Depois de várias tentativas frustradas, com outras bandas em que participei, de buscar novas estruturas musicais ( rala-bucho, mambo, catingulê, chorinho e psichobylly), em fevereiro de 1994, acabei descobrindo que não precisava delas para expôr minhas idiossincrasias sonoras. Sozinho, compus o cd “A-Música”, com uma banda que denominei de “Os Invisíveis”.
Um cd inteiro só de silêncio, com uma estruturação que prescindisse os parâmetros melodia e harmonia, sendo apoiada exclusivamente nas durações. O tempo foi eleito o único fator determinante nas música, pois seria capaz de incluir os silêncios como objetos estruturáveis, coisa que uma concepção baseada em notas musicais não era capaz, subvertendo a idéia de que uma música, para ser música, obrigatoriamente deveria ser uma seqüência de sons precisasse de melodia, harmonia e ritmo.
Quinze faixas em que cada uma, com o seu tempo determinado, era de puro silêncio. Músicas que não possuíam nenhuma nota, sendo compostas inteiramente por pausas.
Para testar os limites de minha criação, fui pro quintal da minha casa, coloquei o fone com o meu disckman da CCE e ouvi todo o cd dentro de uma caixa de geladeira de papelão, revestida por papel laminado e forrada por caixas de ovos, que chamei de câmera paranóico-anecóica, construída de tal modo a cancelar todos os ruídos ambientes ( principalmente os pancadões funk que meu irmão ficava ouvindo no talo). Ainda assim, não consegui ouvir o silêncio absoluto. Conseguia ouvir um barulho: o ruído do meu próprio coração.
Eu precisava, então, parar meu coração. Mas aí eu pensei bem e percebi não ia das certo, já eu não ia conseguir saber se o silêncio arbitraria, pois, com o coração parado, eu não estaria mais vivo.
Mas o cd ficou pronto.
E não vendeu nenhum.
Dois anos depois, gravei o cd “Os Invisíveis – ao vivo”, que, intercaladas entre as canções-silêncio, ouvia-se apenas os sons dos aplausos da vibrante platéia.
Outro fracasso de vendas.
Mas ainda tenho dezenas de cópias guardadas, pra quem quiser comprar ouví-lo ( ou não-ouví-lo, sei lá!)
( A capa do cd "Os Invisíveis - ao vvo" )
( a contra-capa do cd ao vivo)
( o cd)
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
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Um comentário:
Depois das experiências de John Cage e de um século de modernismo pré-doravante-pós este é, sem dúvida, o cd síntese da vanguarda pós-retrô-tecno-conceitual-concretista como diria nosso amigo MC Marcão. A genialidade aqui é vulgar. Bonapetit! cambada.
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