Eu admiro o sucesso. Admiro muito quem faz sucesso. Em qualquer área que seja. A prova disso são as minhas centenas de tentativas fracassadas de fazer sucesso em todas as áreas que conheço, conheci, conhecerei.
Acabei de descobrir, dia desses, que na música popular, mais especificamente no rock, mais especificamente ainda no punk rock, mais, mais especificamente ainda no punk rock romântico, mais, mais, mais especificamente ainda no punk rock romântico adolescente brasileiro, há bandas que fazem esse tipo de som que faz sucesso: o classificado “emocore” [ canções emotivas, sensíveis + hardcore ( subgênero do punk)]. Pejorativamente chamado de “emo” pelos detratores.
Depois falo mais disso, dos detratores. Voltado às vacas frias, esse tal de “emocore” é o que há em termos de sucesso atualmente, arregimentando milhões de fãs pelo país inteiro. Ídolos, os “emos” se tornaram muitíssimos famosos, fascinando as garotas e ,o melhor, ficando cada vez mais ricos, podres de ricos. Eles, ídolos “emos” são adolescentes, senão, pós-adolescentes. Bandas como Restart, Cine, Hori, Fresno, NX Zero e outras, sacodem multidões de teenegers ao embalo melodioso de suas canções.
Falando em podre, em punk e adolescência, lembrei-me da minha.
Anos oitenta, eu, um púbere imberbe, tive em minhas mãos vinis de bandas punk. Identifiquei-me no ato com a anarquia + rebeldia + agressividade das músicas que eram vomitadas pelos auto-falantes do meu toca discos. Vinis,estes, de bandas nacionais como Restos de Nada, Kaos 64, Gonorréia, Cólera, Ação Patriota, DCC, Attack Epilético, Olho Seco, Ratos de Porão, Anarkolatras, Central do Brasil, Escarro Preto, Anal Putrefaction e as coletâneas Sub e Começo do Fim do Mundo.
Virei um punk. Roupas rasgadas e sujas, falta de banho, tachinhas e bottons compunham o visual para me encontrar nas frequentes bebedeiras com os amigos. Dureza. Cachaça. Revolta contra o Sistema. Anarquia em UQ ( Um Quartinho, o lá de casa), onde nos encontrávamos, nós os punks, para escutar no talo, na penumbra do apertado cômodo, os nossos vinis que incomodavam nossos vizinhos e bradar nossa rebeldias sem causas.
Fiz o zine “Rasgue este Zine antes de ler!”
Ainda tenho no meu baú as centenas de zines que eu trocava na época.
Mais under ainda: via zines, obtinha punks obscuros como o Grupo D Risco, um coletivo cultural maranhense e o ultra-under Espelho dos Deuses.
Montei banda. Queríamos gritar para o mundo nossa raiva. Quanto mais pessoas ouvissem o nosso som, mais disseminaríamos o nosso recado mal criado. A banda denominei de “A minha mãe é uma Vadia”. Tocávamos lá no quartinho. Fizemos cassete-demo. Só a família comprou ( exceto as respectivas mães dos componentes). Não rolava show. Nenhum jovem da minha cidadezinha, na época, curtia esse barato além daquela nossa meia-dúzia de fedorentos. Até que me dei conta: só havia homens naquela porra. As meninas curtiam New Wave e outros tipos de rock ( que chamávamos de “farofa”).
Só que, na verdade, enquanto nós os punks comíamos farofa de despacho sem frango, os garotos que tinham bandas que estavam na moda arrastavam as menininhas e tinham “frango-assado” à vontade.
Me vi um Bobão Cuspe, escarrando para o e alto esperando o catarro cair na minha testa de besta. Eu mal tinha cabelo no saco e tava de saco cheio daquela vida de merda.
Tenho até hoje uma tatuagem tosca no braço de um tolete de fezes com moscas rodopiando por cima. Abaixo escrito o borrão “Shit Live”. Ainda não tive grana pra apagar essa merda feita.
Que merda!
Me revoltei com a revolta e voltei a ser o que eu deveria ter sido: um cara que toca roquenrôu pra ganhar grana e comer as menininhas. Uma banda da moda.
Montei a banda “Minha Mãezinha é a melhor Mãe do Mundo”. Mas, justamente aí ( sina de fracassado) inesperadamente, o punk fedorento virou moda. Quanto mais escroto e revoltado, mais o cara fazia sucesso na geral.
Desisti da porra toda. Pro caralho os punks, os não-punks, não ia mais mexer com isso. Decidido e decretado há mais de vinte anos.
Mas, retornando ao começo dessa minha prosa aqui, eu admiro o sucesso. Admiro muito quem faz sucesso. Agora, no ano de 2010, os “emos” são os que fazem sucesso.
Após a minha sucessão de erros, decidi que ia ser “emo” e fazer a porra do sucesso que tanto almejo. Mas pra isso, eu teria que ir direto na fonte e tentar descobrir qual é a tal fórmula milagrosa.
