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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

PLAYBOY FRACASSADO

Papo de butiquim é foda. Tem aquele adágio famoso que diz “ quem gosta piroca é viado, mulher gosta é de dinheiro”. Concordo em parte. Quanto a parte de viado eu não sei nem quero saber.Mas quanto a parte que fala de mulher, eu acho que a frase procede, mas mulher gosta de piroca também. Gosta de dinheiro e de piroca.

Sei lá mermão.

Cabeça de mulher é um bicho doido.Quanto mais você tenta acompanhar os passos da dança, mais você perde o ritmo, e acaba dançando. Mas tem que ser persistente, cauteloso, sagaz. Tentar agradar a fêmea. Ficar sem uma buça é deprimente.

Igual eu com a Adalgisa, a gente ficava terminado e voltado direto. Era igual couro de pica: " Vai-e-volta", vai-e-volta".

Falando em pica, tem aquela outra frase que eu gosto muito: " Amor de pica quando bate fica".

Crio a minha: " Amor de xana quando bate gama". É, não rimou, mas é a pura verdade.

Mas, na moral : cada sacrifício que eu já fiz por causa de uma buça. Não que eu queira dizer que não tenha valido a pena. Valeu. Valeu e muito. Mas o lance é a garantia do retorno da buça. Aí é que o negócio fica difícil.

Igual ao que aconteceu comigo há alguns anos atrás. Rolou um lance maneiro, que eu consegui desenrolar com a gata mais gostosa que eu já vi, a Claudinha. Época de faculdade. A rapaziada da Engenharia ficou doida na noite que eu passei com a morena na frente da faculdade.

Caralho! Eu, pobre, gordo sebento, barriguão de chopp e com uma cavala daquela. Morenona, cabelão pretão lisão, pernas roliçonas sem uma estria, um rabo "deeessse" tamanho, uma buceta pequinininha, apertadinha, que dava pra ver pelo "paninho mordido" na calça jeans.

Neguinho endoidava. Me sacaneavam perguntando se era macumba que eu tinha feito. Eu mandava aquela clássica: “ Mulher emprenha pelo ouvido, mermão. Tem que ter lábia. Pode ser baixinho, caolho o escambau, a parada é o lero maneiro”.

Tudo mentira! Lero porra nenhuma, o lance era grana. Se mulher gosta de piroca e grana, piroca eu tenho... “Mas e a grana?” Cê me pergunta. Mas foi aí que a coisa começou. Vô contar. Eu conheci a Claudinha foi no começo do ano letivo. Eu tava sentado na barzinho em frente a faculdade e chegou o Marco Aurélio, camarada que estuda comigo, com a prima à tira-colo. Era ela.

Fiquei maluco quando vi aquela mulher deliciosa! Mas rapidinho eu tirei a idéia de cabeça e botei a viola no saco. Quando que uma mulher dquela ia me dar mole? Logo eu, fudidão. Cheio de playboy na facú. Neguinho de Audi, BMW, o caralho e eu a pé.

O Marco Aurélio se sentou, me apresentou a prima, e foi logo pedindo mais dois chopps. Antes do garçon trazer, a Claudinha pediu licença para ir ao “toallete” e saiu.

Fui logo perguntando:

- Porra! Que mulezão é esse? Olha lá maluco! Tá todo mundo no bar olhando pro rabo dela. Cê tá pegando Marcão ?

- Qual é rapaz?! Ela é minha prima. Fomos criados juntos desde criança. Nem rola nada. O lance é fraternal mesmo.

- Cê tá de sacanagem! Prima não é parente não, porra!

- Tô falando sério. Serinho. Rola nada. E outra coisa: pode tirar seu pangarezinho da chuva que ela é a maior interesseira. Na boa. È minha prima e tal, gosto dela muito, mas admito que ela é a maior patricinha, só cola com maluco baludo. Avalia o pretendente pela conta bancária...

- Porra, então eu tô sem chance mesmo... Minha conta no Bradesco tá zeradinha da silva.

E rimos juntos da minha miséria bancária.

- Que que vocês tão rindo tanto? - perguntou a Claudinha voltando do banheiro.

- Nada não prima. Coisa de homem...(...) Minutim só que meu celular tá tocando...Com licença.

Enquanto o Marco Aurélio se levantou pra falar no celular, eu tentei puxar conversa com a deusa.

