fracassos

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domingo, 2 de agosto de 2009

ROTEIRISTA DE NOVELA DA GLOBO FRACASSADO






Em dezembro do ano passado, férias escolares e sem centenas de provas de alunos pra corrigir, tempo ocioso de sobra, comecei sem querer a acompanhar as novelas da Globo. Coisa que eu nunca havia feito antes.

Entrei numas de avaliar as características dialogais de um texto tele-dramatúrgico. Como? Parece mentira, mas eu gravava alguns capítulos e transcrevia todos os diálogos dos personagens a fim de tentar perceber as nuances na construção desse tipo de linguagem que tanto fazia (faz) a cabeça dos telespectadores. Ao final de cada capítulo, eu tinha transcritas mais de cinquenta páginas de caderno com as falas, os nomes dos personagens, seus perfis psicológicos e a sua importância na trama.

Parece coisa de solteirão neurótico desocupado misantropo?

E era.

Ficou pior: comprei uma porrada de livros sobre as técnicas e comecei a desenvolver uma novela ( “ Corpo Estranho”, o bizarro título) e criei mais de oitenta personagens, cada qual com as suas características e idiossincrasias que os tornassem verossímeis. Tudo minunciosamente esquematizado: Idéia e conflito, story line, trama, diálogos, conflitos, núcleos principal e paralelos, trama principal, tramas paralelas, relação entre tramas principais e paralelas, construção da sinopse, construção dos diálogos, conflitos, clímax, núcleo em rosácea, herói, arquétipos, protagonistas e personagens paralelos, perfil detalhado de cada personagem, ação dramática, estrutura da história, unidade dramática, cena , cenas românticas,cenas de humor, cenas dramáticas, cenas explicativas, ganchos e tipos de ganchos e, não menos importante, a tal da construção da “escaleta” que é uma coisa difícil pra caralho de fazer ( pela minúncia que exige, dada a sua importância nesse veículo).

Só que a minha insanidade não parou por aí ( nunca para). Fiz a porra da tal novela, com mais de cento e vinte capítulos e ficava interpretando sozinho, em casa, todos os personagens.

Totalmente sem noção da realidade, ao terminar de encenar a minha novela “ Corpo Estranho” em frente ao espelho ( eu era todos os personagens, o diretor, o roteirista e o espectador ao mesmo tempo ), depois de ininterruptos dois meses [três capítulos por dia] , exausto, em delírio, me entusiasmei com a minha pretensa genialidade dramatúgica e botei na minha cabeça (oca) que iria ser co-roteirista de novelas da Globo e fui me inscrever num curso na CAL do Rio de Janeiro ( um centro de artes em Laranjeiras voltado pro teatro e o audiovisual, muito consagrado no Rio, de onde saíram vários atores e roteiristas conhecidos na Globo).

Tava a fim de conhecer novas técnicas específicas na área e mostrar o meu gigantesco talento.

O curso:

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ROTEIRO PARA TV – Iniciantes

Dirigido a pessoas interessadas em ingressar no universo da criação de roteiros para televisão, o workshop tem por objetivo introduzir os conceitos básicos da dramaturgia e transmitir de forma prática as técnicas necessárias para a construção de um roteiro audiovisual. O programa do curso propõe ir além da parte teórica, colocando em prática os tópicos abordados em cada aula, através de exercícios direcionados. 

Ao longo do curso, os alunos terão a oportunidade de roteirizar um conto a ser escolhido pelo ministrante. Com base nesse texto, serão trabalhadas em aula todas as técnicas para elaboração de um roteiro para tv, partindo da escolha do conflito e finalizando com a construção da cena.
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De início,nem fiz a inscrição. Assisti duas aulas só como ouvinte pra ver qual era. O curso, ao meu ver, seria muito interessante, e acabei decidindo fazê-lo, mas, azar de merda fracassado, quando ia voltar ao Rio pra fazer finalmente a inscrição, descobri que a porra da minha conta bancária no Itaú tava negativa e eu tava sem um puto no bolso.

