Quando concebi há mais ou menos um ano e meio este blog de merda, não me passou pela cabeça que alguém perderia tempo em lê-lo. Sem pretensão nenhuma, minha idéia – não me envergonho em dizer - era, tal qual uma menininha insegura com o seu “diário íntimo”, postar aqui os malogros, derrotas, desgraças, faltas de êxito, ruínas e desgraças da minha vida de Merda.
Ao colocar um contador de visitas, fiquei pasmo ao perceber a quantidade de pessoas que se regozijam em acompanhar a miséria alheia. Cambada de abutres biltres!
Pra minha (outra) desgraça, parece que fiz escola. Pessoas me mandam diariamente e-mails contando seus fracassos e vêem em mim uma espécie de “Guru dos Fracassados”.
Mas o pior não é isso. Enquanto influenciador de fracassados, poderíamos pressupor que os fracassos de um influenciador seriam mais fracassados do que os dos seus seguidores.
Ao colocar um contador de visitas, fiquei pasmo ao perceber a quantidade de pessoas que se regozijam em acompanhar a miséria alheia. Cambada de abutres biltres!
Pra minha (outra) desgraça, parece que fiz escola. Pessoas me mandam diariamente e-mails contando seus fracassos e vêem em mim uma espécie de “Guru dos Fracassados”.
Mas o pior não é isso. Enquanto influenciador de fracassados, poderíamos pressupor que os fracassos de um influenciador seriam mais fracassados do que os dos seus seguidores.
Ledo engano!
Recebi um e-mail hoje em que um influenciado seguidor deste blog expôs um fracasso seu e que me fez sentir mais derrotado ainda. O cara, num simples – e, acredito, rapidamente escrito – e-mail, teve a capacidade de me superar em todos os aspectos que um texto fracassado teria: uma derrota estrondosa descrita de uma maneira perfeitamente arguta, sem os erros gramaticais que cometo com frequência [ leiam PROFESSOR DE PORTUGUÊS FRACASSADO] e, não menos importante, com um fracasso digno de um mestre.
Porra! Mas o mestre não sou eu?
Podem me dizer: “perdeu preibói!”
O escroto fez isso pra me humilhar! Só pode! No início do e-mail, ele foi tecendo elogios inteligentes, citando uns caras que nem conheço, que me deixaram confuso ( e que eu fiquei sem saber se o babaca tava me elogiando ou tava de ironia) pra antes do golpe final, do xeque-mate, vir o tal fracassão que deixou os meus fracassinhos no chinelo.
Como influenciador de fracassados, sou uma fraude que perde para o próprio influenciado fracassado.
Sou um Merda de um Fracassado de Merda!
O nefando e-mail:
************
De: Lucio Medeiros (lucioeduardomedeiros@gmail.com)
Enviada: quinta-feira, 07 de janeiro de 2010 13:43:25
Para: Alexandre Coimbra Gomes (alexandrecoimbragomes@hotmail.com); Alexandre Coimbra Gomes (alexandrecoimbragomes@gmail.com)
Caro Fracassado,
Acompanho suas postagens desde o início. Ou quase. Nem me lembro como vim parar por aqui, mas o fato é que gostei do que li. Especialmente do texto “Fracassado Fracassado”.
Expor seus fracassos, reais ou ficcionais, me pareceu interessante, afinal quantos não são nossos fracassos cotidianos cuidadosamente escamoteados, tirado dos olhos dos que nos são mais próximos pelos mais variados motivos?
Lembro do Poema em Linha Reta do Fernando Pessoa.
Assumir nossa falibilidade é assumir a integralidade da natureza humana.
Além do que, como é auto depreciativo, acaba mexendo com uma das questões mais delicadas do ambiente cultural atual, pois através da galhofa questiona também a temática predominante na música popular, quadrinhos, literatura etc.
Afinal, todo mundo, paradoxalmente, se quer bem sucedido mas vive a reclamar da vida, do governo, do aquecimento global, da puta que o pariu, sem assumir suas próprias responsabilidades por um eventual fracasso. Culpados, como o inferno, são os outros.
Literatura (e música popular e quadrinhos etc) comercialmente viável é a que glorifica o loser. São todos irresponsáveis (gostou da plurisignificância do vocábulo?) por seus fracassos. Imaturidade é uma constante na produção cultural de agora.
