quinta-feira, 18 de junho de 2009
DEBUTANTE FRACASSADO
[ primeiro investimento no futuro do Merda]
Meu aniversário de quize anos. Coisa linda eu: púbere, inocente, pentelho ralo – sem serem grisalhos - na palma da mão, garoto prodígio terminando precocemente o ensino médio ( o que não foi porra de vantagem nenhuma, já que mantive esse mesmo nível de escolaridade pelos quinze anos seguintes).
Festa?
Apesar de já estar trabalhando [ ver ANIMADOR DE FESTA INFANTIL FRACASSADO], sem um cruzeiro ( a moeda da época) no bolso, miseravelmente resignei-me a passar essa minha data festiva enchendo a cara num botequim qualquer.
Até que sobreveio um fato surpreendente: minha madrinha endinheirada me ligou, de surpresa, perguntando o que eu queria de presente nesta data tão importante. O que eu quisesse nos meus quize anos. Propôs-me baile de debutante. Eu ri na cara dela achando que era sacanagem a tal proposta. Ela não gostou, estava falando sério. Perguntou novamente o que eu queria, o preço que fosse. Carro eu não podia ter. Pilotar a minha tão sonhada Harley Fat Boy eu não poderia devido à menoridade. Roupa eu não rasgava ( não me importava, melhor explicando) e não ia poder dar mole de rasgar essa grana fácil só por ser um miserável pequeno inútil sem ambição. Fiquei atarantado. Que porra de presente caro eu poderia pedir? Eu tinha que aproveitar a chance! Lembrei-me do cometa Harley que tinha acabado de passar no céu. Oportunidade igual aquela só depois de 86 anos. Ela, então, já de saco cheio, propôs uma viagem para a Disney. Eu me lembrei do recente trauma [ releia ANIMADOR DE FESTA INFANTIL FRACASSADO] envolvendo os personagens deste infame parque de diversões e recusei veementemente. Ela insistiu e disse que ia ser legal que eu passeasse nos States, que os filhos dela já tinham ido e que tinham adorado. Me lembrei apavorado do Bafo-de-Onça e recusei novamente. Ela, já puta com a minha falta de ambição, falou que ia me dar a grana correspondente ao preço da passagem, e eu que é decidisse o que ia fazer. Mencionou algo como “ será bom, pois você aprenderá a desenvolver responsabilidade para lidar com dinheiro desde novo”. E me deu a dinheirama.
Se eu fui pra Disney? Coitada da minha madrinha.
Peguei a bufunfa e gastei quase tudo comprando todas – eu disse TODAS – as camisas debochadas que vendiam nos periódicos Almanaque Casseta Popular e Planeta Diário ( eu tinha a coleção completa, até então das revistas). Mais de cento e vinte camisas “engraçadas”. Quem viveu nos anos oitenta, deve se lembrar de algumas frases estampadas nas camisas como: “Ê povinho Bunda”; “ Liberdade é passa a mão na bunda do Guarda”; “ Vá ao teatro mas não me chame”; “ Vote Macaco Tião”, entre outras dezenas de tosqueiras como essas. Eu me achava o máximo andando na rua com aquelas estampas bizarras. Sem um puto no bolso.
Ou melhor, ainda tinha sobrado uma graninha.
Desse restinho de money que sobrou, espertamente eu levei pra torrar no tão sonhado puteiro da minha cidade. A velha cafetina gostou de mim, me achou “fofinho”, e colocou uma piranhazinha da minha idade pra arrancar o meu cabaço ( “cabresto”, melhor dizendo). A inocente pitéuzinho fez o servicinho direitinho, inclusive me passando uma lindinha gonorréiazinha entre outras venéreas adolescentes doencinhas. Benzetacilzinho durante duas semaninhas. Meu piruzinho em carninha vivinha. Fiquei fudidinho.
Exatos vinte anos depois, minha madrinha me liga novamente no meu aniversário perguntando o que eu queria de presente. Como um cara maduro e responsável que já desenvolveu a responsabilidade para lidar com dinheiro desde novo, não titubeei em pedir o presente : uma viagem para a Disney !
Ps> [ ver TRABALHADOR CLANDESTINO NOS STATES FRACASSADO]
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Um comentário:
O mais engraçado foi a letra linda do a-DÔ-lescente no cupom para adquirir uma camisa, rs.
http://dorockaochoro.blogspot.com
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