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"Ela não deveria ter olhado nunca,
Se pensava que eu não deveria amá-la"
Browing (1812-1889)
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Nunca fui azarado. Melhor dizendo, azarado no sentido de “azar na vida” eu sempre fui, sou e serei. Por isso a existência desse divã de confidências que é este blog. Nunca fui azarado no que diz respeito a uma mulher deliberadamente me cortejar. Ter interesse por mim. Me paquerar.
Tem seu lado bom e ruim nisso. Por sei feio pra caralho ( o que, obviamente, explica esse meu fracasso sedutor), nas vezes que fiquei com mulheres, dependeram única a exclusivamente da minha capacidade de conquistá-las argumentando, “jogar um plá”, “desenrolar”. O que, vá lá, admito, não sou muito bom nisso, mas era (é) a única alternativa que me resta(va) pra conquistá-las, o que me faz conseguir sobreviver sem ter que ficar sempre no “cinco contra um”.
Considerando que sendo “margoso” a possibilidade de conseguir conquistar uma gata ( numa festa, boate, barzinho...) estando ao lado de um cara mais bonito do que eu seria nula, sempre fiz amizades com caras tão ou mais feios do que eu. E, justamente, o “mais dos feios dos meus amigos”, o Agonia, me deu um toque ( no bom sentido, é claro) que me deixou boladão:
- Porra! Saca só velho! Não é só porque a gente é jaburu que nós não pode [ sic: além de feio, o Agonia é semi-analfabeto] sacar quando as minas tão dando mole pra gente. E às vezes poder até estar. Eu soube que tem um lance aê de perceber uns sinais quando a mina tá te dando mole. Eu vi no programa da Márcia “Goldesmitê” [ sic: além de feio e burro, tem mau gosto televisivo também] falando sobre isso. Procura saber mais velho.
Agonia é o meu mestre [ ver FRACASSADO FRACASSADO] e tudo o que ele fala eu levo em consideração. Tentei decifrar e traduzir seu obtuso conselho e descobri que o que ele queria dizer era sobre os “Sinais não-verbais que as mulheres emitem durante uma paquera”. Comecei a pesquisar e comprei três livros massa sobre o assunto: “O Corpo Fala” ( de Pierre Weil e Roland Tompakow, da Editora Vozes); “Desvendando os Segredos da Linguagem Corporal"(de Allan e Barbara Pease. Editora Sextante ) e o clássico “The expression of emotion in the man and animal” do mestre Charles Darwin.
Li os três numa pancada só.
Uma parte de um dos livros:
“Homens e mulheres procuram chamar a atenção sobre si. Para diminuir o temor do outro, freqüentemente os indivíduos adotam posturas que lembram o comportamento infantil. Três tipos de comportamentos parecem predominar : orientação corporal em direção à pessoa que se tem interesse; breves olhares mútuos; comportamentos de automanipulação. Geralmente os homens tendem a estender os braços, estufar o peito, arrumar o cabelos, empinar o queixo, ajeitar a roupa, rir alto, exagerar nos movimentos corporais e tocar na face. As mulheres andam de maneira empinada, sorriem, olham, mudam de posição, balançam o corpo, ajeitam-se, enrolam o cabelo com os dedos, jogam a cabeça para trás, olham com ar tímido, dão risadinhas, erguem as sobrancelhas, umedecem o lábio superior com a língua. Para quem emite estes gestos, geralmente denominados de deslocados , eles parecem servir para incrementar a própria aparência e como consoladores ”
Fiquei craque em emitir sinais não-verbais de sedução e perceber os emitidos pelas gatas.
Passei a fazer observações nos locais onde acontecem habitualmente os jogos de sedução (cafés, bares, salões de danças, etc.), e vi que esses lugares revelam que existe um timing ótimo para que este jogo tenha sucesso. Se o “ataque” for muito rápido ou agressivo, ou ao contrário, se houver muita demora e hesitação, o namoro tende a fracassar. Pode-se comparar este tipo de comportamento a aquele de outras espécies menos desenvolvidas, como as aranhas. Os machos da espécie precisam atravessar a longa e escura entrada da toca da fêmea para poder namorar e copular. Fazem isso bem devagar, pois caso se precipitem, elas os devoram.
E a minha idéia era justamente comer uma aranha ( ou, nesse caso, ser comido, sei lá!)
Mas, nesses livros, o que me mais chamou a atenção foi ter lido que a função destes sinais básicos e aparentemente universais, tanto masculinos, quanto femininos, é de ficar próximo da pessoa cortejada sem provocar temor e esta indicar que o cortejador pode aproximar-se sem medo. Esta necessidade de aproximação é facilitada por uma postura e um comportamento infantilizado tanto por parte do cortejador como do cortejado, a qual demonstraria a “submissão” e seria oposta ao perigo de agressão e, portanto, facilitaria a aproximação.