Só pra provocar lembro de um texto do Reinaldo Azevedo em que ele diz “Tanto no Brasilzão velho de guerra como mundo afora, depois dos anos 60, identificou-se excessivamente a arte e, de maneira mais ampla, a cultura como discurso da negação. (...) Vocês já repararam que, regra geral parecem inexistir arte ou pensamento relevantes que justifiquem o presente, que vivam em harmonia com ele? Ou, escrito de outra maneira: é como se houvesse uma incompatibilidade entre a criação artística ou filosófica que contam e o conformismo. Curiosamente, no entanto, a produção cultural que atingiu a excelência, ganhando o estatuto de um ‘clássico’, é justamente aquela em que a utopia (o ‘lugar nenhum’) é autorizada por um tempo e lugar historicamente definidos. Foi assim, para citar alguns exemplos, no século de Péricles, na Grécia; no reinado de Otávio Augusto, em Roma, e em vários períodos do Renascimento.” (págs. 237/238 do Contra o Consenso)
Nos anos 70 o grande Glauco Mattoso escreveu um poema intitulado “Cansioneiro”, assim, com S, para dizer que estava cansado da temática das canções, então predominantemente políticas. Hoje o “sistema”, seja lá o que isso quer dizer, é dominado pela cultura do fracasso, da impossibilidade de realização plena, da queixa, do ah como eram bons aqueles tempos ... O establishment é perdedor porque oprimido. A contramão é ser virtuoso ou apontar virtudes.
O grande mérito do seu blog está em, caricaturizando uma temática comercial, denunciá-la. Exerce aí uma função dialética du caraio.
Seu projeto bem sucedido foi bem sucedido. Única saída, pois se fracassasse seria um sucesso do ponto de vista de um fracassado. O que torna seu blog, simultaneamente, um fracasso e um sucesso. Tentando pegar carona, vai uma colaboração. Se der publique.
Abração,
Lucio
Recebi um e-mail hoje em que um influenciado seguidor deste blog expôs um fracasso seu e que me fez sentir mais derrotado ainda. O cara, num simples – e, acredito, rapidamente escrito – e-mail, teve a capacidade de me superar em todos os aspectos que um texto fracassado teria: uma derrota estrondosa descrita de uma maneira perfeitamente arguta, sem os erros gramaticais que cometo com frequência [ leiam PROFESSOR DE PORTUGUÊS FRACASSADO] e, não menos importante, com um fracasso digno de um mestre.
Porra! Mas o mestre não sou eu?
Podem me dizer: “perdeu preibói!”
O escroto fez isso pra me humilhar! Só pode! No início do e-mail, ele foi tecendo elogios inteligentes, citando uns caras que nem conheço, que me deixaram confuso ( e que eu fiquei sem saber se o babaca tava me elogiando ou tava de ironia) pra antes do golpe final, do xeque-mate, vir o tal fracassão que deixou os meus fracassinhos no chinelo.
Como influenciador de fracassados, sou uma fraude que perde para o próprio influenciado fracassado.
Sou um Merda de um Fracassado de Merda!
O nefando e-mail:
************
De: Lucio Medeiros (lucioeduardomedeiros@gmail.com)
Enviada: quinta-feira, 07 de janeiro de 2010 13:43:25
Para: Alexandre Coimbra Gomes (alexandrecoimbragomes@hotmail.com); Alexandre Coimbra Gomes (alexandrecoimbragomes@gmail.com)
Caro Fracassado,
Acompanho suas postagens desde o início. Ou quase. Nem me lembro como vim parar por aqui, mas o fato é que gostei do que li. Especialmente do texto “Fracassado Fracassado”.
Expor seus fracassos, reais ou ficcionais, me pareceu interessante, afinal quantos não são nossos fracassos cotidianos cuidadosamente escamoteados, tirado dos olhos dos que nos são mais próximos pelos mais variados motivos?
Lembro do Poema em Linha Reta do Fernando Pessoa.
Assumir nossa falibilidade é assumir a integralidade da natureza humana.
Além do que, como é auto depreciativo, acaba mexendo com uma das questões mais delicadas do ambiente cultural atual, pois através da galhofa questiona também a temática predominante na música popular, quadrinhos, literatura etc.
Afinal, todo mundo, paradoxalmente, se quer bem sucedido mas vive a reclamar da vida, do governo, do aquecimento global, da puta que o pariu, sem assumir suas próprias responsabilidades por um eventual fracasso. Culpados, como o inferno, são os outros.
Literatura (e música popular e quadrinhos etc) comercialmente viável é a que glorifica o loser. São todos irresponsáveis (gostou da plurisignificância do vocábulo?) por seus fracassos. Imaturidade é uma constante na produção cultural de agora.
