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domingo, 22 de março de 2009

NADADOR FRACASSADO

Em janeiro de 2005 descobri que a minha saúde estava indo de mal a pior. Colesterol, hérnia-de-disco, varizes, etc. Estava com 126 quilos. Decidi parar de fumar ( maconha e Derby), de beber ( Itaipava e Conhaque Presidente) e de comer porcarias gordurosas ( que prefiro nem mencionar). Hábito que, até então, era diário.

Entrei na natação ( no Central Sport Club, clube de Barra do Piraí, minha cidade).

Como eu não sabia nadar nada [ trocadilho involuntário] , e eu nunca tinha entrado numa piscina que não desse pé para mim, o professor me colocou na piscina infantil com a pranchinha. Fiquei três meses lá treinando arduamente. Entre todos os alunos da piscina infantil, o professor dizia que eu era o segundo melhor. Isso me empolgou. Só um aluno mais velho, o Helinho, de oito anos, que era mais rápido do que eu.

Quando me disseram que no dia 27 de janeiro de 2005 haveria um campeonato de crown na piscina infantil, valendo medalha, eu treinei mais ainda pra detonar com o Helinho. Eu tinha que ganhar aquela medalha.

Ganhei!

O Helinho ficou dizendo que eu tinha ganhado no crown porque o meu braço era maior do que o dele, já que eu tinha 30 anos. Cara perdedor! Não soube lidar com a derrota!

Após esses meses de intenso treino de natação, perdi, pra minha felicidade, 10 quilos. Estava só com 116. Me senti um atleta. Um Ironman.

Eu queria mais desafios.

Apesar de eu nunca ter nadado no mar, corajosamente me inscrevi no 14º Campeonato Brasileiro de Triatlo Sprint do Rio de Janeiro. Triatlo Sprint é uma modalidade light de triatlo que consiste em cumprir 750 metros de natação, 20 km de bicicleta e, por final, 5 km de corrida. A competição estava marcada para o dia 15 de maio de 2005.

Era abril. Voltei pra piscininha e fiquei treinando todo dia, durante um mês.

Chegado o dia, parti pro Rio de Janeiro e, apresentando-me como competidor, fiquei na praia ( natação: a primeira etapa da competição) ao lado dos outros atletas esperando o tiro de largada. Meu amigo, o Renato, tinha ido comigo e estranhamente desconfiando do meu potencial como atleta, me perguntou:

- Cara! Tô preocupado. Tem certeza de que você vai conseguir nadar no mar? È totalmente diferente de piscina, velho.

Expliquei pra ele que eu era mestre no crown, que já tinha até ganhado medalha na modalidade, e que já tinha vencido até o Helinho, um nadador sinistro de bom. Tirei de cabeça o pensamento negativo do Renato. Ele, então, passou a me dar força e incentivo.

De repente o auto-falante na praia anuncia:

[ AOS SEUS LUGARES!]

Encho o peito de coragem e determinação e fico aguardando o tiro de largada. Olho para os lados e vejo mais de cem competidores. Não me intimido. Olho pra trás e, com o punho cerrado, demonstrando auto-confiança, aceno para o meu amigo Renato.

[ PUM!]

Saio correndo em direção ao mar, ao lado dos outros competidores e, após os pulos largos sobre as primeiras ondas, mergulho.

Dou a primeira potente braçada crown, seguida da segunda e terceira e quarta. Respiro pra esquerda. Mais quatro braçadas e respiro pra direita ( como o professor tinha ensinado). Assim vou, braçada a braçada, sentindo a água deslizar veloz sobre o meu peito. Como eu não estava acostumado a nadar no mar, a água salgada começou a turvar a minha vista. Eu já não conseguia enxergar nada na minha frente nem aos lados. Mas não me preocupei, já que sentia que devia estar entre os primeiros devido a minha velocidade. Calculei que já devia estar a uns 300 metros da praia.

Depois de cinco minutos de vigorosas braçadas ( duvido que o Helinho agüentaria essa!), já um pouco cansado, mas percebendo já estar em alto mar, decido levantar a cabeça pra localizar minha privilegiada posição entre os outros competidores.

Quando abaixei as pernas pra tirar a cabeça pra fora d’água, meu joelho bateu com força numa coisa áspera. Doeu pra caralho. Estranhei. Esfreguei bem os olhos que estavam ardendo pra caramba pela a água salgada e, pra minha surpresa, percebi que devia estar num banco de areia em pleno alto mar.

Fiquei de pé. Meus olhos começaram a voltar a enxergar.

Quando olhei pra trás, tomei um susto. Eu ainda estava na beira da praia. A cinco metros da areia. Olhei pra frente e vi ao longe os outros competidores já há uns 500 metros pra dentro do mar. Devia ser uma corrente marítima que me troxe de volta, pensei. Decidi superar essa adversidade e mergulhar novamente pra recuperar minha posição, mas o joelho estava sangrando pra cacete e começou a latejar.

Coisas da vida, vou desistir. Dei azar mesmo. Uma desgraçada corrente marítima me pegou desprevenido, pensava enquanto retornava pra areia e pra faixa de largada.

Quando levantei a cabeça e olhei pro pessoal que estava na torcida, percebi que todos, todos, sem exceção, estavam gargalhando. A multidão inteira, centenas de pessoas gargalhavam e olhavam apontando pra mim.

Fui em direção ao Renato, que estava encolhido no chão tendo espasmos de gargalhadas frenéticas. Esperei ele terminar de rir ( que demorou um pouquinho) e perguntei, rindo também, porque todos estavam agindo daquela maneira engraçada. Perguntei o que havia acontecido, qual era a graça, curiosíssimo.

Ele recuperou o fôlego e me disse:

- Cara! A coisa mais estranha que eu já vi na minha vida! Quando deram o tiro de largada, você saiu em direção ao mar todo obesão e desengonçado. Deu um mergulho estalado e sumiu. De repente, ali na beirinha da água, aparece um murundu molhado. Não distingui o que era. Quando olhei bem, vi que eram as suas costas gordas boiando. De repente apareceu descoordenadamente um braço pra cima e depois outro. Tipo de quem pede ajuda quando está se afogando. Os salva-vidas acharam que era afogamento e foram em sua direção. Eu os impedi e falei pra eles esperarem, que não era afogamento não, e que eles iam ver uma coisa muito engraçada. Aí aparece de dentro da água sua cabeça toda molhada buscando ar. Um coisa estranhíssima. Você não saía do lugar. Ficava só aquela ilha morena e brilhosa tremendo no mesmo lugar. Parecia um dorso de um peixe-boi. Costas gordas boiando, um braço pra cima e depois outro, cabeção molhado procurando ar e sem sair do lugar. Isso durou uns cinco minutos. Todo mundo na praia começou a gargalhar quando percebeu a bizarrice. O pessoal até esqueceu dos outros competidores, que já estavam longe, pra ficar zoando de você. Até os juízes quase morreram de tanto rir. Os salva-vidas deitaram na areia e chegaram a ficar com falta de ar devido ao acesso de risos. Centenas de pessoas aqui na praia se escangalharam. A praia inteira se divertiu às suas custas. Muito engraçado! Engraçado pra caralho cara! Cê fez isso de propósito, não foi não? Só pode ser! Ninguém nada tão mal assim cara!

Respondi rindo sem graça que sim. Vesti o bermudão por cima da sunga e saí da praia, deixando os risos pra trás, em direção à minha casa.

Só pode ter sido praga do Helinho, aquele desgraçado.






( assim que eu me via nadando)






( pras pessoas que me viam nadando, eu era assim)

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