e loló, mas não era a minha não, me dava uma puta dor de cabeça. Birita a rapaziava biritava direto, era cinco, dez litros de pinga numa noite só. A gente bebia e saía pra night pra tocar horror. E treta com a polícia rolou algumas vezes, mas nada sério não. Se eu te falar que tinha até meganha na Lazinha, cê não ia acreditar. Na boa. Policial que, nas horas vagas, gostava de uma diversão. Tinha neguinho de tudo quanto era idade e classe social: crioulo do morro misturado com playboy que se misturava com moleque adolescente e com a galera mais cascuda de 25, trinta anos, com trabalhador. Mistureba geral. E doideira geral. E porrada geral.(...)”

Quer saber mais ? bateu uma fome de conhecer o livro? Semana que vem já está nas livrarias o magnífico livro “Lazinha: quando a barra era pesada – histórias de violência e pancadaria de uma gangue que aterrorizou a pacata cidade de Barra do Piraí nos anos 80.”

Tem que ter estômago e estômago forte, permanentemente embrulhado pelas minunciosas histórias de extrema violência, nessa espécie de Laranja Mecânica Tupiniquim.


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