Só pra provocar lembro de um texto do Reinaldo Azevedo em que ele diz “Tanto no Brasilzão velho de guerra como mundo afora, depois dos anos 60, identificou-se excessivamente a arte e, de maneira mais ampla, a cultura como discurso da negação. (...) Vocês já repararam que, regra geral parecem inexistir arte ou pensamento relevantes que justifiquem o presente, que vivam em harmonia com ele? Ou, escrito de outra maneira: é como se houvesse uma incompatibilidade entre a criação artística ou filosófica que contam e o conformismo. Curiosamente, no entanto, a produção cultural que atingiu a excelência, ganhando o estatuto de um ‘clássico’, é justamente aquela em que a utopia (o ‘lugar nenhum’) é autorizada por um tempo e lugar historicamente definidos. Foi assim, para citar alguns exemplos, no século de Péricles, na Grécia; no reinado de Otávio Augusto, em Roma, e em vários períodos do Renascimento.” (págs. 237/238 do Contra o Consenso)
Nos anos 70 o grande Glauco Mattoso escreveu um poema intitulado “Cansioneiro”, assim, com S, para dizer que estava cansado da temática das canções, então predominantemente políticas. Hoje o “sistema”, seja lá o que isso quer dizer, é dominado pela cultura do fracasso, da impossibilidade de realização plena, da queixa, do ah como eram bons aqueles tempos ... O establishment é perdedor porque oprimido. A contramão é ser virtuoso ou apontar virtudes.
O grande mérito do seu blog está em, caricaturizando uma temática comercial, denunciá-la. Exerce aí uma função dialética du caraio.
Seu projeto bem sucedido foi bem sucedido. Única saída, pois se fracassasse seria um sucesso do ponto de vista de um fracassado. O que torna seu blog, simultaneamente, um fracasso e um sucesso. Tentando pegar carona, vai uma colaboração. Se der publique.
Abração,
Lucio
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Pari Passu. A expressão latina designa a qualidade de algo ou alguém estar em perfeita sincronia com algum acontecimento ou objeto de estudo. Hoje é mais comum falar em up to date. Mas não é mesma coisa. Ou é? Sei lá. Isso é papo de linguista. Sobre língua só sei que é a última que morre. Se bem que, talvez, a linguística forneça um instrumental teórico para compreender minha crônica inadequação ao fetiche que cultuo, com aquele papo de estudo diacrônico/sincrônico.
Sempre me faltou timing. Melhor dizendo: em certos assuntos até me sinto como portador do que é comumente designado por timing, no vocabulário corrente da classe média, a qual pertenço. Tenho timing, mas só pra trampo.
No essencial, que é a realização da minha satisfação sexual, nem remotamente consegui estar pari passu com meu fetiche, qual seja, a tara por mulheres mais velhas. Balzaquianas me fascinavam aos quinze. Citando nosso pueteiro maior, Tarso Genro, “quanto sêmem inútil derramei” em noites solitárias sonhando com um colo (e todo o resto que o acompanha, é claro) de uma mulher madura.
Cada novo janeiro eu elevava a idade ideal do meu objeto de desejo. Há anos me fixei no intervalo entre 45/50 anos.
Tímido, durango kid, somente aos dezoito comecei a me aventurar em cantadas desajeitadas às amigas de minha mãe. Todas redundando em negativas. Desde as mais ásperas até as que me dispensavam delicadamente dizendo que apesar de “ser um rapaz bonito”, era “muito novo”.
Por conta dessas últimas acalentei a esperança de que o passar dos anos me traria um ar de maturidade que as interessassem. Mas enquanto a idade não avançava, eu precisava manter relações sexuais, e comecei a me relacionar com mulheres da minha idade, chegando a casar com uma delas, inclusive.
Minha mulher era bonita, me deu uma filha que amo muito, proporcionou alguns dos melhores momentos que vivi, mas eu continuava um tarado irrealizado.
Fã de rocks bagaceiros, vibrava quando ouvia pérolas como “Eu amo sua mãe” das Velhas Virgens, cuja letra dizia “você é até que é gostosa, mas a velha é muito melhor”. Enchendo a cara de cerveja e berrando essa letra assistindo ao dvd até que obtinha um efeito catártico, mas continuava frustrado. Fracassado.
Quarenta anos quase completos, minha vida estava caminhando para a monotonia. Agora já não era mais um menino. Poderia traçar mulheres de cinquenta. Era preciso por um fim no meu casamento e partir rumo a terra encantada do fetiche. Precisava realizar plenamente minhas taras.
Estabelecida a partilha e o valor da pensão adquiri a carta de alforria. Nada mais me segura, pensei.
Depois de mais de quinze anos de casamento comecei a sair como um predador na noite. Era o próprio Milf hunter. Mas, para minha surpresa, o que pintava na minha rede era menininha dando mole. Tive boas parceiras. Algumas muito carinhosas e boas de cama. Só que não me separei para comer garotinhas. Queria mulheres mais velhas.