Tive que desistir, por enquanto de fazer o curso que tanto queria.

Porra, mas não me contentei! Eu tinha que por em prática a minha exorbitante verve dramatúrgica ( sobretudo no processo de construção de personagens e diálogos que eu já tinha exercitado pra caralho). Comecei a escrever uma outra novela: “ Caleidoscópio”, pois tinha que continuar praticando a minha talentosíssima capacidade de construir personagens.

** Vai aqui um comentário: todos os adjetivos elogiosos sobre a minha capacidade textual foram de mim para comigo mesmo. Ninguém, além desse que vos escreve, havia lido sequer uma linha de “Corpo Estranho” e “Caleidoscópio”. Um dado bastante importante para por em dúvida minha qualidade como autor, não é?

Mas, desiludido pela decepção de não ter podido fazer o tal curso e principalmente por não ter podido submeter ao crivo de especialistas meu talento noveleiro, encaxotei meus livros técnicos de roteiros e voltei ao ócio.

Ainda ocioso, tendo engordado vinte quilos em dois meses por conta desse processo estapafúrdio de ficar enfurnado em casa escrevendo novelas e comendo só feijoada enlatada, cercado de centenas de latas de cerveja e guimbas de cigarro espalhadas por tudo quanto era canto, me revoltei e decidi sair do ócio. Comecei a fuçar na internet ( contradição em termos: sair do ócio – entrar na internet). Até então ( meados de fevereiro de 2009) eu só usava a net pra ver meus e-mails e postar textos nesta merda deste blog, e eu não conhecia mais nada do mundo virtual.

Eis que recebo um e-mail de um amigo convidando-me para participar como membro de um site de relacionamentos chamado Orkut. Claro que eu já tinha ouvido falar dessa porcaria, mas nunca havia me interessado em saber mais detalhes , muito menos me inscrever. Até porque, eu achei meio estranho colocar fotos minhas, dados pessoais, gostos, preferências, pra gente que eu nunca tinha visto na minha vida poder vasculhar. Me dava a impressão de que eu era uma espécie de personagem de um novelão onde as pessoas pudessem traçar mal e porcamente um suposto perfil psicológico meu sem que me conhecessem de verdade. Uma parada fictícia, estereotipada, mas que as fizessem acreditar que eu existia na real.

(...)

Eureka!

Porra! Putaquepariu! Tava ali a chance de eu botar em prática toda a minha neurose dramatúrgica em construir personagens.

Freneticamente fui criando perfis fakes e alimentando-os com dados para que ficassem o mais críveis possível. Trabalho hercúleo. Criei 126 perfis. Homens de meia-idade, mulheres carentes, transexuais, universitários, adolescentes ( de ambos os sexos), artistas, músicos, acreanos, cariocas, negros, ninfomaníacas, emos, senhoras viúvas, publicitários cocainômanos, estudantes de Direito, donas de casa, ex-presidiários, mulheres petistas com cabelo no sovaco, professores universitários, indígenas, punks, judeus, neonazistas, lésbicas, intelectuais, o caralho a quatro. Toda a fauna humana. As fotos pra colocar nos perfis, eu as roubava de facebooks, fotologs e do google. Imagem, de gente distante que eu nunca vi. Pra cada um desses perfis, eu tinha que adicionar ao menos umas oitenta comunidades de interesse ( que tivesse a ver com o personagem), fazer centenas de amigos e depoimentos de uns sobre os outros a respeito das suas personalidades.

Fiquei fazendo neuroticamente a manutenção do perfil dessas 126 pessoas, num processo completamente insano, onde às vezes um quebrava o pau com o outro por ciúmes de uma terceira pessoa que havia mandado um recado carinhoso ( tudo de fakes meus). Essa trabalheira do cacete só pra dar credibilidade aos perfis.

E deu!

