- Então gatinha? Vamos rapar fora daqui? Tomar um gelos lá no meu apê?
Eu, na mesa ao lado, ouvi aquilo e fiquei doido. Meu primo não ficou nem meia hora trocando idéia com aquela gata linda e já conseguiu arrastar ela pro cafofo dele. O cara é foda! Passa o rodo geral.
Esse meu primo mais velho era uma espécie de herói pra mim. Eu era o seu fã. Um novo tipo de super-herói que tem o super-poder de ter assunto pra tudo quanto é papo. As muié ficam doida. O cara domina geral. Papo-cabeça de barzinho de faculdade. Assunto de sala de espera de teatro. Idéias que rolam em lounges de boates. Aquele plá sobre rock. Filosofia de botequim. O cara nunca ficava sem assunto. Só que o meu herói era bem seleto. Só usava seus super-poderes com as gatinhas. Desde que interessasse ele, ele proseava sobre qualquer assunto. E encantava as minas. Ele me contou: já comeu mais de quatrocentas e vinte mulheres usando essa sua versatilidade, que eu chamo de “super-poderes”. Meu herói. Ele não era boa-pinta como os outros heróis, mas, pelo menos, não usava cueca por cima da calça. Era feio mas era cabeça-feita pra caralho. Seu poder de sedução estava somente no seu grau de conhecimento sobre qualquer assunto que lhe perguntassem. Qualquer um mesmo. Causava admiração nas mulheres e inveja nos homens. Conquistou e comeu todas as gatinhas falando sobre o que quer que elas puxassem de assunto. Ele até fez uma bizarra lista dos temas que as gatas puxavam e me mostrou. Taqui comigo, olha só::
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Viu só? Que quantidade de assunto doideira que ele já falou pra comer as mina? Ele falou que tem muito mais. A maioria ele esqueceu de anotar.
Só que...
...Decepção!
Eu descobri que os seus super-poderes não eram do jeito que eu pensava que fossem. Ele mesmo me contou. Disse pra mim que, na verdade, esse conhecimento todo tinha uma fonte. Me contou como é que agia: quando estava, por exemplo, em um barzinho, conversando com uma gatinha, e ela puxasse um assunto qualquer que ele não conhecesse, ele interrompia a gata no meio da conversa, pegava seu celular GSM 2,5G , fingia que tava mandando uma mensagem, acessava o browser WAP e conectando-se à Internet, colocava, pela conexão wireless, o endereço do Google e a página abria.
Meu primo me disse:
- É moleza brotherzinho. Cê pode fazer também. Esse página do Google que surge no celular chama-se Google Number Search. Aí você utiliza o teclado numérico do celular para “digitar” o termo que deve ser buscado. O tal assunto que a gatinha puxou. Cê utiliza sempre o dígito 0 para os espaços e 1 para os parênteses. Véio, depois que o Google resolveu lançar esse buscador nos celulares, possibilitou que mais de 4 milhões de resultados pudessem ser acessados usando só os teclados numéricos. Tudo numa fração de segundos. De onde você estiver. E eu me dei bem, né? Veio, com esse “ Google de celular”, a gente pode fazer tudo o que o Google faz em um computador, e talvez um pouco mais. E as gatas adoram carinhas inteligentes. Né não?
Puto, passei a chamar meu primo de “Gloogleman”. Isso mesmo: o homem-google. Gloogleman , meu ex-herói.
Além do mais,os super-poderes só duravam enquanto durasse a bateria do celular.
terça-feira, 17 de março de 2009
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