Ainda li que tais sinais de submissão no comportamento de flerte têm sido observados em vertebrados, em mamíferos e em primatas. A sua finalidade seria a de criar, consolidar e manter vínculos de apego, tendo sido inicialmente descrita por Darwin naquela clássica publicação de 1872. Assim, este comportamento submisso e infantilizado presente no cortejamento parece ter a função de indicar ao outro: “eu não sou perigoso; eu estou disponível: você pode aproximar-se”.
Pior que eu tava a perigo quando lia esses livros.
Porra, estando com todas as cartas na manga, sacando pra caralho do assunto ( decorei todos os “ 52 gestos e atitudes que as mulheres utilizam para lançar o sinal de sua disponibilidade e de seu interesse”), bastava que eu encontrasse um ambiente propício ao encontro com as mulheres que apresentassem alta freqüência de manifestações não-verbais direcionadas aos homens.
Procurei o mestre Agonia. Contei pra ele sobre os meus profundos estudos. Na lata, o experiente notívago me disse: Lapa. “Vai pra Lapa velho! Lá é o lugar ideal procê por em prática esses seus conhecimentos sobre o vlerte ( ele quis dizer “flerte”).
E fui pra Lapa, no Rio. Hospedei-me no hotel em que sempre fiquei, o Mundo Novo.
Meti uma beca na estica: calça de linho, camisa de seda com os botões abertos até a metade mostrando os pelos do peito, sapato duas cores.
Lindão, parti pra night. Sabadão, tomei uns goles ( oito Brahmas) num botequim da Mem de Sá mesmo, pra dar um “esquenta”. Rodei de bar em bar e vi que, apesar de cheios, só tinha gringas. Pô, tá certo que a linguagem não-verbal do flerte é universal, mas,mesmo que eu evidenciasse um mole não-verbal pra mim, como eu faria na hora do ”desenrolo” verbal ? Monoglota ducarai, ia travar na hora de trocar o “plá” com as gringas.
Continuei a rodar na Lapa afora até parar num tal de “Buraco da Lacraia” (Rua André Cavalcanti, 58. Há uns quatro quarteirões depois dos Arcos, no sentido Aterro). Paguei R$25,00 na entrada.
Eram, três e meia da manhã. Noite fria e chuvosa. Lotado o bar. Eu já meio atravessado na birita, na mesa de bilhar, tinha acabado de tomar uma “cara-de-gato” da Ivanir, uma mulher-macho, sinuqueira das antigas, que às gargalhadas, me esculachou geral.
Puto com a derrota atravessada na garganta, peguei meu copo, saí da mesa de sinuca e comecei a pôr em prática meus conhecimentos perceptivos da sedução humana.
“Porra, azar no jogo, sorte no amor” - pensei.
E parti pro meio da boate-bar bêbado balbuciando: “Quero é fuder!”. De súbito, ao meu lado vi a exuberante loira curvilínea, peitões explodindo no decote, cabelos lisos até os ombros, cintura fina,a penugem de pelinhos-pêssego descendo até o rego da bunda. Bunda? Bundão-raimunda!
“Crescei-vos e multiplicai-vos”, pensei comigo. “Fuder, eu quero é fuder!”
Suspendi o copo, olhando torto pro bundão-raimunda. Raimunda é nome de mulher feia, deve ser Priscila, ou Patrícia, ou Pâmela o nome da loira, nome de mulher bonita começa sempre com “p”, pensei em voz alta.
Ali era a hora de por em prática meus profundos conhecimentos. Me lembrei dos sinais masculinos do flerte e comecei a executá-los olhando fixamente pra ela. Segui direitinho os passos: primeiro fiquei numa postura cowboy: mãos no bolso, com os dedos em L, apontando pra região genital; depois sentei-me com as pernas abertas e projetei o corpo pra frente; mostrei os pulsos e voltei o meu tronco pra ela; ;alisei os cabelos; ajeitei a roupa;inflei o peito e encolhi a barriga (uma clara demostração de força física e virilidade).
Ela meio que percebeu que eu estava a fim e vi imediatamente que estava demostrando o fêmeo interesse por mim:sentada, colocou a bolsa muito próxima de si; apontou para o próprio joelho; acariciou o sapato e cruzou as pernas.
Caralho! Igualzinho aos passos do flerte feminino descritos nos livros.
Vi que tinha aprendido a "ler" os sinais mais acuradamente.
Pra não dar varada n'água, esperei mais um pouco antes de cair dentro. Sabia que também era preciso ter cuidado com a interpretação dos sinais. É preciso estar ciente de outros contextos para saber as reais intenções de quem flerta; uma pista somente não significa nada e pode ser ambígua. Para se certa certeza das intenções, essas evidências devem ser convergentes e múltiplas, lembrei.