E aí é que bate o ponto.
Agora, aos trinta e nove anos, quando abordo uma mulher mais velha, com as variações de praxe, o que mais ouço é: “Pô, você é até uma cara bonito, ‘tá inteiro para sua idade, bom papo e tal, mas ... é que eu curto caras mais novos”.
Pari Passu. A expressão latina designa a qualidade de algo ou alguém estar em perfeita sincronia com algum acontecimento ou objeto de estudo. Hoje é mais comum falar em up to date. Mas não é mesma coisa. Ou é? Sei lá. Isso é papo de linguista. Sobre língua só sei que é a última que morre. Se bem que, talvez, a linguística forneça um instrumental teórico para compreender minha crônica inadequação ao fetiche que cultuo, com aquele papo de estudo diacrônico/sincrônico.
Sempre me faltou timing. Melhor dizendo: em certos assuntos até me sinto como portador do que é comumente designado por timing, no vocabulário corrente da classe média, a qual pertenço. Tenho timing, mas só pra trampo.
No essencial, que é a realização da minha satisfação sexual, nem remotamente consegui estar pari passu com meu fetiche, qual seja, a tara por mulheres mais velhas. Balzaquianas me fascinavam aos quinze. Citando nosso pueteiro maior, Tarso Genro, “quanto sêmem inútil derramei” em noites solitárias sonhando com um colo (e todo o resto que o acompanha, é claro) de uma mulher madura.
Cada novo janeiro eu elevava a idade ideal do meu objeto de desejo. Há anos me fixei no intervalo entre 45/50 anos.
Tímido, durango kid, somente aos dezoito comecei a me aventurar em cantadas desajeitadas às amigas de minha mãe. Todas redundando em negativas. Desde as mais ásperas até as que me dispensavam delicadamente dizendo que apesar de “ser um rapaz bonito”, era “muito novo”.
Por conta dessas últimas acalentei a esperança de que o passar dos anos me traria um ar de maturidade que as interessassem. Mas enquanto a idade não avançava, eu precisava manter relações sexuais, e comecei a me relacionar com mulheres da minha idade, chegando a casar com uma delas, inclusive.
Minha mulher era bonita, me deu uma filha que amo muito, proporcionou alguns dos melhores momentos que vivi, mas eu continuava um tarado irrealizado.
Fã de rocks bagaceiros, vibrava quando ouvia pérolas como “Eu amo sua mãe” das Velhas Virgens, cuja letra dizia “você é até que é gostosa, mas a velha é muito melhor”. Enchendo a cara de cerveja e berrando essa letra assistindo ao dvd até que obtinha um efeito catártico, mas continuava frustrado. Fracassado.
Quarenta anos quase completos, minha vida estava caminhando para a monotonia. Agora já não era mais um menino. Poderia traçar mulheres de cinquenta. Era preciso por um fim no meu casamento e partir rumo a terra encantada do fetiche. Precisava realizar plenamente minhas taras.
Estabelecida a partilha e o valor da pensão adquiri a carta de alforria. Nada mais me segura, pensei.
Depois de mais de quinze anos de casamento comecei a sair como um predador na noite. Era o próprio Milf hunter. Mas, para minha surpresa, o que pintava na minha rede era menininha dando mole. Tive boas parceiras. Algumas muito carinhosas e boas de cama. Só que não me separei para comer garotinhas. Queria mulheres mais velhas.
E aí é que bate o ponto.
Agora, aos trinta e nove anos, quando abordo uma mulher mais velha, com as variações de praxe, o que mais ouço é: “Pô, você é até uma cara bonito, ‘tá inteiro para sua idade, bom papo e tal, mas ... é que eu curto caras mais novos”.
5 comentários:
Alexandre, você é um submerda, um merda genérico, um merda de butique. Merda, merda mesmo, merda de raiz, merda de várzea é o Lúcio. E para tentar ajudar o parceiro, segue um link: http://my.shopmania.pt/perfil/Airam#list_quest
Senhor o dr. A. Noel, discordo de ti.
Se considera o Merda, autor do blog, um merda falso ("...um submerda, um merda genérico, um merda de butique...") e esse Lucio um legítimo merda, então o Merda é um merda legítimo já que é tão merda que nem um merda verdadeiro consegue ser.
Pode ser, mas ele deveria mudar o blog para Autobiografia de um submerda.
Cara! Que dilema! O que é mais Merda: um merda ou um submerda?
Yorzec,fiquei confusa, eu, sinceramente, não tenho resposta pra essa pergunta. Que merda!
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