Ela não me deu muita idéia. Nem olhava na minha cara enquanto respondia minhas perguntas:-

" Não, não sou daqui não. Unnhunn! (...) Sim. (...) Fiz Arquitetura e Urbanismo(...)"

Eu tava me sentido um idiota. Tentando puxar papo com uma mulher maior mercenária que, de cara, percebeu que eu sou um fudido.

Até que o Marco Aurélio voltou e disse:

- Gente cês me desculpem, mas eu vou ter que rapar fora. A Mariângela tá passando mal e ela tá na casa da mãe dela. Vou lá ver o que que tá havendo. Cê fica na boa Claudinha?

- Porra Marquinho! Cê falou que ia me dar carona até e casa da tia!

- Pô, vai dar não Claudinha. A casa da minha mãe é prum lado e o da minha sogra pe pro outro.Dá pra ir à pé. O Alessandro te acompanha à pé até a mãe, não leva Alessandro?

Falou pra mim com cara de quem tava pedindo um favor.

- Levo, na boa. Meia horinha a gente chega lá.

- Valeu gente. Tchau!

- Melhoras para a Mariângela.

-Tchauzinho primo!

E ficamos eu e o espetáculo de morena juntos.Eu sem assunto nenhum, já entregando os pontos. Já tava botando na cabeça a idéia de que ia ser só um amiguinho dela até que eu parei e pensei:

“Porra, se a mulher é declaradamente maior mercenária, interesseira do caralho, porque eu não jogo sujo também? Vai que cola?”

E danei a inventar coisas. Disse que tava deprimido porque eu havia perdido um tio há pouco tempo um tio que me adorava. Que esse tio era um milionário e que eu tava tão transtornado com o falecimento desse ente tão querido que eu nem me preocupara com a herança que disseram que estava depositada na minha conta bancária.

- Mas você não foi nem ver quanto é que ele depositou? E se for uma fortuna? – perguntou a Claudinha, com os olhinhos já brilhando de ganância.

Eu já fisgara o peixe - a sereia, melhor dizendo - o negócio era conseguir tirá-la da água a colocar na mesa pra comer.Propus que saíssemos do bar e fôssemos para a casa da tia dela.

Fomos todo o trajeto falando desse meu fictício tio milionário. Fazendas, sem filhos e me amava como um filho, empresas. E que eu era meio hippie, hermitão, que não rasgava muito pra esse lance de grana...

Até que chegamos na casa da tia dela:

- Olha só Alessandro, que tal se formos amanhã lá no banco ver quanto foi depositado na sua conta? Vai ver você tá rico e nem sabe...

- Ué...Vamu ué...Que horas te pego aqui?

- Que banco que é?

- Bradesco.

- Eu sei onde é. Então te espero lá na porta do banco amanhã às onze horas, tá?

Eu sentia que a buceta dela já devia estar latejando. Esse era o afrodizíaco da morena: Grana. Muita grana!

- Tão tá, tá marcado!

Esperei ela entrar na casa - com um tchauzinho pra mim! – e saí em disparada em direção ao Bradesco. Já sabia o que ia fazer, mas tinha que ser antes das vinte e duas horas, que é a hora que o Caixa Eletrônico do Bradesco desligava.

Cheguei quase na hora de fechar, às vinte uma e quarenta e cinco. Peguei logo um envelope de depósito, assinei um cheque meu no valor de trezentos mil reais, enfiei o cheque assinado dentro do envelopinho de depósito automático, preenchi na solicitação do sistema o valor e pronto. Trezentos paus na minha conta. Bem, pelo menos até descobrirem que o cheque era sem fundo, que ia ser no dia seguinte lá pelas onze e trinta, enquanto eu tirasse o extrato, ia sair os trezentos mil na minha conta, numa parte do extrato que menciona valor pendente. Mas, por incrível que pareça, não vem nada escrito não. Só uns códigos específicos, que só o pessoal do banco conhece, e lá bonitão: SALDO: TREZENTOS MIL REAIS!!

No dia seguite tava eu lá, e onze horas em ponto a Claudinha já até tinha chegado. Toda maquiada, um vestidinho fininho que aparecia até os bicos dos peitos. Calcinha enterradinha naquele bundaço maravilhoso.

- Oi menino rico!

- Oi gatinha! Vamos ali tirar o tal extrato? Na verdade, nem faz muita diferença pra mim se tiver ou não tiver dinheiro. Pior! A presença do dinheiro acaba confirmando a morte do meu tio querido...