Pior: como evidenciei que esse terreno de sites de relacionamentos é predominantemente recheado de pessoas extremamente carentes emocionalmente, muitas pessoas ( de verdade) começaram a flertar com os meus perfis. E eu sadicamente correspondia. Gente que dizia-se apaixonada. Que falava que éramos ( eles e os meus perfis, que fique bem claro) almas gêmeas. Que tínhamos as mesmas afinidades culinárias, musicais, sexuais, intelectuais, políticas, emocionais, artísticas, o escambau.

A coisa perdeu completamente o rumo. Acabou ficando maior do que a minha capacidade de controlar. Alguns perfis pareciam que tinham tomado vida própria. Emitiam opiniões que não eram as minhas. Marcavam noivado. Trocavam fotos e confidências ( na parte de depoimentos) sem a minha autorização. Esses perfis começaram a usar meus dedos para digitar coisas que eu não queria. Virou uma parada completamente esquizofrênica. Gente de verdade, do outro lado da tela, fazendo planos pra sua própria vida, baseando-se, sem que soubessem, nas emoções de perfis fakes.

Rolaram até pedidos de casamento. Planos para ter filhos. Gente querendo até largar tudo ( casa, família) e mudar de estado para morar com a pessoa amada (o meu fake).

Putz! Que doideira!

Um camarada do Espírito Santo quis depositar uma grana alta na conta de um dos meus fakes ( a Rúbia – 20 anos, universitária, saxofonista, filiada à UNE, carinhosa e tímida) pra que ela fosse morar com ele lá em Vila Velha. Parada sinistra pra caralho. Isso foi se sucedendo com quase todos os perfis. Dezenas de pessoas apaixonadas por gente que não existia. Ou melhor: só existia na minha cabeça. Eu comecei a ficar totalmente bolado. A realidade começou a invadir o terreno da ficção.

Há duas semanas atrás joguei fora as senhas dos 126 perfis. Não havia mais como sustentar aquela novela onde os personagens eram pessoas de carne, osso e sentimentos reais. Teve um demente que chegou a dizer pro meu fake Magdalena ( negra, do lar, mãe de dois filhos, casada mas insatisfeita com a relação, adepta da seicho-no-iê) que se ela deixasse de se comunicar com ele, ele se mataria. Sério mesmo! Sinistão!

Fiquei meio deprimido. Não especificamente pelo mal que pudesse ter causado, ou pela ferida emocional que essas pessoas de verdade estivessem sofrendo pelo amor perdido. Quanto a isso, foda-se. Problema dos(as) otários(as) que acreditam em papo de Orkut. Mas fiquei baixo-astral, sim, porque toda essa trama daria uma puta novela que eu não poderia divulgar, já que se eu desse os nomes e estarrasse geral, acho que ia ter gente querendo me matar de verdade.

Essa novela ia se chamar “Realidade Paralela”.

3 comentários:

Pelathar disse...

Nossa Lé queria te agradecer por esse texto. Eu tive que parar de ler a cada parágrafo pra rir porque quando se ri muito inevitavelmente os olhos ficam fechados e o corpo se curva. hahahahue

Fale com o Emir e veja se vocês podem voltar com o Bacharéis! Tenho saudade dos textos lá. Já viu as visitas? Já estão a quase 100 mil!

Abraços!

nh@ disse...

caramba essa realidade do orkut eu nunca tinha percebido...q doideira! isso é verdade mesmo? =O

to rindo aqui..vc eh doido pra carai

Unknown disse...

Rir? Pôrra! Isso é sério e triste pra caralho! Uma massa bovina desoladamente carente e neurotizada. Uma brincadeira dessas é capaz de revelar o quão profundo é a banalidade da existência humana. Sem querer heiddeguerizar o papo, mas não dá pra rir, de jeito nenhum. Por isso, Merda, você é uma referência nesse uébimundo, um dos poucos capazes de ver além do óbvio patético da existência. Não é pra rir, mesmo. É pra chorar gente...