quarta-feira, 14 de abril de 2010
CANTINHO DO DESABAFO FRACASSADO
Reproduzo a seguir um e-mail que acabo de receber do meu dileto companheiro de blog http://www.bachareisembaixaria.blogspot.com/ , Lucio Medeiros.
Inauguro e já encerro aqui o “Cantinho do Desabafo”, não pelo texto em si, que concordo plenamente, mas porque se eu for publicar tudo o que todos os pangarés pedem em emeious, essa porra aqui ia virar uma seção de reclamações da revista Contigo. Mas como achei muito procedente o que vai abaixo, publico.
Sem mais.
Parem de me mandar emeious, caralho!
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Sr. Merda Fracassado,
Dias desses recebi um e-mail de um leitor do seu blog reclamando da falta de conteúdo do meu textículo postado neste espaço. Ora, se o tema era a cagada, nada mais natural que da evacuação viesse a vacuidade, né não? Até aí morreu o neves, pensei.
Que fique claro: não escrevo para me defender de uma falta, suposta ou real, de conteúdo do meu, vá lá, trabalho. Sei que aquilo não valia um amém. Sempre achei que o valor da leitura se esgotava nela mesma, sem qualquer necessidade de ser portadora de alguma verdade. Um lance estético. Se alguns curtiram, fiquei satisfeito, se outros não, caguei e andei.
Você já deve ter percebido pelos nossos e-mails sr. Merda que nunca fui grande fã do Leminski. Penso que escreveu coisas boas e ruins. Mas tem um ponto alto: nomear a poesia de inutensílio. Não se trata de comparação já que não me penso, nem me quero, poeta, escritor, artista etc Só que eventuais méritos que alguém possa encontrar nesses e-mails que lhe envio estão justamente no fato de que deles se pode dizer que não valem nem chique nem mique.
É claro que o não dizer nada não significa que o texto seja artístico. Isso muitas vezes depende da habilidade de quem não diz. Só que se cobram de mim ou do senhor Merda conteúdo, aos merdalhões isso passa batido.
Dou exemplos citados de cabeça:
Num jornal do interior seria motivo de chacota uma desnotícia como essa que li anos atrás na Folha de São Paulo: “Já dura cinco dias o seqüestro de um empresário da baixada santista. O seqüestro não havia sido informado antes a pedido da família. Assim também o nome do seqüestrado não será divulgado para não atrapalhar as negociações.” Não é uma notícia fantástica? Revolucionária eu diria. Subverte a lógica de que jornal é o produto mais perecível disponível no mercado, só servindo para embrulhar peixe no dia seguinte. A obra de arte que transcrevi acima poderá ser reimpressa ad infinitum.
Mas no terreno da “arte” é que temos verdadeiras pérolas. Nesse campo, onde as subjetividades mandam muito mais que qualquer apreciação objetiva, QUEM diz se impõe sobre o QUE se diz. A vontade de parecer profundo (conteudístico) produz várias pérolas do non sense involuntário. E o público apupa ou aplaude a pabulagem conforme o nome. Para demonstrar o que falei vou me restringir ao universo dos poetas da canção popular e, dentre esses, a exemplos pegados ao léu:
Jorge Mautner: “a pipoca da pororoca da imaginação permanente.” Essa monumental bobagem foi dita em um depoimento a um documentário sobre as relações entre musica popular e poesia.
Chico Buarque: “o meu amor me chamou/ para ver a banda passar/ CANTANDO coisas de amor” Banda marcial cantando?!?
Luís Melodia: “lava roupa todo dia/ que agonia/ na quebrada da soleira/ que chovia ...” a música se chama Juventude Transviada. Tudo a ver, né?
Se exibindo como caras lidos, produzem um troço laido. Mas quem se atreve a dizer que o Mautner um idiota? Que o Chico não é grande poeta de que tanto dizem? Que o Melodia é incapaz de juntar lê com crê? Eu digo e não me importo que ninguém me ouça. Azar de uns, sorte de outros.
Sem querer me comparar ao Millôr, esse sim um gênio, aliás um dos poucos que esse país produziu, sei que “tudo que digo, acreditem,/teria mais solidez/ se, em vez de carioquinha,/eu fosse um velho chinês.”
O e-mail já está ficando muito grande, por isso encerro por aqui.
Não sem antes de lembrar que de minha parte continuarei cagando e andando para qualquer tipo de chateação. Enquanto o senhor permitir, continuarei obrando naquele espaço.
É isso.
Abração do
Lucio
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Um comentário:
Sinistro nosso amigo Lucio. Enquanto isso, Paulo Coelho segue best seller. Viva o Brazil!
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