- Ahhh! Para de falar! Se tio morreu e ele não ia carregar a fortuna dele pro caixão, ia?Vamos lá ver...Vai, tira o extrato aí...

A Claudinha nem esperou o papelzinho do extrato sair todo, já foi metendo a mão e puxando e quase rasgando. Ansiosa. Nervosa. Mais nervosa que eu, que tinha perdido meu tio. Porra a mentira tá tão convincente que até eu tava começando a acreditar naquela porra...

- Putaquepariu Alê! [ primeira vez que ela me chama por esse nome carinhoso] Tem trezentos mil reais na sua conta! É muito dinheiro! Vamos comemorar! Vamos comemorar!

Rápido como um cowboy de faroeste, eu mandei:

- Vamos sim, mas agora eu não posso mexer nessa grana não porque ainda falta meu advogado confirmar se isso é tudo que cabe à minha parte nos bens. Se eu mexer, e tiver mais grana pra receber eu acabo deixando de receber...Mas meu advogado disse que não vai demorar mais do que umas duas semanas pra resolver isso.

- Ahhh! Que pena! Mas tá bom, o que importa é que a gente já tem garantido esses trezentos né?

“A gente?”-pensei eu. Que mulezinha mais ordinária. Mas o bom é que cada vez que ela, no desespero pelo dinheiro, se abria mais, se mostrava mais filhadaputa, mais diminuía meu sentimento de culpa pela mentirada. E o principal, ainda estava por vir, esplanei:

- Não é porque a gente não pode tirar o nosso dinheiro agora que a gente não vai poder comemorar. Enquanto nós não ficarmos ricos de vez, nós devemos aproveitar a vida de pobre, porque daqui há duas semanas nossa vida vai ser completamente diferente. Só luxo... - falei.

Mandei na lata da vadia:

- Vamos prum motelzinho bem fuleiro que tem aqui perto? Eu quero trepar contigo a noite inteira num colchão bem vagabundo, porque nessas próximas semanas estarão as últimas oportunidades da gente poder curtir essa vida de pobre. Depois não vai dar mais, vai ser só requinte e sofisticação.

Nem fiquei espantado quando ela disse:

- Claro que sim! Vamos fuder num lugar bem sujo, bem rampeiro. Daqueles que tem cheiro de porra velha no lençol, pentelho no travesseiro e carrapato no carpete. E quero que você coma meu cuzinho a noite inteira! Vou chupar seu pau, vou beber sua porra todinha!

Putaquepariu. Fiquei de pau duro ali mesmo, ouvindo aquilo. Quase esporrei na calça. E fomos pro motel.

E a coisa rolou do jeito que ela disse que ia rolar, a noite inteira. Sai de lá com a pele do caralho toda esfolada. Até porrada na cara ela recebeu. Pingo de vela derretida no mamilo e pau enfiado até as bolas no cuzinho. Fiquei arrebentado, dormi o dia inteiro.

No dia seguinte, pela manhã, recebo um telefonema do gerente do Bradesco dizendo que queria conversar urgente comigo. Num tom raivoso, disse que havia um sério problema na minha conta corrente. Eu já sabia mais ou menos do que se tratava, mas fui assim mesmo. Cheguei lá, e o Laércio, esse era o nome do gerente, foi logo me passando um sabão:

- Você sabe o problema que você nos causou fazendo essa brincadeira idiota? Isso se for brincadeira, pois você pode ser processado judicialmente por lesar o banco, alterando nossos fundos internos de investimentos interligados aos depósitos!

Eu não ouvia nada do que aquele mané falava. Só pensava no cuzinho e na bucetinha a Claudinha. Até se eu fosse em cana valeria a pena comer aquela mulher como eu comi.

- E o superávit oscila e blábláblá....

Até que a mala parou de matraquear. E arrematou:

- E o senhor tome mais cuidado da próxima vez que fizer isso, pois sorte sua que a tesouraria do Bradesco é competentíssima e sempre vem mais cedo pra fazer o levantamento dos depósitos. Graças aos nossos excelentes funcionários, o senhor não se meteu numa enrascada ainda maior. Me acompanhe.

Fui seguindo o cara até as baias da tesouraria.

De repente ele pegou no meu ombro e disse apontando para dentro de uma salinha que estava escrita "Chefe de Tesouraria" na porta:

- Agradeça a senhora Claudia, tesoureira experiente, por ter chegado ontem às sete da manhã, detectado o problema e salvado a sua pele. Senão ela ia estar toda esfolada...

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