sexta-feira, 29 de maio de 2009
INFLUENCIADOR DA BANDA SEPULTURA FRACASSADO
[ tinha até capinha a fita-demo da fracassada banda]
Junho de 1989
Na década de oitenta estava no auge decorar a letra de Faroeste Caboclo. Eu odiava Legião Urbana. Pior: eu abominava aqueles moleques e aquelas meninas da minha escola, gente descolada, que ficavam minutos intermináveis cantando aquela merda daquela letra na sala de aula.
Tive, então, uma idéia: montar uma banda semi-cover e fazer uma letra parodiando essa porcaria.
O nome do tal grupo seria Legião Umbanda. Tentei reunir uma galera, mas depois de dois ensaios neguinho sartou de banda alegando medo de mexer com coisas desconhecidas, e que certamente uma legião de espíritos iria nos atormentar pela blasfêmia religiosa.
Crisão , Léo Murunga e Shaolin, se estão me lendo agora: cambada de frouxos!
Os pseudônimos dos membros da Legião Umbanda seriam:
Rezá tá Ruço - eu ( vocalista, filho de Oxossi, afetado, egocêntrico, que recusava-se a rezar pro seu santo e, entre seus acessos brabos de egotrip, autodenominando-se ele próprio um santo, rezava e colocava um despacho para si mesmo no palco);
Dadá do Villa Lobos - Léo Murunga ( guitarrista médium que sempre que subiria no palco evocando o espírito de Villa Lobos. O brasileiro compositor erudito, puto pra cacete por ter seu sossego no além interrompido, baixava, como exigido, no corpo do rapaz ( cavalo: na terminologia do candoblé), mas só de sacanagem faria ele compor na guitarra melodias deprês e chatas pra caralho);
Roberto Bomfim “ ô Maínha” – Crisão ( baterista , filho de Yansã, que sempre no final dos shows desceria do palco e encheria o saco da platéia tentando vender aquelas malditas fitinhas de pulso do Nosso Senhor do Bomfim, repetindo: “compraê ô maínha”, “compraê ô maínha” );
Negrinho Pererê - Shaolin ( baixista que logo seria expulso da banda, num ato claro de discriminação pelos demais integrantes, só por ser preto e incorporar o saci-pererê, tendo que tocar baixo pulando de uma perna só).
Logo em seguida ( agosto de 1989), por conta da cagação de medo da galera, tive que desistir da idéia.
Qual foi a minha surpresa quando, no ano seguinte, 1990, através de um fanzine carioca, underground pra caralho, eu soube de uma nova banda de rock pesado que tratava desses temas afro-religiosos: Gangrena Gasosa.
A Gangrena Gasosa acabou fazendo um sucesso do caralho ( foi até no Jô Soares) pelo Brasil e o mundo afora, e é considerada até hoje como precursora no gênero e até de ter influenciado a fase afro-tambores do grande Sepultura.
Preciso dizer mais? Me fudi!
Só pode ser mandinga do Crisão , do Léo Murunga ou do Shaolin ( que hoje, vinte anos depois, é pastor evangélico).
Um fragmento da canção carro-chefe do meu fracassado grupo Legião Umbanda:
( não parodiei a letra toda porque ia ser uma porra de uma letra quilométrica pra caralho como a original, e acabar enchendo o saco da mesma maneira)
Para este Caboclo
Não tinha medo o tal Tião do Jesus Cristo
Era o que todos diziam quando ele se converteu
Deixou pra trás toda sua crença na Igreja
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Exu lhe deu
Quando criança só pensava em comer doce
Dado em Cosme & Damião do Centro de um tio seu
Adolescente todo ebó ele chutava, Zé Pelintra incorporava
Converteu-se pra Ateu
Ia pra igreja e achava que tava num terreiro
gargalhava num berreiro pras velinhas do altar
Comprou uma capa e um sinistro de um tridente
Foi prum centro de quimbanda e Exu queria incorporar
Ele queria sair para ver o mar
num sonho ele teve uma grande visão
Pra Pomba-gira iria oferendar
uma garrafa de marafo e um charutão
( e por aí vai...)
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3 comentários:
Rapaz, não mexe com isso não. Te falei na época que isso afetaria sua vida toda, ia te levar ao fracasso durante toda essa encarnação, mas você não quis me ouvir....
É! Esse gênero quase criado pela quase banda Legião Umbanda, influênciou outras bandas de BP, como a Esfola Crânio, que misturou elementos Candombleísticos e fez surgir o Saravá-Métal. Já os sarcásticos e ateus da banda Engodo We Trust, ironizaram o gênero Saravá-Métal e criaram o Circus-Métal, já que eles tocavam fast-hardcore com a batera executando retilineamente e, em moto-perpétuo, a levada composta por uma nota na caixa e uma no bumbo, lembrando as quadradas marchinhas infantis tocadas nos Circos. Enfim, esses gêneros hoje já são conhecidos no Rock Internéchional.
(Merchã) Visitem: dorockaochoro.blogspot.com
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