Pesquisei sobre “emos” e descobri que apesar das multidões que movem, há uma grande parte de quem gosta de rock que vive e perde seu precioso tempo ( até para um vagabundo ressentido, a vida é curta) metendo o malho nessas bandas. Eles, os detratores, questionam a heterossexualidade dos integrantes desses grupos. Inveja pura.
Eles, os integrantes de bandas “emos”,moleques que têm idade pra serem os meus filhos, estão milionários e comendo, se quiserem, em um dia, mais mulher do que eu comi a vida inteira ( o que lá, convenhamos, não é muita vantagem...). Mas, fui. Melhor dizendo: busquei. Busquei ir atrás de uma dessas bandas pra trocar um plá com os caras para, tal qual midas, me desses um toque ( ôpa, no bom sentido, é claro) de como fazer a porra do tal sucesso.
Há poucos dias, coincidentemente, houve em Volta Redonda, cidade vizinha à minha, um festival de rock onde a última banda do festival a tocar foi a NX Zero. Acho que a mais amada e odiada de todas desse gênero.
Cara-de-pau + bons contatos + vontade insaciável de conhecer meus novos ídolos = credencial para acessar o camarim dos caras. O que consegui. Levei uma câmera para filmar e registrar umas perguntas que pra mim seriam cruciais e que, se respondidas, serviriam como um manual para que eu montasse uma banda “emo” e fazer “esse u cê ê esse esse esse ó”.
Lá eu, quase quarentão, vestido de “emo”, porta de camarim, papel com as perguntas na mão, disputando a tapas vaga na fila de autógrafos com groupies teens.
Um aparato gigantesco de produtores e seguranças e policiais tentando acalmar-nos ( eu e as groupies teens). Consegui oito segundos com os caras dentro do camarim. Me olharam e acharam estranho aquele trintão barbudo, suado, barrigudo e com o visual todo colorido. Dos oito segundos, três foram eles me olhando estáticos. Em cinco segundos, metralhei:
- Não, não quero tirar fotos! Quero sucesso! Fiz umas perguntas e queria que vocês as respondessem praqui pra câmera, preu aprender com vocês como é ser famoso...
- TEMPO ESGOTADO! METE O PÉ Ô COROA ESQUISITO! - Gritou o produtor da banda, já ordenando aos seguranças que me tirassem.
No último segundo, corri, abracei um por um, com meus olhos marejados de lágrima, e emocionado entreguei aos “emos” o papel com as minhas perguntas.
Fiquei sem saber se eles leram a folha, se jogaram fora, se houve interesse pelos meus questionamentos ou se simplesmente me acharam um bizarro ser decadente e ignóbil.
Só sei que esse foi o contato mais próximo que eu consegui ter com o sucesso.
Chance de uma em um milhão ( melhor eu jogar na mega-sena), mas se algum dos integrantes do NX Zero estiver lendo esse meu desabafo fracassado, eu ficaria muito feliz, feliz pra caramba, coração tum-tum!, se pudesse responder ao menos uma das minhas perguntas. As mesmas que eu entreguei no camarim:
Pergunta 1: (…) Público enorme, produção de primeira, multidão de fãs, muita mulher dando mole...A rotina do NX Zero é diferente da maioria das bandas de rock. Qual a receita do sucesso de vocês?
Pergunta 2: Os babacas que os criticam focam no fato de que o gênero praticado por vocês tem diluído-comercializado elementos do punk. Isso fica patente, por exemplo, na comunidade do Orkut “Emos devolvam o que vocês me roubaram!” É papel do artista, especialmente nas sociedades de massa, organizar os signos linguísticos e reprocessá-los para um formato digerível ( & compreensível) para o grande público. Portanto, não teria sido a habilidade que vocês demonstraram no domínio desses códigos-signos o responsável pela aceitação do “publicão” e a revolta dos “criticuzinhos”?
Pergunta 3: Como bem disse Tom Jobim: “No Brasil, fazer sucesso é ofensa pessoal !”As críticas negativas não seriam motivadas por uma mistura de falta de sensibilidade para captar e interpretar o que há de novo e inovador no trabalho de vocês, ficando esses babacas que os criticam a repetir chavões e frases de efeito que não explanam ou iluminam nada, onde, misturado, há uma evidente inveja do sucesso de vocês?
Pergunta 4: Os ressentidos ( chamemo-los assim) não se conformam com o fato de vocês terem popularizado certos procedimentos musicais, comportamentais ou de visual que eles acreditavam ser uma particularidade deles. E quando vocês levam isso para uma moçada que desconhecia esses elementos, e agora ela, a juventude atual, os incorporou, eles, os cricríticos, ficam revoltados por terem que dividir com quem eles talvez considerem indignos. É uma postura altamente preconceituosa desse pessoal que se acha porta-voz das luzes. O que vocês acham disso?
Pergunta 5: Montei uma banda “emo”, a “Retrovisores do Fracasso”. Uma promissora banda que vislumbra o sucesso e vê o fracasso, esse maldito, ficando pra trás. Vocês se disporiam a ouvir o single que compus, o “Goiabada com Queijo”?
Abraços,
do fã
O Merda Fracassado.
:)
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