Recebi ontem um e-mail de uma moça que se diz fã (!?) do meu blog e ela insistiu para que eu lesse um texto anexo ao e-mail.
Senti que o e-mail era pra tentar levantar a minha moral, ver com outros olhos os meus fracassos. A mina que me mandou o e-mail, coitada, tava até que bem-intencionada. Queria me tirar do baixo-astral.
O texto chama-se "Como fracassar com bom humor".
Li. Até conheço o autor ( a obra, digo), Carlos Gerbase, desde quando ele era dos Replicantes, uma banda punk gaúcha dos anos oitenta bem-humorada pra caralho.
O cara é bom. É um cineasta, músico e professor de sucesso.
Sou só um merda de um fracassado. E ranzinza.
Portanto, minha cara fã (!?), infelizmente, não coaduno com as idéias expressas no texto, já que para mim, fracassar é uma parada deprimente pra caralho.
É um fato. Vivi / vivo isso. Não há como eu ver positivamente um fracasso.
Não sou otimista, nem irônico, nem bem humorado...
Mas, como ando enrolado pra caralho ultimamente e não consigo arrumar tempo pra postar mais fracassos aqui com a regularidade de antes, pra encher linguiça, taí o tal texto:
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Como fracassar com bom humor
por Carlos Gerbase em 04 de agosto de 2009
Há muitas coisas positivas no fracasso: ninguém vem te pedir dinheiro, ninguém te telefona de madrugada pra dar os parabéns, ninguém fica morrendo de inveja e te desejando o mal. O mal já está feito. Depois do mal, quase sempre vem o bem. Ou mais fracassos; não importa. Os fracassados têm um futuro radiante à sua frente: podem se erguer da lama e rastejar outra vez à procura do sucesso. Encontrando um novo fracasso, é claro. Mas, e daí? Fracassar várias vezes, como um sujeito perseverante, que não se deixa abater, é melhor que fracassar uma vez só, coisa de quem não tem força interior. Um fracassado fica com aquele ar abatido, triste, carente, que desperta o instinto maternal das mulheres e facilita novas aventuras amorosas. O homem de sucesso, ao contrário, com aquele sorriso brilhante, rodeado de bajuladoras siliconadas, terá enormes dificuldades para descobrir quem está sinceramente interessado nele e quem está querendo tirar uma casquinha do sucesso alheio. O homem de sucesso está acuado por um bando de chatos que dizem que o admiram, mas, na primeira queda, não hesitarão em chamá-lo de fraude. O fracassado curte a solidão a dois, pois sempre terá alguém disposto a consolá-lo. Como? Você é um fracassado e não tem ninguém que o console? Aí já é incompetência demais. Como em todas as situações da vida, é preciso um pouco de talento e perseverança. Um verdadeiro fracassado não se deixa abater. É preciso colocar o fracasso em seu devido lugar: no fundo. Um fracassado é como uma ação na bolsa que despencou absurdamente e que agora está com um preço muito convidativo. Quem investe num fracassado de hoje pode ter grandes lucros amanhã. Artistas geniais foram grandes fracassados. Van Gogh nunca vendeu um quadro. Mozart morreu miserável e foi enterrado em vala comum. Você prefere a companhia de quem? De Van Gogh e de Mozart, ou do débil mental que ganhou milhões produzindo o filme “O solteirão de 40 anos”? Pense bem, querido fracassado. Você pode se suicidar, como fazem muitos fracassados, mas aí não vai aproveitar o melhor do seu fracasso: a cara dos bem-sucedidos quando perceberem que você está vivo, acompanhado de uma bela mulher (que o consola), bebendo com os amigos do peito (e só amigos muito verdadeiros bebem com um fracassado), sendo comparado a Van Gogh e Mozart, e especulando qual será a sua próxima jogada em busca do sucesso. Que pode vir, ou pode não vir. E daí? O homem de sucesso só conhece o pavor de fracassar e vive numa perpétua ansiedade. Quer coisa pior? Deus te livre. Você é um fracassado e acha que está deprimido? Depressão não existe. Foi inventada pelos psiquiatras bem-sucedidos para encher seus consultórios à procura do sucesso financeiro, que, como eles mesmos proclamam, não vai curá-los da depressão. Não dê esse gostinho pra eles. Muito melhor que se entupir de antidepressivos é desfrutar, sem culpa, o doce sabor do fracasso. E rir dele. Um fracassado bem humorado se lambuza com a vida em toda a sua esplendorosa injustiça.
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