fracassos

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domingo, 25 de outubro de 2009

VENDEDOR DE CD PIRATA FRACASSADO



Julho de 2009. Férias escolares. Sendo professor de escola pública, ganhando mal ( redundância) e com quinze dias ociosos, pensei em ganhar uma grana fazendo uns bicos. Aulas particulares estavam fora de questão, já que eu queria distância de exercer a formalidade do ofício. Enumerei, portanto, quais as profissões em que eu havia fracassado e vi o que sobraria. Como a minha ficha corrida de insucessos profissionais é extremamente extensa, sobraram pouquíssimas alternativas de tentar ganhar uma graninha com algo que eu não havia tentado. Na verdade, acho que menos de dez no meio de 1.845.679 maneiras de ganhar dinheiro diferentes.

Sisudez, cigarro, disciplina, cigarro, compromisso, cigarro, aturar alunos, cigarro, concentração, cigarro, tensão, cigarro, atenção, cigarro, stress, cigarro, seriedade, aulas: formalidade. Eu queria me manter o mais afastado possível disso. Queria descolar um cascalho sem ter que esquentar a cabeça.

Informalidade! Mercado informal! Camelô! Isso mesmo,camelô! Sem esquentação de cabeça. Até a corridinha do rapa de vez em quando ia me fazer bem. Sair do sedentarismo e parar de fumar tanto.

Mas, porra, vender o quê? Ir em SP na 25 de março e trazer roupas e tênis falsificados? Eu não tava com muito capital pra investir e muito menos tomar uma batida na estrada e ter que subornar a polícia rodoviária ( redundância). Que tipo de muamba eu podia vender sem que eu tivesse que investir muito?

Um amigo meu, o Bigorna, que tava com a banca de camelô dele desativada e fechada ( tinha tomado um rapa e tava temporariamente sem grana pra reabastecer o estoque), me levou pro meio das barracas e me disse que o que tava vendendo pra caralho era dvd e cd pirata.

Entre as barraquinhas, pululavam na minha frente e berravam nos meus pobres ouvidos cds de pagode romântico, Calypso, axé, Calypso, rock, e principalmente funk carioca. Muito funk. Predominantemente funk. Tinha até um gênero chamado de “sertanejo universitário” (??) que rolava direto nos aparelhos de som falsificados das barracas.

Programa pra piratear os cds eu tinha instalado no meu computador, as capinhas eu faria na minha tosca impressora, a barraca pra expor o sangue-bom do Bigorna disse que me emprestaria na boa, por duas semanas ( justamente o tempo que eu ia ficar afastado das escolas e das dezenas de maços de cigarro que me acalmavam dos alunos).

Mas eu tinha que pesquisar mais e descobrir uma piratão inusitado pra eu vender, algo que fizesse o diferencial, que saísse da mesmice. Oferecer algo de novo para aquela multidão ávida por ouvir música pirateada em capa mal xerocada.

E fiz.


E fui na minha cdteca e descobri uns cds meus que não tinham à venda nas outras barracas e os pirateei.

E, entusiasmadão, achei que tava revolucionando o mundo do consumo de pirataria de cds oferecendo algo que fosse bem diferente do habitual.

Fiz dezenas de piratas, coloquei no mostruário, passei manhãs e tardes gritando os títulos dos cds.

Mas eu tinha me esquecido que sou um fracassado.

Por isso me fudi.

Fiquei as duas semanas com os cds expostos sem que uma só alma, um único cliente se interessasse pelos meus produtos.

Não vendi nenhunzinho cd sequer.

Não tinha passado pela minha cabeça que o público consumidor de cds piratas era tão exigente.

E o pior: um amigo meu, o www.twitter.com/leomurunga , passava religiosamente todos os dias lá e tirava fotos da minha barraca com o seu celular, eternizando o meu temporário enlouquecimento pela megalomania da certeza do sucesso.

Eu achava, na época, que as fotografias iam registrar o início de um grande empreendimento.

Porra nenhuma! Recebi as tais fotos por e-mail essa semana e vi que, na verdade, elas registraram a trajetória de duas semanas desperdiçadas e muita, muita grana jogada pelo ralo.





Primeiro dia, os cds expostos e meu aparelhinho de som no talo rolando a  sinfonia nº 9 em ré menor, op. 125, "Coral", de Ludwig Van Beethoven . Os consumidores de pirata, além de não comprarem, passavam longe reclamando. Mas, primeiro dia, não me abati. Ainda faltavam duas semanas pela frente...




Décimo dia. Não tinha vendido cd nenhum, ainda. Empurrei um cd prum metaleiro que tinha comprado achando que era o cd solo do vocalista de hard rock e heavy metal Sebastian Bach  ( ex-cantor do  Kid Wikkid, Madam X, Herrenvolk, VO5, e Skid Row ), mas o cabeludo voltou putaço e devolveu ao descobrir que era do homônimo organista e compositor alemão do período barroco Johann Sebastian Bach, do séc. XVI.



Décimo quarto dia. Nenhuma porra de cd um vendido até então. Os camelôs das bancas ao lado da minha ( minha não, do Bigorna) reclamando pra caralho do som. Quando eu botei um Wolfgang Amadeu Mozart pra rolar, um mendigo da cidade, o Chiqueirão, passou fumando, parou, fechou os olhos e começou a assobiar a melodia. Me bateu uma depressão fudida. Pedi um cigarro pra ele. Eu não tinha fumado até aquele dia. Frustração máxima olhando pro mendigo, fui na padaria da esquina e comprei quatro maços de nicotina cancerígena e fumei um atrás do outro.


4 comentários:

FÁBIO ELIONAR disse...

Rapaz, que experiência! Se o Walter Benjamin estivesse vivo escreveria a parte dois do "A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica" (versão audio-book, claro). Ficarei atento às suas próximas férias.

o dr. A. Noel disse...

Na próxima tenta vender CD com cantos de curió e trinca-ferro.

Edu Coimbra disse...

Poxa, que pena que eu não tinha gravado meu CD nessa época. Será que iria vender alguma coisa? Ou eu também seria confundido com esses merdas aí que você vendia e que não agrada ao seleto público? E será que colocar meu próprio CD na sua banca caracterizaria eu me pirateando-me a mim mesmo?

André Freitas disse...

Cara,

curti pra caralho seu blog véio.

Vou colar aqui sempre.

Muito bom.

Abraços