Eu tinha que confirmar os outros sinais não-verbais.
E não é que os livros tinham razão? Quando ela viu que eu olhei novamente pra ela, jogou a cabeça para trás e sacudiu o cabelo; respondendo com sinais que indicavam sua disponibilidade e interesse para uma aproximação. Orientou seu corpo em direção ao meu, olhou-me mais longamente e, muito freqüentemente, inclinava lateralmente a cabeça, expondo a parte lateral do pescoço. Fez os clássicos sinais de submissão, tais como abaixar os olhos, fazer beicinho com os lábios, segurar os próprios braços ou mantê-los muito próximos da área abdominal. Lembrei dos livros que tais comportamentos de submissão servem para mostrar a não hostilidade e indicar uma implícita permissão para a aproximação.
Voltei pra postura cowboy: mãos no bolso, com os dedos em L, apontando pra região genital
Ela me olhando, umedeceu levemente os lábios; fez beicinho com a boca levemente aberta; tocou-se nos ombros; inclinou o pulso; expôs também os pulsos; levantou-se e , ao som ambiente, olhando diretamente pra mim, começou a requebrar as cadeiras inclinando a pelve na minha direção. Sentou-se novamente e começou a acariciar o gargalo da garrafa de cerveja.
Fiquei doidão!
Dei um golão bem grosseiro na lata de cerva, repeti a postura cowboy: mãos no bolso, com os dedos em L, apontando pra região genital; e comecei a cantar alto e a gesticular ( dando indícios de que queria chamar a atenção)
Comecei a cantar a canção “Moça” do Wando.
Ela ouviu e riu.
“Olhou pra mim, chego junto! Azar o dela!” As palavras saíram atrapalhadas na minha voz bêbada.
Chegou a hora. Cheguei junto. Lembrei de uma passagem do livro do Darwin que dizia - “... sempre são os machos que fazem a corte”
Cheguei perto e perguntei:
-A graça?
-Einh?
-A graça!
-Que graça? Graça de quê?
Não desisti da burrinha dona do burrão:
- O nome, caralho!
- Grosso!
- Grosso não, porra! Recito a bíblia procê então: ““Crescei-vos e multiplicai-vos” - disse, deixando subtendido a proposta de foder.
Ela gargalhou. Eu perguntei qual era a graça. Rir da bíblia. Ela riu mais ainda.
- Qual é a graça, porra?
- O nome?
- Não, porra! Qual é a graça de rir do que eu falei?
- Nada! Só achei graça!
-Foda-se! Quero fuder contigo! Tô doidão!
-Direto você, einh?
Conforme a orientação dos livros, passei para um tipo de conversa sedutora, sabendo das evidências de que é mais importante como se fala e não o que se fala, caracterizando-a pela mudança de voz, um tom mais agudo, um volume mais baixo, mais suave, mais musical, um tipo de voz que lembra o modo de se falar com crianças ou para tranqüilizar pessoas que precisam de cuidados, onde o clima continuaria sendo o de pô-la em submissão.
- Quero meter nesse rabão loiro gostoso!
Ela riu mais ainda. Tava no papo.
“Meu lero é foda!” - pensei.
Catei pelo braço, meio que à força, e saí arrastando a loira pela Lapa afora. Não conversamos. Ela só ria e ria. Entramos no Hotel Mundo Novo. Meu quarto, 206. Tirei a roupa da loira. Corpo de atriz pornô. Bucetinha raspadinha, bigodinho de hitler.
Joguei na cama e barbarizei. Bêbado meti na buceta apertadinha sem camisinha mesmo.
-Crescei-vos e multiplicai-vos”, gritei encharcando a xota de porra.
Sem mais nem menos, ela gargalhou igual a uma pomba-gira.
“ Não é que tem mesmo mulher que goza rindo?” - pensei
Deixei pra comer o cobiçado bundão-raimunda por último. E comi. E gozei de novo. Exausto, deitei-me ao lado dela e acendi um cigarro. Lembrei da parte do livro que diz que após o coito o comportamento de cortejamento cessa, já que nessa fase o casal não precisa mais “negociar” a aproximação sexual; findo o objetivo, então parece que o cortejamento torna-se redundante e desnecessário, pois do ponto de vista biológico, o objetivo do cortejamento é de maximizar a otimização do sucesso reprodutivo das pessoas envolvidas.
Fiquei deitadão refletindo sobre aquilo, quando me dei conta de que ela ainda estava gargalhando, chegando a chorar de tanto rir. Dessa vez fiquei puto e , perguntei:
- Caralho! Qual é a graça?
- Paulo